sábado, 12 de junho de 2021

A Mão que Mata (Lourenço Seruya)

Um mês após a morte do patriarca da família, os seus três filhos reúnem-se para tratar das partilhas. O local é a casa em Sintra onde o pai viveu e que um dos irmãos pretende comprar. Mas o que devia ser um encontro tranquilo transforma-se em tragédia quando a tia Manuela é encontrada morta. E, ainda que a teoria do assalto seja a explicação mais fácil de adotar, não é essa a opinião de um dos inspetores responsáveis pelo caso.
Parte do que torna esta leitura cativante é a forma como o autor consegue construir uma identidade própria a partir de uma estrutura relativamente conhecida. A ideia so crime misterioso cuja resolução está nos segredos dos presentes na casa é, de certa forma, um clássico, mas o autor dá-lhe uma voz diferente ao transpor para Portugal um enredo normalmente mais frio e ao substituir o habitual detetive pelos procedimentos de um grupo de inspetores da Polícia Judiciária. Além disso, se inicialmente a fórmula parece familiar, o desenrolar dos acontecimentos não tarda a abrir portas a uma sucessão de inesperados, o que rapidamente torna a leitura viciante.
Outro equilíbrio particularmente notável resulta da multiplicidade de perspetivas, acompanhando não só o percurso da investigação, mas também o dos suspeitos. Estes vários pontos de vista vão deixando pistas para a identidade do culpado, mas apontam também em vários sentidos diferentes, o que contribui em muito para manter o mistério vivo até ao fim.
E há ainda a questão pessoal, não só aplicada aos motivos do crime, mas sobretudo à vida particular de Bruno. Além de revelar uma personagem profundamente humana, com os seus defeitos, mas essencialmente com o coração no sítio certo, insinua enigmas do passado que sugerem, talvez, um possível regresso.
Da soma das partes, fica, pois, a impressão de uma reconstrução moderna do mistério clássico. E uma leitura cativante, intensa e cheia de surpresas. Muito bom.

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