sábado, 27 de outubro de 2012

A Vitória de Orwell (Christopher Hitchens)

As ideias, o contexto político, a visão - sua e dos outros - relativamente à escrita. São estes alguns dos elementos que constituem este ensaio que, não sendo uma biografia, já que desenvolve mais interpretações e contextos que propriamente os factos da vida do autor que lhe serve de tema, proporciona, ainda assim, uma nova perspectiva da obra de George Orwell. Perspectiva que, em alguns aspectos, reflecte o autor do ensaio - principalmente nas opiniões em tom algo agressivo que manifesta sobre outros autores - mas que, independentemente desse facto, apresenta muito de interessante e enquadra a obra num contexto mais vasto, possibilitando uma melhor interpretação.
Basta considerar Mil Novecentos e Oitenta e Quatro para notar a possibilidade de muitas interpretações de contexto político na obra de Orwell. Não surpreende, portanto, que essas mesmas questões políticas constituam parte considerável do que é abordado nesse ensaio. Citando parte do muito que foi dito sobre Orwell e a sua obra, o autor apresenta a forma como ele era visto nos diferentes quadrantes políticos, bem como o papel que as suas ideias terão desempenhado no seu tempo. O resultado é uma visão bastante completa - ainda que algo densa - das forças políticas em acção na época, mas também dos paralelismos que é possível estabelecer entre a obra e algumas situações reais com pontos semelhantes (sendo de destacar, neste aspecto, a descrição de Hitchens de alguns elementos da vida na Coreia do Norte).
Mas nem só da política vive este ensaio - ou, pelo menos, não directamente - e o autor debruça-se sobre outros aspectos da obra de Orwell. Considera a forma como os seus trabalhos foram encarados quer pelas feministas (referindo algumas das críticas mais ferozes), quer pelo povo ingês em geral (com uma curiosa abordagem ao que o torna "tão essencialmente inglês). Aborda ainda a visão de Orwell e de outros relativamente ao seu trabalho, com a avaliação dos seus romances relativamente aos ensaios e a forma como o seu pessimismo foi encarado através do tempo. 
De tudo isto, fica a impressão global de um ensaio completo e esclarecedor, que, independentemente das posições pessoais do autor e da forma como estas transparecem ao longo de toda a obra, permite uma visão muito mais clara da obra orwelliana. Não é uma leitura fácil, até porque a quantidade de pormenores torna ainda mais denso o tom em que é escrito o ensaio, mas apresenta, de facto, muito de interessante e uma perspectiva muito mais completa da obra de Orwell no contexto do seu tempo. Vale a pena ler, portanto.

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