domingo, 21 de outubro de 2012

Povo que Lavas no Rio (João Fernandes)

Por amor, Pedro deixou para trás toda a sua vida e fechou-se, durante sete anos, na casa de uma família inglesa. Durante sete anos, nunca de lá saiu, vivendo entre a concretização dos seus deveres e os pensamentos que o levam até à sua Inês, a quem o seu imenso e absoluto amor é destinado. Pedro é o mordomo de uma casa cheia de segredos, os seus, os dos seus companheiros e os das pessoas que serve. Mas a chegada de Juliet Montgomery, filha do dono da casa, irá abalar a tranquilidade dos seus dias e a sua história tomará também os amores e as dores dos que os rodeiam. Da jovem mulher que o ama, mas por quem nada quer sentir. Do companheiro que a ama a ela, sem que ela o veja. E do próprio Pedro, procurando Inês numa cidade imensa, quando finalmente decide deixar a clausura que se impôs.
Surpreendente nos melhores momentos, mas com um tom divagativo que, por vezes, faz com que seja difícil seguir a linha dos acontecimentos, este é um livro que deixa sentimentos ambíguos. Tem o potencial para uma boa história e vários momentos bem conseguidos e uma escrita que, nos seus momentos mais poéticos, consegue ficar na memória. Mas tem também o efeito negativo de uma declaração de amor que, referida até à exaustão, apaga a visibilidade dos outros acontecimentos e das restantes personagens, tornando-se demasiado vago, nalguns aspectos, e muito repetitivo noutros.
Grande parte do enredo centra-se no protagonista. E ele que narra à história, sob a forma de um longo discurso à sua muito amada Inês e é através dele que todos os acontecimentos, seus e respeitantes aos que o rodeiam, são revelados. Isto contribui para que, nos grandes momentos, a história tenha aquele tom pessoal que desperta alguma empatia. Mas também tem um lado negativo e este está nas muito longas expressões de amor que permeiam todo o romance, atenuando (talvez em demasia) o impacto de momentos que têm, à partida, maior relevância. Além disso, ao centrar-se ainda e sempre na sua Inês, o narrador e protagonista deixa para segundo plano todas as situações e mistérios que dizem respeito aos donos da casa. O passado dessas personagens e, principalmente, as intrigas que entre eles permanecem, surgem como um interessante complemento à dominante história de amor, mas ficam, de certa forma, incompletos, já que a mente do protagonista os afasta ante as suas próprias preocupações.
Fica, por isso, uma ideia de dispersão. A escrita é, no geral, cativante e há, de facto, momentos muito bem conseguidos, sendo um deles o final bastante forte, mas a força dessas situações acaba por se perder nas longas elaborações introspectivas que o protagonista apresenta para o seu amor e as suas dúvidas. E é pena, porque há bastante potencial na história e os melhores momentos são realmente muito bons. 

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