quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Muralha (Paulo de Sousa Ribeiro)

Pedro é um advogado bem sucedido em Lisboa, mas a morte da mãe, depois de uma estranha visita, fará com que regresse à terra de nasceu. Aí, o irmão, um padre que já não acredita em Deus acaba de tomar conta da paróquia quando um caso macabro o coloca sob suspeita. Uma criança foi atacada e, quando interrogada, indicou o seu abusador como sendo o padre da aldeia. Todas as suspeitas caem, então, sobre César, e cabe a Pedro encontrar uma forma de provar a inocência do irmão. Mas o caso é apenas parte de uma rede mais poderosa e muitos culpados serão descobertos... ainda que, talvez, nem todos.
Em igual medida envolvente e perturbador, este é um livro que cativa, principalmente, pela forma como o enredo mantém a curiosidade do leitor, ao mesmo tempo que aborda, com maior ou menor profundidade, vários assuntos relevantes. Neste aspecto, sobressai desde logo a questão da pedofilia na igreja católica, já que grande parte do enredo se centra no que será um desses casos. Mas há também outras questões relevantes, como a fé e a perda desta e a forma como, fora dos tribunais e antes de qualquer prova efectiva, o julgamento é consumado, pela opinião pública, à mínima suspeita. Tudo isto acontece ao longo de uma história que, apesar de relativamente breve, consegue levantar várias questões relevantes e conjugá-las com uma narrativa de ritmo intenso.
Para a envolvência do enredo contribui também a capacidade do autor de manipular a percepção e as emoções que são transmitidas a quem lê. O papel de César no centro de todo o caso é, ao que tudo indica, ao de um inocente que se vê acusado de um crime que não cometeu, mas o autor joga com as suspeitas e as possibilidades, quer do que vêem os protagonistas, quer da percepção da gente da aldeia, quer, ainda, dos poderes por detrás da situação, mantendo em aberto todas as hipóteses, numa história que cresce em intensidade a cada nova revelação e que culmina num final tão surpreendente como arrepiante.
Quanto a pontos fracos, importa referir, essencialmente, pequenos erros a nível de escrita, nomeadamente na construção de algumas frases mais longas e nas gralhas que vão surgindo ao longo do texto. Não sendo abundantes ao ponto de prejudicar a leitura, são, ainda assim, evidentes e seriam facilmente corrigidas com uma revisão atenta. É pena, porque acabam por dispersar um pouco a atenção do leitor.
Partindo de um ambiente quase leve, esta é uma história que se torna mais intensa e mais sombria a cada nova revelação, conjugando mistério e emoção numa narrativa em que, por mais empatia ou aversão que possam despertar, há personagens que não são o que parecem. Uma história cativante e perturbadora, que, apesar de algumas pequenas falhas, vale a pena ler.

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