quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Balanço de 2015

2015. Ano de mudanças (algumas), de novos projectos (também), de pequenas descobertas e de grandes aventuras. Passou depressa, sim. Mas trouxe coisas boas. E porque um bom ano não é um bom ano se não tiver também boas leituras, estas foram as melhores de um total de 210 livros lidos este ano. 


De entre muitas boas leituras, esta foi, sem margem para dúvidas, a melhor do ano. Porquê? Porque tem tudo o que me fascina num livro. Um mundo complexo e muitíssimo bem construído, um equilíbrio praticamente perfeito entre todos os elementos (da intriga à acção e, principalmente, à emoção) e um conjunto de personagens brilhantes. Junte-se a isto que conheci neste livro uma das minhas personagens preferidas - sim, o Kelsier - e está basicamente tudo dito.


Preparem-se para ver mais vezes o nome de Laini Taylor nesta lista. Este livro, que encerra a trilogia, leva a história a um pico de intensidade e de emoção, que reforça todas as boas características que já vinham dos livros anteriores (e que vou referir mais à frente). Intenso, comovente, maravilhosamente escrito, ficou-me na memória bem depois de terminada a leitura. Adorei.



Will Trent. Quase que bastava como motivo para ter este livro aqui. Complexo, incrivelmente vulnerável, mas, ao mesmo tempo, capaz de tanto, Will é mais uma das minhas personagens favoritas. Mas, a somar a isto, temos uma história cheia de surpresas e reviravoltas, e uma escrita que, apesar do ritmo mais pausado que o habitual no género, nunca deixa de cativar. E se basta Will Trent para fazer com que a leitura valha a pena, o resto acrescenta o que faltava para fazer deste Fraturado um livro brilhante.


Com um cenário apocalíptico, mas centrado, acima de tudo, nas pessoas e naquilo que as leva a continuar a lutar, este livro lindíssimo marca, acima de tudo, por aquilo que nos faz recordar. Sobreviver não chega para se ter uma vida a sério. E, mesmo no mais terrível dos cenários, o que nos torna humanos continua a ser claríssimo.


Eu disse que ia voltar a falar na autora. Este é o início da trilogia, e o ponto em que tudo é misterioso e surpreendente. Há algo de intrigante no mistério de Karou, no mundo em que se move e naquilo que está a acontecer em seu redor. E há já a tal base de intensidade e de emoção que continuará a crescer nos livros seguintes, mas que é já neste livro muitíssimo marcante. 



Ao mesmo tempo um policial surpreendente e um verdadeiro hino à literatura, também este livro marca tanto pelas reviravoltas surpreendentes - e, oh, se são surpreendentes - como pela forma como as próprias personagens vão sendo construídas ao ritmo da intriga. Camille Verhoeven é um protagonista fascinante e a verdadeira dimensão do papel que tem a desempenhar no mistério é algo de absolutamente impressionante


Este foi um livro que excedeu todas as expectativas. Sabia de antemão que ia ser uma boa leitura, ou não fossem todas as opiniões que tinha lido tão positivas. O que não estava à espera era de encontrar mais uma personagem para a minha lista de favoritos incondicionais. André Marques-Smith é, tanto pela personalidade como pela história que protagoniza, um indivíduo absolutamente memorável. E escusado será dizer que as expectativas para os volumes seguintes são, por isso, ainda mais elevadas.


Há algo de estranhamente cativante no contraste entre amor fulgurante e guerra total que define o cenário onde os protagonistas deste livro se movem. Além disso, na sua estranha dualidade de amante e mercenário, Eliah Al-Saud revela-se como uma personagem verdadeiramente fascinante. Junte-se a isto todo um conjunto de momentos intensos - principalmente os mais emotivos - e o resultado é, no mínimo, emocionante.


E mais Laini Taylor. Apesar de funcionar, em certos aspectos, como volume de transição (deixando, para algumas coisas, mais perguntas que respostas), há neste livro uma nova perspectiva para a visão global do que está a acontecer. Assim como a já expectável emoção que torna tudo tão cativante. 


História de uma morte iminente e de tudo o que lhe está associado, este é um livro que, ao mesmo tempo, cativa e perturba. Com uma protagonista fascinante e uma história onde aquilo que é dito é tão importante como o que fica por contar, abala convicções, desperta sentimentos. E, principalmente nos momentos mais sombrios, grava-se profundamente na memória.




E assim foi mais um ano em (boas) leituras. Para o ano que se segue, ficam os desejos do costume. Sonhos, sucesso, desejos realizados. Que tudo - na vida, como nos livros - seja sempre o melhor possível. 

Até para o ano! ;)

terça-feira, 29 de dezembro de 2015

História do Livro e Filologia (Artur Anselmo)

Nomes, factos, ideias, entidades. A história do livro, na construção física ou no pensamento. É este o tema central de um conjunto de ensaios que, centrados numa figura em particular, ou na visão mais geral de um tema específico, permitem uma visão mais ampla do livro, enquanto objecto e enquanto veículo de transmissão de um pensamento. E é este todo que fica da aglomeração dos vários ensaios que faz deste conjunto uma leitura tão interessante.
Uma das primeiras coisas que é preciso dizer é que, para quem não tiver um conhecimento relativamente vasto sobre estes temas (como é, na verdade, o meu caso), esta não vai ser uma leitura fácil. Há todo um conjunto de referências, a obras ou a personalidades, que, para quem não tiver algum conhecimento prévio, vão exigir alguma pesquisa para que as ideias sejam completamente percebidas. Além disso, muitos dos ensaios têm como base um tema bastante específico, o que, por si só, exige conhecimento e concentração.
Dito isto, a vastidão do conhecimento aqui transmitido é muitíssimo interessante, tanto no que respeita às figuras referidas, como à ideia global com que, apesar das especificidades, é possível ficar no que respeita às complexidades da história da literatura. Há muito a retirar do vastíssimo conhecimento que o autor aqui transmite, e muito a aprender. E isso basta para fazer com que a leitura valha a pena.
E, claro, importa referir a escrita, que, num tipo de texto em que a informação é tanta e tão complexa, permite uma leitura fluída e de fácil assimilação. Claro que a multiplicidade de nomes, figuras e assuntos exige tempo - e a já referida concentração. Mas a forma como o autor transmite as suas ideias nunca se torna demasiado densa. E isso faz com que, mesmo não se sendo um especialista no tema, seja possível ficar com uma visão muito clara das ideias globais.
Não é uma leitura fácil, é certo. Mas, esclarecedor e agradável de ler, vastíssimo no conhecimento que transmite e muito interessante na forma como, a partir de cada texto, permite ficar com uma ideia muito clara da evolução das ideias e dos métodos através do tempo, trata-se, sem dúvida, de um livro que vale a pena ler. Muito interessante.

Título: História do Livro e Filologia
Autor: Artur Anselmo
Origem: Recebido para crítica

domingo, 27 de dezembro de 2015

Um, Dó, Li, Tá (M.J. Arlidge)

Quando Amy surge dos bosques, num estado lastimável e afirmando ter matado o namorado, todos tiram a conclusão mais óbvia. Houve alguma discussão, o namorado levou Amy para algum sítio remoto com segundas intenções e a coisa acabou por correr mal. Qualquer coisa, menos a história que a própria Amy tem para contar. Raptada por uma desconhecida, juntamente com o namorado, viu-se perante uma escolha impossível: matar ou morrer. A situação é inacreditável... mas real. E o caso que surge poucos dias depois acaba por o provar. Cabe, pois, agora, à detective Helen Grace e à sua equipa encontrar o padrão que lhes permitirá apanhar a assassina. Mas as respostas são bem mais difíceis do que o esperado...
Capítulos curtos, um estilo de escrita que é, no geral, bastante directo e uma história em que os verdadeiros contornos do mistério vão sendo revelados de forma muito gradual, definem o primeiro de vários contrastes bem evidentes neste livro. O contraste entre a quase simplicidade da forma de narrar os acontecimentos e a capacidade de, nesse estilo simples e directo, conter todo o impacto de cada revelação. A emoção, o perigo, a sensação de algo terrível prestes a acontecer. O medo das vítimas, a impotência dos investigadores, a sempre delicada teia de factos e de emoções que liga ao passado ao presente. Tudo se entrelaça num equilíbrio delicado e a forma como, na escrita como no enredo, o autor constrói este equilíbrio é algo de fascinante.
Outro contraste claro é o que surge entre as diferentes situações que dão forma ao enredo. O caso, desde logo, que, na alternância entre a perspectiva das vítimas e dos investigadores, permite uma visão mais ampla das coisas, ao mesmo tempo que abre caminho para grandes surpresas. Mas também a vida pessoal das personagens, principalmente de Mark e Helen, cuja relevância acaba por ser tão grande para a resolução de alguns mistérios.
Mas o maior contraste - e a grande força deste livro - é a construção das personagens, com destaque, claro, para Helen Grace. Mulher forte, eficiente no seu trabalho, mas atormentada por algo do passado que leva a que partes da sua vida não sejam assim tão fáceis de alcançar, Helen é uma personagem capaz de despertar empatia e admiração. E, ao situá-la no centro de um caso que tem tanto de misterioso como de pessoal, o autor reforça o impacto das acções - e das escolhas - da sua protagonista, fazendo com que todas as descobertas - bem como as pequenas coisas que são deixadas em aberto - acabem por ter relevância.
Intrigante desde as primeiras páginas e surpreendente em todos os momentos, este é, pois, um livro que facilmente se torna viciante. E que, com as suas personagens fortes e o crescendo de tensão que se vai construindo a cada nova pista, se entranha na memória do leitor bem depois do virar da última página, deixando muita curiosidade em saber o que se segue no caminho de Helen Grace. Recomendo.

Título: Um, Dó, Li, Tá
Autor: M.J. Arlidge
Origem: Aquisição pessoal

Vencedor do passatempo Irmandade

E terminou mais um passatempo. Agora, é chegada a altura de anunciar quem, de entre os 33 participantes, vai receber em casa um exemplar do livro Irmandade.

E o vencedor é:

11. Jorge Martins (Castelo de Paiva)

Parabéns e boas leituras!

sábado, 26 de dezembro de 2015

Ambição (Lurdes Feio)

Francisco Mortágua conseguiu, finalmente, o que desejava. É ministro. Mas está longe de imaginar que a política que idealizou a partir dos livros é muito diferente da política real. O partido tem interesses - e amizades - que é preciso defender, e todos esperam que ele utilize a sua influência. Além disso, Francisco não é propriamente um adepto da monogamia e os seus múltiplos casos amorosos são, obviamente, uma ameaça à sua reputação. Como se não bastasse, descobre-se apaixonado por uma jornalista e incapaz de pensar noutra coisa que não seja conquistá-la. Passa a ser esse o seu objectivo, a sua missão. Mas consegui-lo pode muito bem ser o início da sua queda.
Dividido entre as intrigas dos corredores do poder e a história de uma relação extra-conjugal, este é um livro que tem como grande ponto forte a relevância das questões que aborda. Por um lado, a questão dos comportamentos pouco éticos na política, com todas as manobras e intrigas que lhes estão associadas. Por outro, as infinitas possibilidades de traição - por colegas, por amigos, por amantes - quer na vida pessoal, quer na profissional. Há uma boa dose de realidade nesse romance e, por isso, bastante a ponderar. E é precisamente esse o aspecto que mais marca nesta leitura.
Quando ao enredo, surpreendem as mudanças de direcção que vão surgindo ao longo da leitura, no que começa por ser a história de um ministro idealista a descobrir a realidade, evolui depois para o desenvolvimento de um caso amoroso e culmina na possível resolução de um mistério. A história adquire, assim, diversas facetas, que, no todo, tornam as coisas mais interessantes. E, se os desenvolvimentos iniciais avançam a um ritmo relativamente pausado, a intriga do final torna-se quase viciante.
Quanto às personagens, não é fácil sentir grande empatia por elas. Marta, a mulher divorciada e incapaz de perdoar a traição do ex-marido, acaba por se aproximar do mesmo papel que tanto odiou. Quanto a Francisco, e apesar de todas as suas aspirações à seriedade, revela-se acima de tudo nas suas transgressões. Não são propriamente personagens de quem se goste, sendo que o mesmo acontece com várias figuras secundárias. Mas é curioso notar que, apesar desta óbvia distância, as reviravoltas do enredo conseguem, ainda assim, manter viva a curiosidade em saber o que vai acontecer a seguir.
A soma de tudo isto é um livro que, apesar de despertar sentimentos contraditórios, consegue, apesar disso, proporcionar uma leitura envolvente e agradável, ao mesmo tempo que põe em evidência algumas questões relevantes - da política e da vida em geral. Interessante e surpreendente, uma boa história.

Título: Ambição
Autora: Lurdes Feio
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Nos Limites do Infinito

Mistérios, terrores, aventuras onde nada é o que parece. Histórias em que o sobrenatural se sobrepõe à realidade quotidiana, abrindo caminho a novas possibilidades. Assim são os contos que constituem este pequeno livro e que, cada um à sua maneira, conjugam as mais estranhas - e mais interessantes - ideias para proporcionar uma boa leitura. 
O primeiro conto, Sorte ao Jogo, de Ana Luiz, fala de um esquema de jogo em que quem planeava vencer corre o risco de sair derrotado. Intrigante, cativa principalmente pela aura de mistério que, desde logo, anuncia que algo de ominoso está para acontecer, mas que se prolonga o máximo possível. Deixa algumas perguntas em aberto e, por isso, uma sensação de curiosidade insatisfeita, mas não deixa por isso de ser uma boa história.
A Pele de Penélope, de Ângelo Teodoro, fala de uma história de amor e da barreira intransponível que separa os seus protagonistas. Envolvente, primeiro pelo mistério de Penélope e depois pelas consequências da sua revelação, surpreende pela forma como desperta emoção, mesmo nos momentos em que não é difícil adivinhar o que se segue. Além disso, há uma muito agradável fluidez na escrita que parece ajustar-se na perfeição ao ritmo dos próprios acontecimentos.
Segue-se Memórias de Teddy, de João Rogaciano, história de um famoso urso de peluche, cujo percurso através da história deixou marcas indeléveis nos seus anteriores donos. Surpreendente acima de tudo pela mudança de registo, correspondente à descoberta da diferença entre o que parece ser e o que realmente é o famoso Teddy, um conto bem escrito, muitíssimo interessante na voz que confere ao protagonista, e cativante na forma como os diferentes tempos da história se conjugam.
A Casa da Rua dos Mirtilos, de Ricardo Dias, fala de uma visita a uma casa assombrada - e de tesouro que nela se esconde. Apesar de ser um conto em que se sente a brevidade, no sentido em que talvez pudesse haver mais a dizer no desenvolvimento do enredo, trata-se, ainda assim, de uma história cativante e de leitura agradável, em que o papel dos livros na história e a forma como este é descrito facilmente despertam um sorriso.
A Colina que Olha para Ti, de Rui Bastos, fala de dois entes complementares, que, apesar da sua relação complicada, não podem ser separados. Ou, pelo menos, um deles não o aceitará. Intrigante, primeiro, pelo rumo dos acontecimentos, e depois pela explicação que lhes é dada, uma leitura cativante e surpreendente, com um toque de emoção a contribuir também para tornar as coisas mais intensas.
E, por fim, Entre Estações, de Yves Robert, fala da descoberta de uma casa e do segredo do tempo no seu interior. Cativante e enigmático, surpreende também pela mensagem que nos recorda o que verdadeiramente importa. Com uma escrita envolvente, constrói grandes expectativas e corresponde-lhes em cada revelação. Ficam, é certo, algumas explicações por dar. Mas não são assim tão necessárias.
Cativante e criativa, independentemente da brevidade, trata-se, pois, de uma antologia que, através de um conjunto de contos cheios de potencial (tanto na escrita como nos enredos), abre um bom caminho para a sempre surpreendente aventura de descobrir novos autores. Muito interessante.

Título: Nos Limites do Infinito
Autores: Ana Luiz, Ângelo Teodoro, João Rogaciano, Ricardo Dias, Rui Bastos e Yves Robert
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Feliz Natal!


Sonhar um pouco mais,
acreditar que o melhor ainda está, algures, à espera no nosso caminho, 
erguer ao alto o coração da esperança
e abrir portas a um futuro que nos traga sempre um pouco mais de luz...

Que estes dias sejam de esperança, de alegria e de amor, e que o ano que aí vem traga projectos e concretizações, surpresas e descobertas de aquecer o coração, novos sonhos, novas ideias, nova luz... e todo um mundo de histórias e de reinos para descobrir, nas páginas de um livro como na vida.

Feliz Natal a todos os que por aqui passam e que o ano que se segue seja sempre melhor.

Boas Festas!

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Um Desejo por uma Estrela (Trisha Ashley)

Na sua vida, Cally tem uma única preocupação: garantir que a filha tem o tratamento de que precisa para ter uma vida normal. Mas os médicos não lhe dão grandes esperanças e a única alternativa que lhe resta é uma operação experimental - e altamente dispendiosa - nos Estados Unidos. Ainda assim, Cally não está disposta a baixar os braços e, com a ajuda dos amigos, dedica-se de alma e coração a angariar os fundos de que precisa. Vende também o apartamento e Londres e muda-se para a casa da mãe, sem saber que será aí a encontrar a capacidade de mobilização necessária para conseguir o dinheiro que lhe falta e o apoio de um amigo que, com tanto em comum com ela, pode muito bem vir a tornar-se em algo mais.
Sendo esta uma história que se divide entre uma amizade que se torna romance e a luta pela salvação de uma criança, sabe-se à partida que a conclusão não vai ser muito surpreendente. Mas a verdade é que também não é preciso que o seja e, se é certo que partes do enredo são bastante previsíveis, também é verdade que os momentos emotivos e divertidos, bem como a leveza da escrita e a mensagem global de esperança e de união compensam amplamente essa previsibilidade. Aliás, o final pode ser o esperado - mas não deixa por isso de ser o mais adequado.
Na verdade, grande parte do encanto desta história vem mesmo da caracterização das personagens, ainda que a história seja também, nos seus melhores momentos, muitíssimo enternecedora. Jago e Cally, tão parecidos nos gostos e tão complementares em personalidade, criam uma relação que parece ter tudo para correr bem. Mas, mais que isso, uma relação que cresce gradualmente e que assenta na amizade que os une, tornando-se assim mais sólida e credível. Mas há mais personagens cativantes, a começar, desde logo, por Stella, mas também por outras personagens mais discretas, como a ligeiramente extravagante Queenie Honey. 
Porque quase todas as personagens têm algo de cativante, e porque todas convergem para a situação de Stella, há nesta história um elemento que não encaixa. Ou melhor, dois. Os ex-noivos de Jago e Cally, que parecem acrescentar ao enredo um elemento de tensão, acabam por nunca encaixar inteiramente na situação, desaparecendo da mesma forma brusca como apareceram, e sem que a sua história fique inteiramente esclarecida. Ainda assim, e apesar do papel que desempenham na vida dos protagonistas, Aimee e Adam são, na verdade, personagens bastante secundárias, pelo que o seu desaparecimento abrupto acaba por fazer um certo sentido.
Importa ainda referir o interessante equilíbrio entre o lado emotivo e o lado divertido da história. Há vários momentos de ternura, e também vários episódios mais ou menos caricatos. E, juntos, conferem uma agradável leveza a um enredo que, não sendo propriamente surpreendente, consegue, ainda assim, ser muito cativante.
E assim se resume, no fundo, esta leitura: uma história em que o final é bastante fácil de adivinhar, mas em que a viagem é mais importante que o destino. Cativante, divertido e comovente, um bom livro para esta época do ano.

Autora: Trisha Ashley
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Novidades Planeta para Janeiro

Nico avisara-os. A passagem pela Casa de Hades despertaria as piores recordações dos semideuses, os seus fantasmas ficariam inquietos. Nico pode, de facto, tornar-se um fantasma se tiver de viajar de novo pelas sombras com Reyna e Hedge. A alternativa, porém, pode ser pior, pode levar à morte de alguém, tal como Hades previu. 
O fantasma de Jasão é a mãe, que o abandonou em pequeno. O semideus pode não ser capaz de provar que é um líder, mas sabe que não quebrará, como ela, as suas promessas, sabe que completará a sua parte da profecia: Pela tempestade ou pelo fogo o mundo deve cair.
Reyna teme os fantasmas dos antepassados, que irradiam raiva e ódio, mas não pode permitir que a impeçam de levar Atena Parténos para o Campo dos Mestiços antes que a guerra estale entre romanos e gregos. 
Terá força suficiente, em especial com um caçador mortal nos calcanhares? 
Leo teme que o seu plano não funcione, que os amigos possam interferir, mas não há outra maneira. Todos sabem que um dos Sete tem de morrer para que Gaia, a Mãe Terra, seja vencida.

Um passado imoral é uma maldição e uma bênção.
Lorde Joshua Dane é um homem com um passado perverso. Um romance apaixonado com a mulher errada conduziu-o a um duelo escandaloso, marcou-o como um patife e levou-o a abandonar Inglaterra. 
Agora que a guerra acabou e regressou, contando que a desaprovação implacável da sociedade se tenha aplacado, o destino prega-lhe de novo uma partida.
Quando a irmã foge com um canalha, ele intervém, mas os sussurros obstinados que se seguem podem de novo ditar o seu futuro. 
Lady Charaty não tinha muita escolha quando tenta evitar um desastre, mas a acção acaba por se transformar numa série de escândalos que podem destruir a sua reputação. 
Ela é inocente e Lorde Joshua decerto não pediu uma calamidade, mas são ambos apanhados num turbilhão de mal-entendidos. 
Mas com o desenrolar dos acontecimentos percebe que os segredos obscuros que esconde são complexos e uma ameaça paira não só para ensombrar alguma felicidade possível mas talvez mesmo contra as suas vidas...

Depois de um longo dia de trabalho, de várias tarefas e afazeres que tomam o nosso tempo, nos causam stress e ocupam a nossa mente e motivação, todos precisamos de um tempo para descontrair e revigorar o coração. Para muitos de nós, o período que antecede o sono é esse 
momento. 
Pensando nisso, 365 Orações para Dormir Melhor apresenta orações diárias, uma para cada dia do ano, para que possa falar com quem realmente pode ouvi-lo e resolver os seus anseios, sejam de ordem pessoal, familiar, espiritual ou profissional. 
De maneira rápida, objectiva e transformadora, estas orações fá-lo-ão descansar tranquilamente, ao colocar nas mãos de Deus aquilo que inquieta a sua mente e o seu coração. 
Através da oração, estabelece-se o diálogo com o transcendente e, mediante esse diálogo, aliviam-se as ansiedades, os medos e os problemas, até conseguir uma sensação de paz interior, sossego e bem-estar.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Mundo Inverso (N.V. Cardoso de Mendonça)

Tudo começa com um dia normal, mas de um momento para o outro, tudo muda. Como em todos os outros dias normais, Jack foi à escola, mas o regresso fá-lo perceber que o mundo já não é o mesmo. Uma civilização alienígena acaba de estabelecer contacto, e esse foi tudo menos amigável. As exigências são claras. Ou lhes entregam milhões de crianças para os seus estudos, ou toda a humanidade será exterminada. A escolha é impossível, mas não escolher não é opção. E Jack está decidido a não ser apenas mais um no meio do caos.
Se tivesse de atribuir a este livro uma classificação numérica de zero a dez, teria de a dividir em dois aspectos: cinco pelo potencial, mas apenas dois pela concretização. E o porquê desta divisão é simples. É que, tendo em conta que este é um livro de um autor muito jovem, há, de facto, várias boas ideias nesta muito breve história, mas há também um longo caminho a percorrer. 
Mas vamos por partes. Aquilo que se destaca nesta leitura são, acima de tudo, as ideias. Não é que uma invasão alienígena seja algo de particularmente novo, mas a forma como o autor aborda a situação, com ameaças e ultimatos antes da invasão e do possível extermínio, e depois, na fase final, com um toque de mistério a despertar a curiosidade para o que virá a seguir, consegue, apesar de tudo, revelar o potencial de uma boa história. 
A construção da narrativa, essa, revela algumas fragilidades. A mais evidente é a pressa com que tudo é contado, com o contexto e os acontecimentos a serem resumidos em poucas linhas e os motivos e emoções deixados por explorar. Neste aspecto, a impressão que fica é a de se resumir em cinquenta páginas uma história que justificava bem umas trezentas. Tudo é demasiado rápido e, por isso, tudo é distante. Além disso, esta pressa deixa demasiadas pontas soltas por explorar.
O outro ponto fraco é a escrita, que parece ter sido ditada pelo rimo do pensamento. Há gralhas e erros ao longo do texto, erros estes que uma revisão atenta facilmente resolveria. E falta  trabalho na construção frásica, já que o ritmo da narração é, quase sempre, demasiado confuso.
Fica, apesar de tudo isto, a curiosidade em saber o que se segue, e é talvez essa curiosidade o aspecto mais relevador do potencial da ideia. E, por isso, o que fica da soma de partes é a impressão de uma história que podia ser algo de muito bom - com algum trabalho. 

Título: Mundo Inverso
Autor: N.V. Cardoso de Mendonça
Origem: Recebido para crítica

Passatempo Irmandade

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a autora Mariza Martins, tem para oferecer um exemplar do seu livro, Irmandade. Para participar basta responder às seguintes questões:

1. Como se chama a protagonista de Irmandade? 
2. Em que ano nasceu Mariza Martins?
3. Qual é o título do primeiro livro da autora?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 26 de Dezembro. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por email e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

Resultado do passatempo de Natal

E chegou ao fim mais um passatempo, desta vez com um total de 64 participações. E quem vai receber o pack de livros oferecidos pela Editorial Presença é:

6. Maria Magalhães (Grijó)

Parabéns e boas leituras!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Lunar Caustic (Malcolm Lowry)

Bill Plantagenet tem um problema de alcoolismo e, depois de, ao que tudo indica, ter perdido tudo, dá por si num hospital psiquiátrico, sem perceber muito bem o que aconteceu ou o que o rodeia. É aí que conhece a verdadeira loucura, a de um abismo em que os sãos e os loucos não são assim tão diferentes. E é também aí que percebe que a estrada para a recuperação pode ser impossível quando se tem tão pouco a perder.
Denso, elaborado e tudo menos linear, este é um livro difícil de descrever. Talvez porque, sendo uma história sobre a loucura, confunde, em muitos momentos, a realidade e o delírio, fazendo com que as personagens e os acontecimentos deixem de parecer reais. Ou talvez porque, enquanto reflexo dessa loucura, seja feito mais de momentos do que propriamente de uma linha narrativa definida. Independentemente disso, o certo é que é um livro que, apesar da brevidade, exige máxima concentração e nem assim deixa de ser difícil de assimilar.
Claro que a estranheza faz sentido - e estranheza é coisa que não falta neste livro. O protagonista acaba de aterrar, sem saber bem como, num hospital psiquiátrico, e é apenas expectável que aqueles que o rodeiam reflictam algum tipo de delírio. Mas chega-se a um ponto em que toda a história se funde numa sucessão de histórias improváveis, de momentos delirantes, de uma realidade onde é, afinal, a loucura o elemento universal. 
Sim, isto levanta questões pertinentes, sendo a maior de todas a força ou fragilidade da fronteira que separa a sanidade da loucura. Mas a verdade é que é tal a fusão entre o real e o imaginado na mente das personagens que tudo se torna confuso. E, por causa da confusão, tudo se torna distante. Acaba por ser difícil sentir seja o que for pelas personagens.
No meio de tudo, sobressai a escrita, que, sendo também ela densa e exigente, acaba por cativar pela fluidez com que se adapta aos ritmos confusos do enredo. Nem sempre é fácil compreender a história, e muito menos o é entender as personagens. E, apesar disso, há frases que ficam na memória, e a sensação de uma estranha harmonia na forma como dá voz a tanta loucura.
A impressão que fica de tudo isto é a de um livro confuso, que, no seu estranho reflexo da loucura, se torna, por vezes, quase impossível de assimilar por completo. Ainda assim, há algo de cativante em toda a sua estranheza. E isso basta, apesar de tudo, para prender a atenção.

Título: Lunar Caustic
Autor: Malcolm Lowry
Origem: Aquisição pessoal

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Mandalas e Outros Desenhos de Natal para Colorir (Antonio F. Rodriguez Esteban)

Livros de colorir para adultos. Foram uma das minhas descobertas deste ano e um importante contributo para a descoberta de que, apesar da minha falta de jeito para as artes visuais, consigo obter um resultado decente neste tipo de livro. E porque vivemos tempos natalícios, nada melhor do que um livro de colorir com desenhos de Natal. Este.


Antes de passar aos desenhos propriamente ditos, há dois aspectos interessantes que importa referir sobre este livro. Primeiro, é de capa dura, num formato não muito grande, mas perfeitamente adequado ao tipo de desenho, e muito apelativo. Além disso, e ainda que - obviamente - sejam os desenhos a essência do livro, tem também umas quantas citações de tema natalício que acrescentam algo mais ao livro. 


Mas passando aos desenhos. Como já disse, não sou propriamente um grande talento nas artes visuais e devo dizer que este livro corresponde bastante bem às minhas preferências. Os desenhos são desafiantes quanto baste - mas suficientemente acessíveis a alguém com tão pouco jeito como eu. Além disso, há uma certa diversidade de estilos e de graus de dificuldade, o que faz com que haja muito por onde escolher.


E, claro, é um livro com desenhos de Natal, o que faz com que seja especialmente adequado a esta época do ano. Mas há outro aspecto interessante: é que, apesar do tema natalício, e de todas as imagens que lhe estão associadas, surpreende a capacidade de apresentar, sem fugir muito ao tema, algo de novo em cada página. Sim, há renas e árvores de natal e presentes e tudo o que se espera de um livro com desenhos de Natal. Mas a forma como estes elementos são combinados nunca é repetitiva. E isso acaba por ser também bastante cativante.


Fica por isso esta sugestão natalícia que, com os seus desenhos bonitos - e, sim, porque é Natal - me tem vindo a fazer companhia nesta nova aventura pelo mundo dos livros de colorir. Recomendo!



Título: Mandalas e Outros Desenhos de Natal para Colorir
Autor: Antonio F. Rodriguez Esteban
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A Noiva do Marquês (Tessa Dare)

Depois de oito anos à espera do regresso do noivo, Clio Whitmore está decidida a tomar as rédeas da sua própria vida. Herdou um castelo, por isso tem os meios para o fazer. A única coisa que lhe falta é a assinatura do irmão do noivo nos documentos de dissolução do compromisso. Mas Rafe Brandon não está interessado a fazer-lhe a vontade. Muito pelo contrário. Decidido a manter a sua liberdade e mais que disposto a livrar-se das responsabilidades de gerir os bens do irmão, Rafe quer que o casamento aconteça o mais rapidamente possível e está disposto a tudo - mesmo que isso implique ser ele a organizar o casamento - para levar Clio a mudar de ideias. O problema é que Clio não é apenas a noiva do irmão, e os sentimentos que tem por ela e que sempre tentou ocultar são cada vez mais fortes...
Uma das coisas mais interessantes neste género de livro é a capacidade de, partindo de uma história centrada,  na relação romântica entre um casal, com todas as dificuldades e obstáculos que lhe estão subjacentes, acrescentar algo de novo a um enredo do qual, à partida, se adivinha o fim. É esse o desafio e, por isso, é na capacidade de construir uma jornada agradável e de surpreender ao longo do percurso que se encontram as forças deste tipo de história.
Este livro tem essas forças centradas, essencialmente, em dois aspectos: na capacidade de criar proximidade com os protagonistas, seja nos momentos de humor, seja nos de emoção, e no percurso de querelas e mal entendidos que acaba por abrir caminho ao romance. Estes dois pontos acrescentam ao romance algo de único, que diferencia esta história de todas as que com ela têm alguns pontos em comum. E, claro, fazem com que a leitura seja mais cativante.
É muito das personagens que vive a alma desta história, sendo elas, por isso, o aspecto mais interessante. Rafe e Clio, claro, tão diferentes, aparentemente, mas complementares em tantos aspectos, cativam não só pela relação que têm um com o outro, mas principalmente pelos factos que definem as suas personalidades. Mas também as figuras que os rodeiam, tão capazes de despertar empatia (como a estranhamente encantadora Phoebe), como uma certa aversão (como é o caso do cunhado de Clio). O que é certo é que, mais ou menos adoráveis, todos têm um papel a desempenhar na evolução da história. E se, sobre alguns deles, ficam algumas perguntas sem resposta, ficam também vários traços memoráveis. 
E depois há um enredo cheio de peripécias, com os preparativos do casamento no centro dos momentos mais divertidos, e a luta de Clio pela sua liberdade enquanto mulher a motivar vários momentos comoventes. Momentos que são mais que suficientes para compensar os poucos em que a posição de algumas personagens - com um claro destaque para Daphne - consegue ser um tanto ou quanto irritante. Ainda que servindo um objectivo, é certo.
A soma de tudo isto resume-se de forma muito simples. Uma leitura agradável e cativante, com personagens fortes e uma história divertida e surpreendente nos momentos que realmente importam. Uma boa leitura, portanto.

Título: A Noiva do Marquês
Autora: Tessa Dare
Origem: Recebido para crítica

domingo, 13 de dezembro de 2015

O Espião Português (Nuno Nepomuceno)

Com um cargo de responsabilidade no Ministério dos Negócios Estrangeiros e uma boa relação com o ministro, André Marques-Smith é uma estrela em ascensão. Tem também uma vida secreta. Enquanto agente de uma organização semigovernamental de espionagem, André está habituado à mentira e ao perigo, mas isso não é um problema. Trabalha com os melhores e também aí é eficaz no que lhe compete fazer. Mas aproxima-se a missão que vai dar a volta à sua vida. Tudo começa com a recuperação de um conjunto de documentos pertencentes ao antigo projecto de um investigador russo. O que se segue é a descoberta de que nada - ou quase - é aquilo que julgava ser.
Deixem-me começar por resumir de forma muito simples o que este livro tem de bom: tudo. Da escrita ao enredo, passando pela construção das personagens e à forma como o autor nos transporta para dentro dos acontecimentos, há em tudo isto tanto de brilhante e um equilíbrio tão bem construído que bastam algumas páginas para impressionar. O livro prende - e prende depressa - e não larga até às últimas linhas. Tudo é interessante. Tudo é surpreendente. E, mais uma vez, tudo é bom.
Mas vamos por partes. E de tudo o que este livro tem de marcante, há algo que se destaca acima de tudo o resto: a construção do protagonista. André Marques-Smith é um indivíduo fascinante. Capaz e competente em ambas as vertentes profissionais da sua vida, mas longe de ser perfeito, é uma personagem capaz de despertar, em partes iguais, fascínio e empatia. Enquanto espião, mostra capacidades consideráveis, mas também a falibilidade que o torna humano. Enquanto indivíduo, revela toda a sua complexidade. Forte, mas vulnerável, em certos aspectos. Com o coração e os valores nos sítios certos, não hesita em fazer o que tem de fazer, mas reconhece-lhe e assume as consequências. Constante no seu papel, mas consumido pelas marcas do passado, demonstra tanto as forças como as fragilidades.
E, deste delicado equilíbrio entre as várias facetas da vida - e da personalidade - de André emerge outra das grandes forças deste livro. Trata-se, no essencial, de uma história de espiões, com todas as situações de acção e perigo - e muito bem construídas, diga-se de passagem - que se esperam de um livro deste género. Mas é muito mais do que isso. Na história de André, são tão importantes as missões como a vida para lá da agência. A vida familiar e as desilusões do passado revelam o homem por detrás do espião, o que, além de dar forma a um enredo muito mais completo, dá um novo impacto a alguns dos momentos vividos em missão. A história ganha profundidade com este equilíbrio entre as duas partes da vida de André. E ganha também uma maior intensidade.
Mas falemos de surpresas, porque surpresas são algo que não falta neste livro. Numa história em que quase todos têm um segredo escondido ou um ponto de viragem à sua espera, é quase inevitável que haja algo de inesperado para acontecer. E a verdade é que, tanto nas missões de André como na sua vida particular, há todo um conjunto de surpresas - vindas do passado ou do presente - que conferem à história um maior impacto. Junte-se a isto a questão dos documentos - e toda a missão a eles associada - e o resultado é simplesmente viciante.
Repleto de acção, mas com momentos de uma emotividade impressionante, com um protagonista memorável e uma história à sua altura, equilibrado em todos os aspectos, e por isso mesmo fascinante, eis, portanto, um livro que não posso deixar de recomendar. Intenso, surpreendente e viciante do início ao fim, uma estreia brilhante. 

Título: O Espião Português
Autor: Nuno Nepomuceno
Origem: Recebido para crítica

sábado, 12 de dezembro de 2015

Divulgação: Irmandade, de Mariza Martins

“Quem me dera que ele me tivesse morto. Seria tudo tão mais fácil. Todavia, não morri, por isso, irei algum dia renascer das cinzas?”
Jade conquistou uma segunda oportunidade; uma  nova vida, obrigando-a a integrar uma comunidade secreta residente na Ilha de Skye, cujas verdadeiras origens remontam à constelação de Draco.  Rebelde e de espírito livre, Jade é confrontada com os demónios do seu passado, com as emoções do seu presente e com os perigos que ameaçam o seu futuro, assim como o de toda a comunidade.
Irmandade é um Romance Fantástico que alia aventura, romance e misticismo, abordando o poder do amor-próprio, a busca pela felicidade e pela liberdade. Entra neste mundo fantástico, pois a Irmandade e os segredos que nela se escondem esperam por ti!

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Deixa-te de Amarguras (Lucía Taboada e Raquel Córcoles)

Estão a ver aquelas alturas em que os nossos próprios pensamentos são os nossos piores inimigos? Pois é, é mais comum do que parece. Seja porque o físico já não é o que era, porque as incertezas profissionais são mais que muitas, porque a vida pessoal não é bem o que sonhámos ou porque não é possível prever o futuro (mas coisa boa não é, de certeza), há todo um conjunto de pensamentos e percepções negativas a ameaçar dominar-nos a vida. E como é que se lida com isso? Bem, é a isso que este livro pretende responder.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro, mais até do que a própria premissa, é o aspecto visual. Profusamente ilustrado, num estilo que complementa na perfeição o texto, chama a atenção, ao mesmo tempo que proporciona uma abordagem mais leve a um assunto que, em certos aspectos, até pode parecer banal, mas que está muito longe de ser simples. Além disso, este equilíbrio entre texto e imagens permite visualizar melhor as ideias que vão sendo apresentadas, tornando-as mais fáceis de assimilar.
Outro aspecto interessante é o facto de, apesar de ser também, à sua maneira, um livro de auto-ajuda, ter uma abordagem um pouco diferente a isso da auto-ajuda. Se há algo que este livro têm em abundância é humor, o que, por si só, permite reflectir nas coisas - principalmente na vertente mais fatalista de se ver o mundo - de uma forma mais leve. Junte-se a esta leveza o equilíbrio entre as diferentes facetas abordadas no texto - aspecto físico, vida emocional, stress e capacidade de relaxar - e o resultado acaba por ser uma perspectiva bastante ampla e interessante.
Claro que há uma diferença entre a teoria e a prática e, nalguns aspectos, fica a impressão de que essa diferença não é assim tão pequena, principalmente no que diz respeito à questão do aspecto físico. Ainda assim, e apesar de uma boa parte do livro se dedicar à construção de um plano de actividades específico, é perfeitamente possível retirar do livro apenas aquilo que parece ser útil a cada caso em particular - e deixar o resto de parte. Também isto acaba por ser interessante, pois abre espaço a uma abordagem mais pessoal da parte de quem está a ler. 
Leve, divertido e com uma perspectiva simples quanto baste - mas não demasiado simplista - das possíveis estratégias para lidar com os pensamentos negativos, trata-se, portanto, de um livro diferente dentro do género. E isso, bem como a forma como as suas diferentes facetas se equilibram, é mais que o suficiente para fazer com que esta leitura valha a pena. Gostei.

Título: Deixa-te de Amarguras
Autoras: Lucía Taboada e Raquel Córcoles
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

A Alvorada dos Deuses (Filipe Faria)

À procura de respostas que acabem com a sua crise de fé, Berardo de Varatojo viaja até à distante Thule, onde espera encontrar num manuscrito os esclarecimentos que lhe faltam. Mas o que lhe acontece é ver-se raptado por um grupo misterioso, cujos membros alegam ser deuses antigos e que dele esperam que lhes abra as portas do paraíso que lhes foi vedado. Numa viagem difícil, atormentado por visões que lhe parecem blasfemas e recebendo dos seus captores apenas ódio ou cordialidade forçada, Berardo vê-se perante provações superiores às suas forças. E tudo acabará em sangue, pois foi assim que começou.
Narrado do ponto de vista do protagonista e centrado em grande medida na sua jornada, este é um livro que, com o seu ritmo pausado e a habitual escrita elaborada, dificilmente se poderá considerar de leitura compulsiva. Apesar da relativa brevidade, há uma grande componente descritiva, que, associada às introspecções do protagonista e a uma distância emocional que apenas aos poucos se vai atenuando, impõe à narrativa um ritmo relativamente lento. Ainda assim, e se é certo que leva mais tempo a entrar no ritmo da história, também é verdade que o ritmo pausado acaba por reflectir a longa provação do protagonista - acabando, assim, por se ajustar à história.
Além disso, a tal distância motivada pelas elaborações da escrita e os muitos pormenores acaba por se dissipar à medida que os acontecimentos ganham intensidade. A princípio, é a confusão do protagonista que sobressai, mas, com o evoluir do enredo, as muitas informações narradas na fase inicial acabam por revelar a sua relevância, contribuindo para uma melhor percepção do todo. E também as personagens acabam por se revelar um pouco, afastando-se da distância inicial e da dualidade entre os mártires e os vilões para mostrar, no fim de tudo, a possibilidade de uma conclusão diferente.
Há ainda um outro aspecto curioso nesta história. É que o percurso do protagonista, perdido no cerne de uma quase guerra entre deuses, se aproxima, em certos aspectos, do de um outro conhecido redentor. Há uma série de paralelismos entre o percurso de Berardo e o do seu "cristo branco", o que torna as coisas particularmente interessantes, tendo em conta o facto de a viagem de Berardo ser, em primeiro lugar, motivada por uma crise de fé. Além disso, a forma inesperada como tudo se conclui confere aos últimos capítulos uma intensidade especial. 
História de um possível martírio ou de um regresso dos antigos deuses a um tempo que já não é seu (ou será?), trata-se, portanto, de um livro que, apesar da estranheza e da distância iniciais, acaba por conseguir cativar para a sua história. No fim, fica a impressão de se ter acompanhado o protagonista, partilhado da sua confusão e feito, de certa forma, as mesmas descobertas. E é esta proximidade depois da distância que acaba por ser o mais marcante nesta leitura.

Autor: Filipe Faria
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro A Alvorada dos Deuses, clique aqui.

Divulgação: Sonho de Liberum, de Susana C. Júdice

Preparada para se tornar líder do Reino de Essentia, Gweniver vê a sua vida invadida por uma profecia tornada realidade: ela é a escolhida, com ligação aos cinco elementos mágicos e o principal alvo de Galium, um rei maléfico obcecado em impedir o cumprimento da profecia.
Do meio do caos surge Dominic, um misterioso soldado determinado a proteger Gweniver, até com a própria vida. Juntos vão tentar desvendar a localização das flechas mágicas, enfrentando perigos inimagináveis com a missão de derrotar a ditadura de Galium.
O amor que cresce entre ambos poderá ser a salvação ou a perdição da profecia e, ainda, a morte de Gweniver...

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Jesus Cristo Bebia Cerveja (Afonso Cruz)

Rosa sempre ouviu a avó dizer que devia deixar o Alentejo e ir para Lisboa. Mas é naquela terra, que é tudo o que conhece, que está tudo o que lhe resta. Os tempos são de dificuldades, as gentes lidam com a estagnação da única maneira que sabem - uns orando, outros pintando poesia nos muros alheios, outros ainda encontrando o amor nas pequenas coisas - e Rosa tem bem presente o grande sonho da sua velha avó. E se é impossível levar Antónia à Terra Santa, então que se leve a Terra Santa até Antónia. Ou a melhor imitação que for possível fazer.
Há algo de estranhamente fascinante - e de estranhamente... estranho - na forma como este livro, com todas as suas peculiaridades, se entranha na memória. Com um cenário onde a simples universalidade da miséria se conjuga com um conjunto de figuras e acontecimentos únicos, parte de um conjunto de personagens invulgares para lhes criar uma história onde muito pode ser familiar, mas nada é previsível. E é tudo tão estranho, mas tão incrivelmente equilibrado, que até o mais incompreensível se torna natural.
A história assenta na realidade de uma aldeia pequena, e é fácil reconhecer nela as bases de qualquer meio semelhante. Mas, da aparente normalidade, surgem as peculiaridades, sejam elas as estranhezas da forma de vida da inglesa ou as invulgares aspirações intelectuais do professor. Mais uma vez, tudo é estranho, mas tudo é cativante. E, de estranheza em estranheza, as coisas vão evoluindo, abrindo caminho a um final que, tão intenso e inesperado, mas tão ajustado ao percurso das personagens, facilmente se torna memorável.
E depois há a escrita. Também ela repleta de peculiaridades, de frases invulgares; reflectindo a estranheza da narrativa a que pretendem dar voz, mas de uma fluidez viciante, confere à história toda a vida de que precisa para realçar os seus melhores traços. E espelha na perfeição as falhas e vulnerabilidades de um meio feito de gente imperfeita.
Trata-se, pois, de um livro em que tudo se conjuga num equilíbrio delicado. Estranheza e universalidade, a simplicidade das gentes e a complexidade das suas circunstâncias, uma escrita que tanto é directa como poética, e uma narrativa em que o percurso de cada indivíduo dá forma à história do todo. A soma de tudo isto nunca poderia ser menos que memorável. Recomendo.

Título: Jesus Cristo Bebia Cerveja
Autor: Afonso Cruz
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Divulgação: Lua do Lobo, de MBarreto Condado

Quando a noite cai sobre a Terra com o seu manto de sombras, é na luz da Lua que encontramos protecção. Dentro destas paredes somos uma Irmandade. As escolhidas. De nós é-nos exigida lealdade, altruísmo, coragem. 
Sob o símbolo da Cruz vivemos e nele confiamos. Somos treinadas desde cedo para sermos guerreiras. Guardiãs de um dos maiores segredos da Humanidade. Mantendo os seres da escuridão afastados, a nossa força reside na nossa união. Escolhidas pelo sangue, unidas pela vontade.
Seguidoras das artes antigas. Descendentes da ordem. Chegará a hora em que seremos chamadas para fechar um ciclo. Sob o olhar atento das nossas mentoras e dos nossos protectores. 
Será com a chegada da lua que se aproxima que iremos provar a nossa pretensão ao lugar que nos está reservado pela nossa linhagem. Colocadas às diversas provas que ditam o nosso futuro. Mantendo viva a memória de quem nos antecedeu.
Um coro de Irmãs que se juntarão nesse dia. Vindas do Norte, do Sul, do Oeste e de Este para presenciarem a nossa queda ou ascensão. Irmãs que não se abandonam. Desde sempre unidas pelo único amor impossível de quebrar. O da verdadeira Irmandade.
Com os Homens vindos do Norte há tantas Luas atrás, responsáveis pela nossa protecção. Marcados pelo símbolo da cruz, pela força, perseverança, experiência, coragem. Iremos descobrir a verdade dos nossos sentimentos. Lutaremos lado a lado. Até que o último fique de pé.
“Espero por ti, conto contigo. Com a tua força, sageza, protecção. Por ti lutarei, proteger-te-ei. Meu temido companheiro.” 
Nas noites em que o grito se faz ouvir, e se nos gela o coração, quando os nossos olhos nos parecem querer enganar, apoia-te em quem se encontra ao teu lado, pois dependemos dessa união. Se sentirmos aquele arrepio que nos avisa que algo nos segue. Devemos correr para a protecção do que conhecemos.
Pois o que nos observa com ódio incontido, não terá por nós a mesma comiseração que nós teríamos.
As almas negras estão à espera de uma ordem que não tardará em chegar. Mas quando chegar, confiaremos em quem nunca nos abandonou.
Pois será com a mudança da Lua, que se iniciará a tão almejada dança dos tempos, os minutos já estão contados. 
E quando à noite o Lobo uivar o sinal está dado, prepara-te porque já começou.
E só nós te poderemos ajudar.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Kaya África (Adelaide Passos)

Quando abandona a sua terra natal para se juntar ao marido em Moçambique, Sara espera que a despedida temporária. Leva consigo a filha e a certeza de que o seu lugar é junto do marido. Mas está longe de imaginar que o apelo da grande África fará com que ela sinta aquele novo mundo como o seu verdadeiro lugar. Aí sofrerá a perda e trará novas vidas ao mundo. Aí fará amizades capazes de durar uma vida inteira e aprenderá a aceitar a mudança do mundo. Mas, em tempos conturbados e com uma guerra prestes a acontecer, Sara precisará de aprender outra grande lição. Tudo muda. Nada dura para sempre. 
Construído como um romance, mas feito em grande parte de memórias, é na vastíssima caracterização da época em que tudo acontece que está o grande ponto forte deste livro. Das condições de vida nas aldeias do norte às dificuldades enfrentadas pelos colonos em África, passando pelas relações entre brancos e negros e pelas inevitáveis mudanças de mentalidade, a autora percorre, ao longo deste livro, todo um conjunto de questões relevantes que, no seu todo, traçam um retrato muito claro do que seriam a vida e a forma de estar desse tempo.
Esta extensa contextualização, que implica, inevitavelmente, uma considerável componente descritiva, faz com que a narrativa avance a um ritmo mais pausado. Além disso, a história expande-se do percurso de Sara e dos seus conhecidos para os dos filhos e netos de todos eles, tornando-se assim mais complexa e abrangente. Mas há algo de particularmente interessante nesta forma de percorrer a história através do caminho individual das várias personagens, pois permite assimilar toda a informação - e todas as questões que lhe estão associadas - ao mesmo tempo que reflecte o impacto emocional das circunstâncias dessas personagens.
Apesar de ser fácil sentir empatia para com as personagens nos seus momentos mais difíceis, nem sempre é fácil compreender as suas posições, que, reflexo da mentalidade do seu tempo, são, em certos aspectos, muito diferentes do pensamento dominante nos nossos dias. Questões como o racismo e o papel da mulher na sociedade, bem como outros aspectos da vida política do tempo, reflectem-se nas personagens com perspectivas muito vincadas e, à luz dos dias de hoje, nem sempre fáceis de assimilar. Isto cria alguma distância, é verdade. Mas, tendo em conta a época em que decorre a narrativa, não deixa de fazer algum sentido.
Saga familiar e retrato de um tempo e de um contexto repleto de mudanças, este é, portanto, um livro que consegue ser, ao mesmo tempo, muito interessante do ponto de vista informativo, e cativante na forma como relata a vida das suas personagens. Envolvente e interessante, uma boa leitura.

Título: Kaya África
Autora: Adelaide Passos
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

1001 Factos Fixes e Bizarros (Nick Bryant e Glen Singleton)

Curiosidades, factos, dados inesperados... Coisas fora de série, em suma. É isso o que este livro promete - e basta ler o título para o saber - e é precisamente isso que apresenta. Uma lista de 1001 factos mais ou menos caricatos, alguns mais conhecidos, outros mais surpreendentes, mas todos eles muito interessantes.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro é o aspecto visual. Sendo um livro destinado a um público mais jovem, o equilíbrio entre o texto e as ilustrações é um dos primeiros aspectos a cativar para a leitura. É também um dos aspectos mais bem conseguidos deste livro, já que acrescenta à simples lista dos factos uma série de imagens - também elas, digamos assim, "fixes e bizarras" - que tornam o conjunto muito mais interessante. Acrescenta também um lado divertido, o que torna a leitura mais cativante tanto para os leitores mais jovens como para os menos jovens.
Ora, o livro chama-se 1001 Factos Fixes e Bizarros. E são exactamente 1001, numa enumeração organizada por categorias mais ou menos amplas. Categorias essas que, além de facilitarem a leitura - pois criam possíveis pontos de paragem no que, de outra forma, seria uma longa lista - permitem, nalguns casos, detectar relações. E há até um caso específico em que as imagens referentes a diferentes factos se complementam, o que acaba por ser especialmente divertido.
Não há grandes explicações para os factos listados neste livro, o que, em certos momentos, deixa uma impressão de curiosidade insatisfeita. Mas a verdade é que o objectivo do livro parece ser mais o de despertar essa curiosidade para o conhecimento - e, mais uma vez, tendo em conta que o livro se destina a um público jovem - do que, propriamente, o de apresentar grandes explicações. 
Trata-se, portanto, de uma longa - e interessante - lista de factos curiosos. Factos que, organizados de forma simples e divertida, despertam a curiosidade em saber mais. A impressão que fica é, pois, a de uma leitura cativante para os mais novos - e também para os não tão novos. Gostei. 

Autores: Nick Bryant e Glen Singleton
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro 1001 Factos Fixes e Bizarros, clique aqui.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sobrevivi ao Holocausto (Nanette Blitz Konig)

Colega de Anne Frank no liceu judaico, Nanette Blitz Konig viveu de perto os anos da segregação. Como tantos outros, viu os primeiros sinais do que viria a levar ao que todos julgavam inimaginável. E, como tantos outros, acabou por ser enviada para um campo de concentração. Sobreviveu a Bergen-Belsen e, depois das provações e da perda, reconstruiu, tanto quanto possível, a sua vida. Esta é a sua história.
Sendo, acima de tudo, a história do percurso de sobrevivência da autora, importa dizer, desde logo, que este não é um livro que vá apresentar informações exaustivas sobre o contexto político ou o cenário global no qual os acontecimentos se inserem. Não é esse o objectivo. A história deste livro é, acima de tudo, a de Nanette. Do que viveu, daquilo a que sobreviveu, do que ficou com ela bem depois da libertação. E é precisamente por isso, por ser um relato pessoal, próximo, genuíno, que a leitura acaba por ter um impacto tão grande.
Através deste livro, a autora leva-nos a ver as provações por que passou através dos seus olhos. Narra-as com uma simplicidade em que tudo é resumido ao essencial. Não há floreados nem elaborações desnecessárias na escrita. Apenas a história, directa e genuína, do que passou, daquilo a que sobreviveu. E a que tantos outros não conseguiram resistir.
É essa simplicidade pura e dura de factos que deviam ser, em si, suficientemente eloquentes que torna este relato tão marcante. Mas há mais. É que, além da perda e das dificuldades de viver - ou sobreviver - em Bergen-Belsen, a autora conta também a sua história depois da libertação, deixando também aí uma mensagem. É preciso lembrar, sim. É preciso falar. Mas, ao contar também a reconstrução da sua vida, a autora aborda uma série de questões pertinentes, desde a forma como o mundo encara os factos à simples necessidade de continuar, depois de tudo.
E há algo de muito comovente em tudo isto, na forma como a autora, falando em memória dos que não o puderam fazer, fala não só de toda a dor e de toda a morte, mas também do que veio depois. A mensagem é forte: é preciso não esquecer. E as perguntas que ficam são também muitas, mas muitíssimo importantes, sendo a maior de todas um simples - ou não tão simples - como foi possível?
Bastariam a história e a mensagem para fazer com que este livro valesse a pena. Mas juntam-se-lhe uma escrita simples, mas que se adequa na perfeição ao que quer contar, e um olhar muito pessoal e muito lúcido sobre os acontecimentos, para fazer deste relato algo de simplesmente memorável. Marcante e muitíssimo pertinente, vale a pena ler este livro. Sem dúvida alguma. 

Título: Sobrevivi ao Holocausto
Autora: Nanette Blitz Konig
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Atenas Antiga por Cinco Dracmas por Dia (Philip Matyszak)

Cidade de deuses e heróis, berço da democracia, base de toda uma civilização, Atenas, nos seus dias dourados, terá sido inigualável. Mas como seria aos olhos de um visitante, nesse tempo? É a essa pergunta que este livro, qual guia  turístico para uma viagem no tempo, pretende responder. 
Começando por algo de tão simples como as orientações de como chegar à cidade e expandindo-se depois para assuntos tão diversos como os  principais pontos de interesse, as grandes figuras da cidade e as leis e regras da convivência, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela premissa. A ideia de um guia turístico para o passado basta para despertar a curiosidade e a forma como é explorada, percorrendo as bases daquele tempo, mas sem perder de vista a ocasional referência à actualidade, torna a leitura agradável e envolvente. Além disso, há ao longo de todo o livro um toque de humor que, subtil quanto baste, mas facilmente perceptível, confere a este guia uma muito agradável leveza.
Também a organização em diferentes capítulos permite diferenciar os vários aspectos relevantes sobre a vida na Grécia antiga, facilitando a compreensão ao mesmo tempo que cria pontes entre os diversos aspectos. A organização da cidade, em particular, bem como as regras do sistema, tornam-se mais claras pela forma acessível como são apresentadas, em conjugação com os locais que vão sendo referidos ao longo do texto.
É certo que mais haveria a dizer sobre a cidade. Particularmente no que diz respeito aos deuses, tantas vezes referidos ao longo do livro, a impressão que fica é a de que apenas uma parte do todo é completamente explorada. Ainda assim, e tendo em conta a premissa do livro, não parece que uma exploração aprofundada desse tema seja o objectivo. E a verdade é que a informação essencial está lá.
Trata-se, portanto, de um livro que, na forma de um guia turístico diferente, permite conhecer um pouco mais da história de Atenas, imaginar um pouco melhor como seria a vida dos seus habitantes e aprender um pouco mais sobre o lugar e as suas gentes. Muito interessante. 

Título: Atenas Antiga por Cinco Dracmas por Dia
Autor: Philip Matyszak
Origem: Recebido para crítica