Quando Amy surge dos bosques, num estado lastimável e afirmando ter matado o namorado, todos tiram a conclusão mais óbvia. Houve alguma discussão, o namorado levou Amy para algum sítio remoto com segundas intenções e a coisa acabou por correr mal. Qualquer coisa, menos a história que a própria Amy tem para contar. Raptada por uma desconhecida, juntamente com o namorado, viu-se perante uma escolha impossível: matar ou morrer. A situação é inacreditável... mas real. E o caso que surge poucos dias depois acaba por o provar. Cabe, pois, agora, à detective Helen Grace e à sua equipa encontrar o padrão que lhes permitirá apanhar a assassina. Mas as respostas são bem mais difíceis do que o esperado...
Capítulos curtos, um estilo de escrita que é, no geral, bastante directo e uma história em que os verdadeiros contornos do mistério vão sendo revelados de forma muito gradual, definem o primeiro de vários contrastes bem evidentes neste livro. O contraste entre a quase simplicidade da forma de narrar os acontecimentos e a capacidade de, nesse estilo simples e directo, conter todo o impacto de cada revelação. A emoção, o perigo, a sensação de algo terrível prestes a acontecer. O medo das vítimas, a impotência dos investigadores, a sempre delicada teia de factos e de emoções que liga ao passado ao presente. Tudo se entrelaça num equilíbrio delicado e a forma como, na escrita como no enredo, o autor constrói este equilíbrio é algo de fascinante.
Outro contraste claro é o que surge entre as diferentes situações que dão forma ao enredo. O caso, desde logo, que, na alternância entre a perspectiva das vítimas e dos investigadores, permite uma visão mais ampla das coisas, ao mesmo tempo que abre caminho para grandes surpresas. Mas também a vida pessoal das personagens, principalmente de Mark e Helen, cuja relevância acaba por ser tão grande para a resolução de alguns mistérios.
Mas o maior contraste - e a grande força deste livro - é a construção das personagens, com destaque, claro, para Helen Grace. Mulher forte, eficiente no seu trabalho, mas atormentada por algo do passado que leva a que partes da sua vida não sejam assim tão fáceis de alcançar, Helen é uma personagem capaz de despertar empatia e admiração. E, ao situá-la no centro de um caso que tem tanto de misterioso como de pessoal, o autor reforça o impacto das acções - e das escolhas - da sua protagonista, fazendo com que todas as descobertas - bem como as pequenas coisas que são deixadas em aberto - acabem por ter relevância.
Intrigante desde as primeiras páginas e surpreendente em todos os momentos, este é, pois, um livro que facilmente se torna viciante. E que, com as suas personagens fortes e o crescendo de tensão que se vai construindo a cada nova pista, se entranha na memória do leitor bem depois do virar da última página, deixando muita curiosidade em saber o que se segue no caminho de Helen Grace. Recomendo.
Título: Um, Dó, Li, Tá
Autor: M.J. Arlidge
Origem: Aquisição pessoal
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