Bill Plantagenet tem um problema de alcoolismo e, depois de, ao que tudo indica, ter perdido tudo, dá por si num hospital psiquiátrico, sem perceber muito bem o que aconteceu ou o que o rodeia. É aí que conhece a verdadeira loucura, a de um abismo em que os sãos e os loucos não são assim tão diferentes. E é também aí que percebe que a estrada para a recuperação pode ser impossível quando se tem tão pouco a perder.
Denso, elaborado e tudo menos linear, este é um livro difícil de descrever. Talvez porque, sendo uma história sobre a loucura, confunde, em muitos momentos, a realidade e o delírio, fazendo com que as personagens e os acontecimentos deixem de parecer reais. Ou talvez porque, enquanto reflexo dessa loucura, seja feito mais de momentos do que propriamente de uma linha narrativa definida. Independentemente disso, o certo é que é um livro que, apesar da brevidade, exige máxima concentração e nem assim deixa de ser difícil de assimilar.
Claro que a estranheza faz sentido - e estranheza é coisa que não falta neste livro. O protagonista acaba de aterrar, sem saber bem como, num hospital psiquiátrico, e é apenas expectável que aqueles que o rodeiam reflictam algum tipo de delírio. Mas chega-se a um ponto em que toda a história se funde numa sucessão de histórias improváveis, de momentos delirantes, de uma realidade onde é, afinal, a loucura o elemento universal.
Sim, isto levanta questões pertinentes, sendo a maior de todas a força ou fragilidade da fronteira que separa a sanidade da loucura. Mas a verdade é que é tal a fusão entre o real e o imaginado na mente das personagens que tudo se torna confuso. E, por causa da confusão, tudo se torna distante. Acaba por ser difícil sentir seja o que for pelas personagens.
No meio de tudo, sobressai a escrita, que, sendo também ela densa e exigente, acaba por cativar pela fluidez com que se adapta aos ritmos confusos do enredo. Nem sempre é fácil compreender a história, e muito menos o é entender as personagens. E, apesar disso, há frases que ficam na memória, e a sensação de uma estranha harmonia na forma como dá voz a tanta loucura.
A impressão que fica de tudo isto é a de um livro confuso, que, no seu estranho reflexo da loucura, se torna, por vezes, quase impossível de assimilar por completo. Ainda assim, há algo de cativante em toda a sua estranheza. E isso basta, apesar de tudo, para prender a atenção.
Título: Lunar Caustic
Autor: Malcolm Lowry
Origem: Aquisição pessoal
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