Colega de Anne Frank no liceu judaico, Nanette Blitz Konig viveu de perto os anos da segregação. Como tantos outros, viu os primeiros sinais do que viria a levar ao que todos julgavam inimaginável. E, como tantos outros, acabou por ser enviada para um campo de concentração. Sobreviveu a Bergen-Belsen e, depois das provações e da perda, reconstruiu, tanto quanto possível, a sua vida. Esta é a sua história.
Sendo, acima de tudo, a história do percurso de sobrevivência da autora, importa dizer, desde logo, que este não é um livro que vá apresentar informações exaustivas sobre o contexto político ou o cenário global no qual os acontecimentos se inserem. Não é esse o objectivo. A história deste livro é, acima de tudo, a de Nanette. Do que viveu, daquilo a que sobreviveu, do que ficou com ela bem depois da libertação. E é precisamente por isso, por ser um relato pessoal, próximo, genuíno, que a leitura acaba por ter um impacto tão grande.
Através deste livro, a autora leva-nos a ver as provações por que passou através dos seus olhos. Narra-as com uma simplicidade em que tudo é resumido ao essencial. Não há floreados nem elaborações desnecessárias na escrita. Apenas a história, directa e genuína, do que passou, daquilo a que sobreviveu. E a que tantos outros não conseguiram resistir.
É essa simplicidade pura e dura de factos que deviam ser, em si, suficientemente eloquentes que torna este relato tão marcante. Mas há mais. É que, além da perda e das dificuldades de viver - ou sobreviver - em Bergen-Belsen, a autora conta também a sua história depois da libertação, deixando também aí uma mensagem. É preciso lembrar, sim. É preciso falar. Mas, ao contar também a reconstrução da sua vida, a autora aborda uma série de questões pertinentes, desde a forma como o mundo encara os factos à simples necessidade de continuar, depois de tudo.
E há algo de muito comovente em tudo isto, na forma como a autora, falando em memória dos que não o puderam fazer, fala não só de toda a dor e de toda a morte, mas também do que veio depois. A mensagem é forte: é preciso não esquecer. E as perguntas que ficam são também muitas, mas muitíssimo importantes, sendo a maior de todas um simples - ou não tão simples - como foi possível?
Bastariam a história e a mensagem para fazer com que este livro valesse a pena. Mas juntam-se-lhe uma escrita simples, mas que se adequa na perfeição ao que quer contar, e um olhar muito pessoal e muito lúcido sobre os acontecimentos, para fazer deste relato algo de simplesmente memorável. Marcante e muitíssimo pertinente, vale a pena ler este livro. Sem dúvida alguma.
Título: Sobrevivi ao Holocausto
Autora: Nanette Blitz Konig
Origem: Recebido para crítica
Este livro nunca li, mas regra geral costumo interessar-me bastante por livros deste tipo, é um tema que adoro e que sempre me fascinou. Tenho sido apenas eu que tem reparado na enorme quantidade de livros acerca deste tema que existem atualmente? São mesmo muitos. Surpresa das surpresas: nunca li a rapariga que roubava livros.
ResponderEliminarÉ verdade, há muitos livros sobre o tema. Mas também é verdade que todos - ou pelo menos todos os que li - acrescentam alguma coisa de importante.
EliminarTambém ainda não li A Rapariga que Roubava Livros, mas é só uma questão de tempo. Parece ser mesmo o meu tipo de livro.