quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Sobrevivi ao Holocausto (Nanette Blitz Konig)

Colega de Anne Frank no liceu judaico, Nanette Blitz Konig viveu de perto os anos da segregação. Como tantos outros, viu os primeiros sinais do que viria a levar ao que todos julgavam inimaginável. E, como tantos outros, acabou por ser enviada para um campo de concentração. Sobreviveu a Bergen-Belsen e, depois das provações e da perda, reconstruiu, tanto quanto possível, a sua vida. Esta é a sua história.
Sendo, acima de tudo, a história do percurso de sobrevivência da autora, importa dizer, desde logo, que este não é um livro que vá apresentar informações exaustivas sobre o contexto político ou o cenário global no qual os acontecimentos se inserem. Não é esse o objectivo. A história deste livro é, acima de tudo, a de Nanette. Do que viveu, daquilo a que sobreviveu, do que ficou com ela bem depois da libertação. E é precisamente por isso, por ser um relato pessoal, próximo, genuíno, que a leitura acaba por ter um impacto tão grande.
Através deste livro, a autora leva-nos a ver as provações por que passou através dos seus olhos. Narra-as com uma simplicidade em que tudo é resumido ao essencial. Não há floreados nem elaborações desnecessárias na escrita. Apenas a história, directa e genuína, do que passou, daquilo a que sobreviveu. E a que tantos outros não conseguiram resistir.
É essa simplicidade pura e dura de factos que deviam ser, em si, suficientemente eloquentes que torna este relato tão marcante. Mas há mais. É que, além da perda e das dificuldades de viver - ou sobreviver - em Bergen-Belsen, a autora conta também a sua história depois da libertação, deixando também aí uma mensagem. É preciso lembrar, sim. É preciso falar. Mas, ao contar também a reconstrução da sua vida, a autora aborda uma série de questões pertinentes, desde a forma como o mundo encara os factos à simples necessidade de continuar, depois de tudo.
E há algo de muito comovente em tudo isto, na forma como a autora, falando em memória dos que não o puderam fazer, fala não só de toda a dor e de toda a morte, mas também do que veio depois. A mensagem é forte: é preciso não esquecer. E as perguntas que ficam são também muitas, mas muitíssimo importantes, sendo a maior de todas um simples - ou não tão simples - como foi possível?
Bastariam a história e a mensagem para fazer com que este livro valesse a pena. Mas juntam-se-lhe uma escrita simples, mas que se adequa na perfeição ao que quer contar, e um olhar muito pessoal e muito lúcido sobre os acontecimentos, para fazer deste relato algo de simplesmente memorável. Marcante e muitíssimo pertinente, vale a pena ler este livro. Sem dúvida alguma. 

Título: Sobrevivi ao Holocausto
Autora: Nanette Blitz Konig
Origem: Recebido para crítica

2 comentários:

  1. Este livro nunca li, mas regra geral costumo interessar-me bastante por livros deste tipo, é um tema que adoro e que sempre me fascinou. Tenho sido apenas eu que tem reparado na enorme quantidade de livros acerca deste tema que existem atualmente? São mesmo muitos. Surpresa das surpresas: nunca li a rapariga que roubava livros.

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    1. É verdade, há muitos livros sobre o tema. Mas também é verdade que todos - ou pelo menos todos os que li - acrescentam alguma coisa de importante.

      Também ainda não li A Rapariga que Roubava Livros, mas é só uma questão de tempo. Parece ser mesmo o meu tipo de livro.

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