Francisco Mortágua conseguiu, finalmente, o que desejava. É ministro. Mas está longe de imaginar que a política que idealizou a partir dos livros é muito diferente da política real. O partido tem interesses - e amizades - que é preciso defender, e todos esperam que ele utilize a sua influência. Além disso, Francisco não é propriamente um adepto da monogamia e os seus múltiplos casos amorosos são, obviamente, uma ameaça à sua reputação. Como se não bastasse, descobre-se apaixonado por uma jornalista e incapaz de pensar noutra coisa que não seja conquistá-la. Passa a ser esse o seu objectivo, a sua missão. Mas consegui-lo pode muito bem ser o início da sua queda.
Dividido entre as intrigas dos corredores do poder e a história de uma relação extra-conjugal, este é um livro que tem como grande ponto forte a relevância das questões que aborda. Por um lado, a questão dos comportamentos pouco éticos na política, com todas as manobras e intrigas que lhes estão associadas. Por outro, as infinitas possibilidades de traição - por colegas, por amigos, por amantes - quer na vida pessoal, quer na profissional. Há uma boa dose de realidade nesse romance e, por isso, bastante a ponderar. E é precisamente esse o aspecto que mais marca nesta leitura.
Quando ao enredo, surpreendem as mudanças de direcção que vão surgindo ao longo da leitura, no que começa por ser a história de um ministro idealista a descobrir a realidade, evolui depois para o desenvolvimento de um caso amoroso e culmina na possível resolução de um mistério. A história adquire, assim, diversas facetas, que, no todo, tornam as coisas mais interessantes. E, se os desenvolvimentos iniciais avançam a um ritmo relativamente pausado, a intriga do final torna-se quase viciante.
Quanto às personagens, não é fácil sentir grande empatia por elas. Marta, a mulher divorciada e incapaz de perdoar a traição do ex-marido, acaba por se aproximar do mesmo papel que tanto odiou. Quanto a Francisco, e apesar de todas as suas aspirações à seriedade, revela-se acima de tudo nas suas transgressões. Não são propriamente personagens de quem se goste, sendo que o mesmo acontece com várias figuras secundárias. Mas é curioso notar que, apesar desta óbvia distância, as reviravoltas do enredo conseguem, ainda assim, manter viva a curiosidade em saber o que vai acontecer a seguir.
A soma de tudo isto é um livro que, apesar de despertar sentimentos contraditórios, consegue, apesar disso, proporcionar uma leitura envolvente e agradável, ao mesmo tempo que põe em evidência algumas questões relevantes - da política e da vida em geral. Interessante e surpreendente, uma boa história.
Título: Ambição
Autora: Lurdes Feio
Origem: Recebido para crítica
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