terça-feira, 21 de junho de 2016

Irmãs (Claire Douglas)

Ainda a recuperar da morte da irmã gémea e carregando consigo o peso da culpa pelo acidente, Abi está decidida a reconstruir a sua vida em Bath. Mas os seus traumas estão longe de superados e a verdade é que continua a ver Lucy em toda a parte. É, aliás, uma clara semelhança com a gémea morta a atrair Abi para Beatrice Price. Além do aspecto físico, Bea tem a mesma personalidade cativante e aberta de Lucy e Abi está convencida de que Beatrice pode muito bem ser a amiga de que precisa. Até porque Bea também tem um irmão gémeo, por isso quem a poderá entender melhor? Ao mudar-se para a casa dos Price, Abi leva consigo grandes esperanças. Mas estas cedo se transformam em algo mais negro, quando, à medida que os comportamentos mais peculiares dos gémeos se vão revelando, também outros acontecimentos estranhos começam a suceder...
Um dos aspectos mais fascinantes neste livro e provavelmente a sua grande força é a forma como a autora projecta sobre a história uma aura de mistério e de opressão, mantendo-a viva do início ao fim. Primeiro, através dos traumas de Abi, da explicação para as suas circunstâncias e das possibilidades que isto levanta quanto à veracidade do que está a viver. Depois, através dos vários acontecimentos estranhos e dos traços mais inesperados no comportamento de Abi, dos gémeos e até mesmo de algumas personagens secundárias. E, por fim, num final com tanto de intenso como de inesperado, que, pondo um fim a grande parte do mistério, deixa ainda assim um toque de dúvida na imaginação do leitor.
Tudo isto se conjuga para dar forma a uma história com tanto de disfuncional como de cativante - ou talvez cativante pelo que tem de disfuncional. Não há uma única personagem perfeita, tendo todas as figuras relevantes algum segredo, trauma ou demónio interior. E tudo, da forma como interagem ao que deixam por dizer, reforça a dimensão da estranheza que define essas interacções. Ora, isto é interessante, desde logo, porque cria um ambiente invulgar. Mas também, e principalmente, porque, numa história em que quase ninguém é exactamente o que parece ser, quase todas as possibilidades são plausíveis. E, assim, a explicação para o que está a acontecer - e a identidade do responsável - vai permanecendo um mistério.
Até a escrita contribui para o realçar desta aura de mistério. Ao alternar entre o ponto de vista de Abi e uma narração na terceira pessoa centrada nos gémeos, a autora põe em evidência diferentes perspectivas, salientando, por um lado, a fragilidade da mente de Abi e, por outro, a estranheza que define a relação entre Bea e Ben. Tudo isto intriga. Tudo isto surpreende. E assim, das primeiras páginas à revelação final, sente-se sempre a impressão de que qualquer resposta é possível, o que contribui também para reforçar a intensidade do final.
Intenso. Intrigante. Surpreendente. Com personagens tão estranhas e fascinantes como a própria narrativa em que se movem. E muito, muitíssimo interessante. Haveria, talvez, mais a dizer sobre esta tão enigmática e disfuncional história. Mas o resto... O resto vale a pena descobri-lo nas páginas deste livro. Que não posso deixar de recomendar.

Título: Irmãs
Autora: Claire Douglas
Origem: Recebido para crítica

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