quinta-feira, 30 de junho de 2016

Permanência (Alexandre Sete)

Tudo muda na vida. Há sonhos que se transformam em memórias, afectos que se desfazem na distância, imagens que se revelam enquanto outras se esbatem. E ideias, que, num cenário de permanente mudança, se moldam, talvez, numa nova identidade, mantendo-se ainda assim fiéis à sua natureza. De tudo isto - imagens, afectos, ideias, impressões - vive este breve conjunto de poemas.
Se há algo que, desde muito cedo, sobressai neste livro é a forma como, em cada poema, se assume desde logo uma voz própria. Não há grandes imposições à nível de estrutura ou de rima (ainda que esta surja, ocasionalmente) mas antes uma liberdade total de pensamentos. É como se cada poema fosse, acima de tudo, um conjunto de imagens e impressões que, conjugadas, se moldam num todo mais vasto. E é isto, aliás, que torna tudo tão interessante: a possibilidade de reconhecer uma identidade única numa fluidez em que quase tudo é permitido.
Ora, desta liberdade total, emerge ainda uma outra característica: o equilíbrio entre o que é a identidade individual do sujeito poético e o que de vasto e universal emerge da sua voz. É fácil reconhecer a unicidade das imagens projectadas no poema, algumas dela tão surpreendentes que se tornam, simplesmente, memoráveis. Mas é também fácil reconhecer os sentimentos por detrás das imagens. E esses, por mais peculiar que seja a forma de os exprimir, são, muitas vezes comuns, a autor e leitor. O que torna muito mais intensa a leitura destes poemas.
Ainda um outro aspecto que importa referir é o equilíbrio entre o texto e as ilustrações. É verdade que cada poema é completo em si mesmo e não precisa de mais nada para se fazer entender. Mas a presença das ilustrações ao longo do livro, simples quanto baste, mas perfeitamente ajustadas ao texto, acrescenta algo mais à experiência da leitura. Primeiro, porque torna o livro mais apelativo a nível visual. E depois porque acrescenta, até certo ponto, uma nova perspectiva aos poemas.
Com muito de bom para descobrir, apesar da brevidade, a ideia que fica deste pequeno livro é, por isso, a de uma viagem à mente de um poeta - para nela descobrir tanto a diferença como os pontos em comum. E é, pois, isto que fica na memória: um muito cativante equilíbrio entre o único e o universal. Entre o que muda... e o que permanece. Muito bom.

Título: Permanência
Autor: Alexandre Sete
Origem: Recebido para crítica

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