quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Escritos dos Ancestrais (Rodrigo McSilva)

Cansado da natureza conflituosa e dos actos incompreensíveis dos deuses, o Ente Uno decide operar sobre o mundo uma separação irreversível. Esta mudança obrigará os deuses dos diferentes povos a realizar uma migração através das brumas, instalando-se no gume de Odelberon, ficando a partir daí impossibilitados de regressar ao gume terreno. Mas o espírito bélico está-lhes na natureza e não será a mudança a fazer com que deixem de existir conflitos, inspirando-lhes, em vez disso, a ambição de alcançar os melhores lugares e a predominância sobre todos os outros.
Devo começar por dizer que esta leitura se revelou completamente diferente do que estava à espera, em grande parte devido a uma forma muito própria de apresentar os acontecimentos. Não há um protagonista propriamente dito, mas sim uma história mais global, que percorre as alianças e conflitos de deuses das mais diversas mitologias, entrelaçando diferentes lendas num cenário onde a ambição parece ser a força predominante. Há, inclusive, momentos ao longo do livro, em que a narração parece adquirir um tom dissertativo, como se de um registo histórico se tratasse, mais que de um romance. Isto resulta, por isso, numa experiência de leitura completamente diferente da do normal romance fantástico.
O grande ponto forte deste livro está, como seria de prever, na vastidão de lendas e elementos mitológicos que são incorporados ao longo dos acontecimentos, cruzando mitologias bastante diferentes de uma forma que resulta, na generalidade, bastante interessante, e que revela uma boa base de pesquisa. Aconteceu, portanto, que ao longo desta leitura descobri aspectos da mitologia que nunca tinha tido a oportunidade de explorar e sem dúvida que fiquei com vontade de explorar mais.
A escrita é agradável, um pouco elaborada, principalmente nos diálogos, e cria uma dualidade interessante entre os momentos mais descritivos e de contextualização e os momentos de acção propriamente ditos. E, ainda que a história acabe por perder um pouco da envolvência por não haver propriamente uma personagem mais desenvolvida com quem o leitor se possa identificar, surge, como ponto de interesse alternativo, a curiosidade em saber quais os povos que conquistam as posições dominantes... e por quanto tempo.
Um livro interessante, ainda que não de leitura compulsiva, e que julgo que agradará particularmente aos interessados em temas ligados à mitologia. Foi, também, dentro do género, uma experiência de leitura bastante diferente daquilo a que estou habituada. Gostei.

2 comentários:

  1. O livro parece ser espectacular! Adoro mitologia =D Thor, Ísis, Zeus, Odin, Loki, Tot... Perco-me a ler coisas sobre todos os deuses. Espero poder ganhar o concurso.
    Hey, passa pelo meu blog. Creio que podes gostar da história.

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  2. A primeira vez que ouvi falar deste livro fiquei curioso, porém, mantive as minhas expectativas baixas, para evitar desgostos. Afinal, os mitos que o autor pretendia utilizar haviam-me feito companhia durante a infância e todos sabemos quão delicadas são essas memórias.

    Terminada a leitura devo dizer que não desapontou, sendo o balanço positivo. Por um lado, deu-me a oportunidade de rever “velhos amigos”, por outro, fui apresentado a outros que não conhecia tão bem. Mitos testados pelo tempo, aliados a novas histórias concebidas à medida que essas entidades ancestrais foram tiradas do seu ambiente natural e colocadas em novos cenários, numa temática de êxodo/conquista do Novo Mundo, permitiu uma narrativa interessante.

    Contudo, não há bela sem senão. Uma vez que aborda as vivências de diversos povos ao longo de várias décadas, é um épico e, como tal, centra-se nos eventos em grande escala em detrimento dos indivíduos, acabando a acção por ser acelerada e as personagens pouco aprofundadas. Infelizmente, tendo em conta os parâmetros do livro, seria difícil ao autor contornar essa questão.

    A título pessoal, devo dizer que não sou fã da divisão vincada entre o Bem e o Mal que o autor concebe, em que os maus são feios, porcos e imorais, sendo os bons a personificação de tudo o que está certo. Lá está, é uma questão de gostos.

    http://cronicasobscuras.blogspot.com/

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