terça-feira, 7 de setembro de 2010

A Letra Escarlate (Nathaniel Hawthorne)

Numa época de costumes severos e onde a transgressão é motivo de desprezo público, Hester Prynne é condenada a usar ao peito, durante toda a sua vida, a forma escarlate e bordada com linhas douradas de uma letra A. De adultério. É esse o símbolo da sua vergonha, juntamente com a criança que a denuncia. Mas, marcada ou não, a vida continua e, enquanto Hester guarda o segredo da identidade do homem que concebeu a sua filha, e a pequena Pearl cresce na sua estranha natureza, a estranha figura de Roger Chillingworth assombra e atormenta o aparentemente santo reverendo Dimmesdale.
Este não é um livro de leitura fácil. Com detalhadas descrições não só dos costumes, mas até dos traços distintivos de cada personalidade, a história decorre a um ritmo bastante pausado e as revelações que contém, os laços fortes (ainda que invisíveis) que unem os intervenientes nesta história de pecado e julgamento, são lentamente reveladas por entre um retrato preciso e pormenorizado das diferentes feições da natureza humana. Há uma certa demora em explorar os traços da natureza de cada personagem, e as circunstâncias que causaram a sua mudança. A crueldade quase monstruosa, marca de uma vingança fria, é quase palpável na natureza de Roger Chillingworth. Em Dimmesdale, por sua vez, é intenso e envolvente o tormento da sua culpa. Mas é na dupla natureza de Pearl, tão estranha nas suas oscilações de personalidade que dúvidas surgem quanto à humanidade da sua natureza, que o verdadeiro antagonismo entre bem e mal, culpa e redenção se representa.
É esta intensidade, esta força de personalidades que se antagonizam e se entrelaçam num destino irreversível que torna este livro tão fascinante. Todos os detalhes que vão sendo acrescentados dão forma à força da mão invisível que comanda o destino final de cada um dos intervenientes. E, quando por fim, a escalada de culpa e de vingança culmina no seu ponto final, uma conclusão tão intensa quanto reveladora na força da sua mensagem, é inevitável uma certa compaixão para com personagens que, quando finalmente parecem ter o que desejam ao alcance, acabam por encontrar um destino bem diferente.
Belo, trágico, intenso, com uma escrita soberba e uma história de grande profundidade, este é um livro que, apesar de exigir um certo esforço na leitura sua fase inicial e mais descritiva, compensa amplamente essas dificuldades com a forma como o enredo se desenvolve. Muito bom.

2 comentários:

  1. Já li há bastante tempo e não foi dos livros que me cativaram por aí além. É um bom livro, nada mais.
    Ainda assim, acho que foi dos poucos livros para o qual ainda não estava preparado. Um dia relerei, e talvez compreenda a dimensão da obra.

    ResponderEliminar
  2. É complicado, ao início acaba por não ser muito cativante, até porque há ali uma demora em descrever costumes e mentalidades e a história principal propriamente dita acaba por se ir definindo aos poucos. E por isso é que digo que não é leitura fácil, mas gostei muito, tanto da história como da caracterização detalhada de algumas personagens.

    ResponderEliminar