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De todas as obras escritas por Guerra Junqueiro, a Pátria é sem dúvida aquela que maior impacto teve no seu tempo e a que, ainda hoje, decorrido mais de um século sobre a sua primeira publicação, em 1896, se mantém tão viva quanto actual. No plano político e social, ressalvadas as diferenças de regime e governação e o período conturbado que provocou a queda da monarquia e a implantação da República, muitas são as semelhanças que se poderão encontrar com os dias de hoje no que respeita à forma de fazer política e conquistar o poder, ao arrepio dos interesses e do bem-estar colectivos, e à passividade com que a população mais desfavorecida acata as crescentes desigualdades sociais e económicas. Se no tempo da monarquia a situação do país era degradante e ruinosa que dizer do Portugal actual? De um país sem autêntica autonomia governativa e independência económica, subalterno perante uma União Europeia dominada pelos países ricos? Porque muito mais do que europeus, somos portugueses, a mesma pergunta de então se mantém: para onde foi a consciência da Pátria e o orgulho de ser português que Camões tanto exaltou no seu poema épico Os Lusíadas, e que Guerra Junqueiro, num outro registo lírico, igualmente reclamava?
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«Identificando República com democracia, Teófilo faz entroncar na origem das ideias republicanas em Portugal todos os factos, pessoas ou teorias que de algum modo contribuíram para o enfraquecimento do poder real. É assim que, no campo externo, vai buscar todas as revoluções que na Europa, sobretudo em França, levaram à implantação da República e, no campo interno, realça o papel das revoluções liberais de 1820 e 1836. Assinala também a influência do positivismo de Augusto Comte (...). Desenvolvendo-se sobretudo a seguir ao aniquilamento da Comuna de Paris, o positivismo pregava a ordem e o progresso, a conciliação das classes, estabelecendo uma hierarquia de dependência necessária entre elas e condenava os métodos revolucionários do jacobinismo. (...) Os republicanos portugueses centraram a sua acção na questão política, evitando aprofundar a questão económica. Lutavam essencialmente pelo derrube da monarquia, a quem atribuíam todos os malefícios, pela separação da Igreja e do Estado (...) e pelo estabelecimento de uma democracia formal, assente no sufrágio universal, na livre expressão do pensamento e na descentralização administrativa.» — in prefácio de Manuel Roque de Azevedo.
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