domingo, 5 de setembro de 2010

Noites Brancas (Fiodor Dostoievsky)

Durante uma divagação nocturna, os caminhos do narrador cruzam-se com uma mulher que chora e, sem que o possa explicar, uma necessidade desperta dentro de si. Sempre foi um sonhador solitário, mas agora sente que deve falar com aquela mulher, que precisa de a conhecer. E, através de quatro noites de conhecimento e descoberta, o narrador ficará a saber a história de Nástienhka e que motivos e esperanças ditavam as suas lágrimas. Mas como ficará, depois, o seu próprio coração?
Algo que sempre me cativou no que li anteriormente deste autor, e que permanece constante neste pequeno livro, é a tensão dramática, a intensidade emocional que muitas vezes marca os intervenientes de cada história. Aqui, ambos os protagonistas são vítimas e reflexos dessa mesma emotividade. O narrador descreve-se como atormentado pela sua natureza sonhadora, e expressa-o com toda a intensidade de quem verdadeiramente o sente. Nástienhka, por sua vez, sofre por amor, por uma intensa devoção a um homem por quem esperou e que julga agora que não corresponde aos seus sentimentos. E, ao cruzar estas duas histórias no encontro entre ambos os protagonistas, uma terceira história de amor, com toda a tragédia a ele inerente, ganha vida e o que começa por ser - forçosamente, pois Nástienhka não o permitirá de outra forma - uma simples e devota amizade, ganha força no coração do narrador como uma paixão que depois se torna incontrolável. E é na fase final que as grandes surpresas sucedem, criando esperanças na alma de cada um dos protagonistas, para depois as rasgar e substituir.
Escrito de forma envolvente, por vezes poética na forma como os dramas de cada personagem se encaixam no cenário global, descrito de uma forma também tocante (a descrição da relação do narrador com a cidade é de uma beleza particular), este é um livro que, apesar da sua brevidade, fica na memória pela intensidade da história que conta e pelos seus momentos mais comoventes. Muito bom.

1 comentário:

  1. Eu já li Noites Brancas e tive impressões parecidas com as suas. Super abraço e parabéns pelo blog.

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