sábado, 30 de junho de 2018

O Último Fôlego (Robert Bryndza)

Quando o corpo de uma mulher é encontrado num contentor com sinais evidentes de tortura, a inspectora-chefe Erika Foster sabe que não pode continuar no posto em que se encontra, a preencher relatórios e documentos e longe daquilo que faz melhor: apanhar assassinos. E, se isso implicar engolir alguns sapos, Erika está disposta a fazê-lo. Tentando ganhar um lugar na investigação, rapidamente descobre um caso semelhante e basta-lhe isso para saber que, caso o assassino não seja travado, novas mortes se seguirão. O problema é que não há um verdadeiro rasto e, por isso, identificar o culpado parece quase impossível. Até que outra jovem é dada como desaparecida e os primeiros erros começam a surgir...
Parte do que torna esta série tão fascinante - e motivos para isso não faltam - é a forma como o autor consegue criar, para a sua protagonista carismática e invulgar, uma história pessoal que complementa a investigação em mãos. Mais uma vez, o caso na base deste livro tem princípio, meio e fim, e por isso não é necessário ter lido os volumes anteriores para desfrutar da leitura. Mas vale a pena fazê-lo, pois o percurso de Erika Foster é uma constante evolução e, mesmo quando os elementos pessoais surgem de forma mais discreta, como é o caso deste livro, conhecer a fundo a história e as razões que movem a protagonista torna tudo mais intenso e cativante.
Outra grande qualidade prende-se com o registo em que o livro está escrito, num estilo directo quanto baste e com capítulos relativamente curtos, mas com espaço mais do que suficiente para explorar os dilemas, sentimentos e demónios pessoais das personagens. E, se a brevidade dos capítulos contribui para aumentar a intensidade do enredo, este registo mais próximo cria uma maior sensação de familiaridade relativamente às personagens. Além disso, ao acompanhar tanto a investigação como os passos do assassino, o autor confere um maior impacto aos acontecimentos, digam eles respeito aos passos da equipa de investigadores ou aos planos e motivações do assassino.
Há ainda um outro equilíbrio a destacar: o das emoções. Ao longo da história, há espaço para momentos de tensão, perigo e medo - ou não fosse esta uma investigação a um potencial assassino em série - mas também para momentos de afecto, de companheirismo e de humor. O resultado é que, sem tirar nenhuma da intensidade ao caso, o autor consegue construir uma história mais vasta, em que o percurso e as relações pessoais das personagens - de Erika, principalmente, mas não só - acrescentam algo mais a uma narrativa já cheia de qualidades.
Eis, pois, mais um volume que corresponde plenamente às expectativas. E que, apesar do final muito concreto que apresenta para este caso em particular, deixa, ainda assim, como sempre, uma sensação particularmente agradável: a de mal poder esperar para ver o que o autor reserva a seguir para Erika Foster. Intenso, viciante e cheio de surpresas, um livro - e uma série - que não posso deixar de recomendar. 

Autor: Robert Bryndza
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 29 de junho de 2018

O Bebé Que... Não Sabia Quem Era (Rui Zink e Manuel João Ramos)

A mãe foi de viagem, mas o bebé não parece estar muito chateado por ter ficado sozinho com o pai. Até porque o pai faz-lhe as vontades todas. Mas quando um dia, ao chegar a casa, se deparam com a porta aberta, o bebé fica confuso. Quem estará do outro lado? A resposta pode ser simples - mas não deixa de ser uma revelação.
Um dos aspectos mais cativantes destes livros, e principalmente tendo em conta que este é o mais simples dos três, é a forma como, apesar de serem muitíssimo breves, conseguem contar uma história tão capaz de cativar os mais pequenos como de arrancar sorrisos aos adultos. É realmente muito simples - a mais simples de todas, apesar do título quase existencial - mas não deixa de ser um belo reflexo da curiosidade natural dos mais pequenos ante tudo o que é novo. E para os bebés tudo é novo. 
Mais uma vez - e de novo, especialmente neste volume - a componente visual complementa a escrita, com a sua abundância de cores e de expressões a acrescentar vida a um texto curto e focado no essencial. É um livro bonito, daqueles que dá gosto folhear, e sendo um livro infantil, este aspecto apelativo é também um bom ponto de partida para gerar curiosidade para a leitura.
E quanto ao lado existencial de o bebé não saber quem é? Bem, é também um aspecto curioso. É que há várias maneiras de não se saber quem é. E a que o título traz ao pensamento - principalmente de um leitor adulto - não é necessariamente a que se esconde no interior.
Simples, peculiar e divertido: assim é mais este pequeno livro protagonizado pelo bebé mais curioso do mundo. Uma boa história para atrair os mais novos para a leitura e uma breve, mas cativante leitura para quem quer apenas recordar a infância. 

Autores: Rui Zink e Manuel João Ramos
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Noites Brancas

Muitas vezes, a vida corre ao contrário do planeado. Anna sabe-o melhor do que ninguém. Por isso, a viagem até à ilha onde estão as suas raízes promete dar-lhe a força de que tanto precisa. Na Grécia, Anna irá enfrentar a história desconhecida da sua família e descobrir mistérios enterrados há mais de cinquenta anos. Nessa ilha paradisíaca do mar Egeu e à sombra dos limoeiros da casa de família, Anna irá confrontar- se com segredos dolorosos, histórias antigas e sensações adormecidas.
A Ilha dos Segredos é um romance sobre como o passado, o afecto pelos outros e a liberdade podem curar as feridas mais profundas.
O grego antigo tem quatro palavras distintas para amor: agápe, eros, philía e storgé. Poderá afinal existir mais uma?

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Quioto, 1564. O padre Mateus, um jesuíta português, está no Japão como missionário. Quando uma gueixa convertida ao cristianismo é acusada da morte de um samurai, o padre compromete-se a ajudá-la, arrastando o seu protector, o mestre ninja Hiro Hattori, para a investigação. Segundo o código samurai, o filho tem o direito de matar o assassino do pai para repor a honra da família. E se o padre e o ninja não conseguirem provar a inocência da jovem em dois dias, também serão mortos.
Ao mergulhar nas perigosas águas do mundo nocturno de Quioto, percebem que toda a gente – desde a esquiva proprietária da casa de chá até ao desonrado irmão do morto – tem um motivo para querer manter a morte do samurai envolta em mistério. As pistas amontoam-se e apontam para demasiados suspeitos: da rara arma do crime utilizada preferencialmente por assassinas ninjas, a uma mulher samurai, passando por uma relação amorosa, um viajante incógnito e alguns negócios obscuros.
E tudo parece piorar quando a investigação põe a descoberto uma hoste de segredos que ameaça não só a vida deles, mas também o futuro do Japão.

Susan Spann, advogada e antiga professora de Direito, estudou mandarim e japonês e é apaixonada pela cultura asiática. Os seus passatempos incluem cozinha oriental, esgrima, arremesso de facas e shurikens, arco tradicional, artes marciais, escalada e hipismo. O Pecado da Gueixa é o seu livro de estreia em Portugal.
Neste viciante thriller histórico, repleto de pormenores de época e da cultura japonesa, um missionário português enfrenta o código samurai para salvar a vida de uma mulher.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

A Namorada (Michelle Frances)

Laura tem uma vida quase perfeita. Com uma carreira que a satisfaz, uma situação financeira e um casamento duradouro, ainda que distante, a verdade é que não lhe falta nada. Mas a sua tranquilidade é abalada quando o único filho, que está prestes a sair de casa, surge com a nova namorada. Cherry é uma rapariga ambiciosa, apesar de vir de um meio pobre, e está disposta a lutar até às últimas consequências pela vida que julga merecer. E é precisamente isso que desperta as suspeitas de Laura. Aos olhos dela, Cherry é uma interesseira a aproveitar-se do coração do filho. E, a partir do momento em que manifesta a sua opinião, torna-se também vulnerável... porque Cherry não está disposta a afastar-se.
História de perigos e de manipulações, mas também de sonhos e de ambições num mundo onde as diferenças de classe são ainda muito vincadas, esta é uma história que surpreende, em primeiro lugar, pela ambiguidade moral das suas personagens. É fácil, de início, imaginar Cherry como a vilã e Laura como a mãe protectora, mas nenhuma delas é simplesmente isso. Cherry quer uma vida boa, mas a verdade é que também tem sentimentos de culpa e afectos vincados. Laura, por sua vez, é movida principalmente pelo instinto protector, mas para proteger o filho e o manter consigo está disposta a cruzar várias barreiras morais. E, à medida que o enredo evolui, torna-se bastante evidente que nenhuma delas é boa ou má, mas um pouco de ambas. E que o único mais inocente em todo o cenário é Daniel, apanhado no meio da guerra entre as duas.
É uma história de ritmo relativamente pausado para o género, talvez devido à opção de explorar não só os acontecimentos, mas principalmente os pensamentos e o que faz mover as personagens. E, sendo certo que isto abranda um pouco o ritmo da leitura, também torna a história bastante mais complexa, não só porque as personagens têm uma maior profundidade, mas principalmente porque evocam também algumas questões relevantes, como as diferenças sociais e a forma como isso molda as relações familiares.
Claro que, não havendo personagens perfeitas, também não é propriamente de esperar um final perfeitamente limpo e muito menos um felizes para sempre. O que surge, sim, é um final inesperado, com a resolução possível e adequada para uma teia de erros e mentiras e que surpreende não só pelos acontecimentos, mas principalmente para intensidade com que estes são relatados.
Fica, então, a imagem de uma história intrigante, repleta de personalidades complexas e em que nada é tão simples ou linear como uma simples divisão entre heróis, vítimas e vilões. Cativante, intensa e surpreendente, uma bela história e uma boa leitura.

Título: A Namorada
Autora: Michelle Frances
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro A Namorada, clique aqui.

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Viver na Flauta (Aurélie Valognes)

Ferdinand Brun é um octogenário rabugento. Não gosta de pessoas, não se dá bem com a pouca família que lhe resta e tem na solidão e na sua cadela Daisy as únicas companhias que realmente lhe agradam. Mas, no dia em que Daisy morre num acidente, o último elo a ligar Ferdinand ao mundo é subitamente cortado e uma nova ameaça paira pela sua cabeça. Ou ele começa a fazer um esforço ou a filha manda-o para um lar de idosos. Relutante em partir, Ferdinand dá por si a abrir-se ao mundo pela primeira vez. E, quando a sua nova vizinha de dez anos entra de rompante na sua vida, Ferdinand começa a perceber que há vida para lá do seu recanto isolado.
Um dos primeiros aspectos a cativar nesta história é a forma como, protagonizada por personagens que não são propriamente de molde a despertar uma empatia imediata, consegue, ainda assim, surpreender desde muito cedo com as suas inesperadas peripécias. Ferdinand não é propriamente uma figura simpática, e nunca deixa para trás a sua natureza rabugenta. Mas há no seu caminho uma descoberta do mundo que não deixa de despertar sorrisos e, a espaços, até de comover.
Também interessante é que, apesar de tudo girar em torno de Ferdinand e da sua necessidade de evitar o lar, há todo um conjunto de histórias pessoais a acontecer à volta de Ferdinand. A vida da pequena Juliette, as histórias intermináveis da senhora Claudel, os rancores e ressentimentos que acabam por proporcionar alguns dos momentos mais caricatos de toda a história. Ferdinand está presente em quase tudo, mas a história é muito mais do que apenas Ferdinand. E isto torna a leitura muito mais interessante.
Claro que, ao acompanhar tantas histórias e tantas peripécias, há inevitavelmente aspectos que passam para segundo plano e perguntas que são deixadas sem resposta. Fica, por isso, uma certa curiosidade insatisfeita acerca do que acontece depois ou das motivações que levaram a alguns dos principais acontecimentos. Ainda assim, a base essencial está lá e a forma como a autora se cinge ao essencial, sem perder de vista a expressão dos sentimentos das suas personagens, torna a leitura bastante agradável.
Leve, cativante e peculiar: é esta a impressão que fica deste livro. Uma história feita de personagens bizarras, de maquinações insuspeitas, mas, acima de tudo, de sentimentos universais. Gostei.

Título: Viver na Flauta
Autora: Aurélie Valognes
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 26 de junho de 2018

Munmun (Jesse Andrews)

Imaginem um mundo em que tamanho e riqueza são a mesma coisa. Os mais ricos são gigantes. Os mais pobres, mais pequenos que ratos. E a única forma de crescer é, claro, enriquecer. Warner e Prayer estão entre os mais pequenos e sempre à procura de uma vida melhor. Mas como é que se consegue isso, sem saber ler, sem poder aprender, quando se leva séculos a chegar de um lado ao outro e basta um passo errado de um dos mais ricos para se acabar morto de uma forma bastante desagradável? A situação é desesperada – mas a cabeça de Warner está cheia de planos. E, com um pouco de sorte, alguns desastres pelo caminho e a estranha magia dos seus sonhos, ele começa a construir um caminho para si e para a sua família.
Inesperado em todas as suas facetas, desde a estranheza do mundo onde tudo acontece às escolhas morais ambíguas de todas as personagens, esta é uma história que, apesar de muito diferente do mundo real, tem muito em comum com a realidade quotidiana. Aos mais ricos, tudo é permitido. Aos mais pobres, nem sequer uma oportunidade. E, nesta visão de um mundo de grandes ricos e pequenos pobres, de banqueiros e serviços e políticas que parecem manter tudo sempre no seu lugar – lugar esse que é, naturalmente, definido pelos mais ricos – há todo um mundo de temas e questões relevantes. E uma visão bastante sombria, mas também bastante perspicaz, da nossa própria realidade.
Dado este cenário, não se pode realmente esperar uma história limpa, e muito menos um simples final feliz. Mas também isso faz parte do que torna tudo tão intrigante. Warren e Prayer estão a lutar pela vida, mas viver no seu mundo implica tristeza e raiva e amargas desilusões. E há algo de particularmente impressionante na forma como o autor torna estes sentimentos tão nítidos. Além disso, há um contraste notável entre o mundo dos sonhos e o mundo real, e muita criatividade e possibilidades, o que torna muito mais impressionante quando os sonhos vastos e brilhantes dão lugar a uma realidade tão sombria.
Nada é perfeito nesta história – e é isso que a torna tão única. E, se há personagens e atitudes que são difíceis de entender, e gente que fica para trás no meio de todas as mudanças... bem, faz algum sentido. A vida não é perfeita nem simples. E nunca seria possível alcançar um fim perfeito e bonito no mundo de Warner. Por isso, parece apenas adequado que haja um fracasso para cada sucesso – e que nunca nada termine em perfeição.
Peculiar, mas com muito em comum com a realidade actual, a soma das partes é uma história de personagens imperfeitas num mundo igualmente imperfeito – capazes do melhor e do pior, mas sempre a tentar chegar a um lugar melhor. Intrigante e inesperada, uma boa leitura.

Título: Munmun
Autor: Jesse Andrews
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Ms. Marvel - Fora do Normal (G. Willow Wilson e Adrian Alphona)

Kamala Khan é uma adolescente muçulmana, habituada às regras diferentes da sua família, mas, ainda assim, com uma certa necessidade de encontrar o seu lugar no mundo. Mas a relativa banalidade que tanto a aborrece está prestes a acabar. Quando, durante um fenómeno misterioso, Kamala recebe poderes extraordinários, começa então a perceber que a vida dos super-heróis não é tão simples e fascinante como julgava. E menos fácil se torna se, para ajudar os que precisam, tiver de escapar de casa e de todas as regras que a regem...
Um dos primeiros aspectos a chamar a atenção neste primeiro livro é o facto de se passar num universo de intermináveis ramificações - basta mencionar a discreta presença do Capitão América e do Homem de Ferro nesta história para perceber que o mundo a que este livro pertence é algo de bastante vasto - mas com um percurso independente e que não exige grande conhecimento prévio do universo Marvel. Claro que é sempre uma agradável surpresa reencontrar figuras conhecidas, mas esta é, acima de tudo, a história de Kamala e é nela que toda a história se centra. Por isso, conheça-se ou não grande parte deste mundo, é perfeitamente possível - e, aliás, surpreendentemente fácil - desfrutar desta leitura.
Também um elemento a destacar é a forma como, apesar de ser uma história de super-heróis, é, ainda assim, uma história diferente. Primeiro, basta a origem paquistanesa de Kamala para fazer com que surjam várias questões relevantes, do preconceito dos colegas às regras distintas que moldam a vida familiar da protagonista. E além disso, a história não se centra (pelo menos para já) nos grandes actos necessários para salvar o mundo. Começa por actos mais pequenos, mas nem por isso menos heróicos, o que permite acompanhar de forma mais gradual, mas também mais próxima, o crescimento de Kamala.
Sendo apenas o primeiro volume, escusado será dizer que ficam muitas perguntas em aberto. Ainda assim, o ponto onde termina este primeiro volume parece ser bastante adequado, pois parece funcionar como prenúncio de coisas muito maiores que poderão estar para acontecer. Além disso, há personagens que apenas começam a revelar-se e cuja natureza promete já muito de bom.
Por último, importa, é claro, falar na componente visual, tão importante neste género de livros. Aqui, destacam-se essencialmente duas coisas: uma normalidade surpreendente, em que há todo o tipo de figuras, sendo que são as mais perfeitas as menos abundantes; e uma grande expressividade nos traços das personagens, o que realça bastante o impacto dos acontecimentos.
Tudo somado, fica a imagem de um início muito promissor para uma história que, enquadrada num universo bastante mais vasto, tem em si mesma todo o valor necessário. Cativante, surpreendente e viciante, um belo ponto de partida. 

Autores: G. Willow Wilson e Adrian Alphona
Origem: Recebido para crítica

domingo, 24 de junho de 2018

Para Sempre Contigo (Laurelin Paige)

Hudson e Alayna percorreram um longo caminho e, apesar dos seus problemas, parecem ter encontrado finalmente a forma de manter viva a sua relação: honestidade total. Só que o passado de Hudson é ainda mais conturbado e há coisas que ele sabe que não pode contar, ou corre o risco de perder Alayna para sempre. Mas Alayna nunca foi de desistir da verdade, muito menos quando diz respeito ao homem que ama. E a verdade escondida nas sombras é ainda mais terrível do que julgava e pode comprometer em definitivo a relação que tem com Hudson.
Um dos aspectos mais cativantes deste último livro é que, apesar de grande parte da história, andar, tal como nos volumes anteriores, em volta do que aproxima e do que separa os protagonistas, é aqui que tudo atinge o equilíbrio ideal. Alayna, com as suas tendências obsessivas, encontra uma obsessão que vale a pena perseguir: a verdade sobre o homem que ama. E Hudson, com a sua frieza dominadora, descobre a necessidade de renunciar às suas defesas. Os segredos são os mais fortes. A tensão, maior que nunca. E, por isso, o impacto dos momentos centrais torna-se bastante mais intenso, culminando num final verdadeiramente marcante.
Também especialmente marcante é o percurso de crescimento pessoal das personagens. Sim, o enredo vive essencialmente da relação entre Hudson e Alayna. Mas as mudanças em termos familiares e profissionais, bem como a percepção de um maior conforto com aquilo que são torna o caminho muito mais intenso, não só devido ao impacto emocional, mas também ao percurso das personagens secundárias que, surgindo em função de Hudson e de Alayna, têm, ainda assim, também os seus próprios desafios.
E, claro, existe ainda o erotismo. Neste aspecto, importa destacar, acima de tudo, o equilíbrio entre as cenas mais quentes e o restante do enredo, já que a relação entre os protagonistas parece estar a evoluir para algo muito mais profundo. E assim, faz todo o sentido que haja momentos sensuais - e há-os na medida certa - mas também que não se sobreponham aos outros elementos da relação. Este equilíbrio é importante - e é neste volume que atinge o seu auge.
Por fim, destacar a escrita, sempre cativante e directa, mas com espaço para as medidas certas de introspecção e de sentimento - ou não fosse grande parte da história contada do ponto de vista de Alayna, com todos os choques e golpes emocionais que isso tem necessariamente de implicar.
Tudo surge, pois, na medida certa, neste final cativante, intenso e cheio de emoção. E basta isso para que tenha valido a pena conhecer Hudson Pierce e Alayna Withers - e a sua história, cheia de atribulações e de amor. Recomendo.

Autora: Laurelin Paige
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 19 de junho de 2018

A Célula Adormecida (Nuno Nepomuceno)

É noite eleitoral e, inexplicavelmente, o vencedor das eleições parece ter acabado de se suicidar. Entretanto, no centro de Lisboa, um bombista suicida faz explodir um autocarro e a bandeira do Estado Islâmico é içada num monumento nacional. E eis que, na iminência de um grande evento internacional, o país se vê mergulhado nas sombras do terror. De início, não parece haver grande relação entre os dois casos. Afinal, o candidato suicidou-se. Quanto ao bombista, o caso é bastante mais complexo e as suspeitas recaem sobre o seu antigo professor, Afonso Catalão. Só que nem as duas situações são casos isolados nem Afonso é apenas o que parece ser. Não é inocente, mas também não é um suspeito óbvio. E, para provar a sua inocência e, de certa forma, redimir o que fez em tempos, Afonso terá de regressar ao passado que rejeitou - e descobrir as complexas verdades que se escondem sob os acontecimentos dessa noite.
Uma das qualidades mais intrigantes deste livro, e diga-se desde já que não lhe faltam qualidades, é a forma como o autor consegue tecer um enredo intrigante e cheio de momentos de acção, sem nunca perder de vista o contexto mais vasto e os elementos pessoais que tornam o todo muito mais do que a simples soma das partes. E fá-lo sem sacrificar em nada a intensidade do enredo, pois as descrições e os elementos de contextualização enquadram-se com toda a naturalidade no ritmo a que a narrativa evolui.
Também particularmente impressionante é o desenvolvimento das personagens e o tipo de ligação que estas estabelecem com o leitor. Afonso, com o seu passado misterioso e a evidente necessidade de redenção, desperta de imediato a curiosidade e cada nova revelação só torna o seu percurso mais interessante. Mas, curiosamente, muitos dos momentos mais marcantes vêm de personagens mais secundárias - Sarita, Yusef, até mesmo Ibrahim - e a marca que deixam acaba por ser ainda mais forte pelo facto de não terem realmente grande influência no mundo em que se movem. Afinal, o terror faz-se do sacrifício de inocentes. São sempre os inocentes que sofrem.
E isto leva-me à que é, provavelmente, a maior qualidade de todas. Acontece, por vezes, neste género de livros, que o perigo e acção acabam por conduzir a um final demasiado limpo. Não é esse o caso aqui. Aqui, todos os acontecimentos têm consequências. Talvez se escape ao perigo, mas nunca se escapará inteiramente incólume. E, em vez de um fim limpo, feliz e sem pontas soltas, o que o autor apresenta aqui é algo de bastante mais complexo, mas também bastante mais realista na forma como aborda as muitas questões pertinentes evocadas ao longo do enredo.
Mas voltando ainda às personagens. É certo que há um pouco de tudo, desde os que despertam empatia imediata aos que comovem pela inocência, passando também pelos que não podem inspirar senão repulsa. Mas o mais interessante está nas relações e na forma como personagens que, de início, parece sumamente irritante na forma como lidam umas com as outras, acabam por surpreender ao revelar as suas melhores qualidades. Também daqui há algo a retirar: nada é perfeito. Ninguém é perfeito. E há profundidades insuspeitas no carácter de um ser humano.
Retrato actual de um mundo em que o medo parece ser uma presença cada vez mais constante, eis, pois, uma leitura viciante, mas também repleta de temas pertinentes e com um núcleo de personagens tão marcantes quanto as situações que protagonizam. Intenso, intrigante e cheio de surpresas, um livro memorável. E muito, muito, muito bom. 

Autor: Nuno Nepomuceno
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Afirma Pereira (Pierre-Henry Gomont)

Responsável pela folha cultural de um jornal "independente" - tão independente quanto se pode ser em tempos de ditadura - o doutor Pereira, perdido no seu próprio mundo e fascinado por um artigo que leu, contrata, para escrever necrologias antecipadas, o jovem Monteiro Rossi. Só que Rossi não é apenas um jornalista à procura de emprego. Tem amigos duvidosos, ideias revolucionárias - e isso é tudo menos aconselhável na Lisboa de Salazar. Pereira só quer saber da literatura, diz, e a política não lhe diz nada. Mas vê-se fascinado pelo idealismo do jovem - e é assim que começa a questionar...
Há algo de particularmente mágico em regressar a uma história marcante e encontrá-la num outro formato, mas com a mesma alma essencial. E é esta precisamente uma das características mais impressionantes deste livro: é uma adaptação fiel e, pese embora as necessárias diferenças, é possível reconhecer as linhas do original, vendo-as porém a uma nova perspectiva. É que o elemento visual dá-lhe uma identidade nova e uma outra vida a personagens e acontecimentos. E esta mistura entre novo e familiar é algo verdadeiramente brilhante.
Independentemente deste impacto, inevitável para quem já conhecer o romance, é também um livro completo em si mesmo - ou seja, para quem ainda não conhece o doutor Pereira, descobrir a história através desta adaptação não retira nenhum do seu impacto. Talvez tenha o efeito secundário de criar a vontade de ler o romance - tal como o romance aumenta a vontade de ler esta adaptação. Mas são elementos independentes, ainda que se complementem na perfeição.
Mas voltando à história - e pondo de parte a existência ou não de conhecimento prévio. Há na história do doutor Pereira e na sua descoberta de um mundo bastante mais cruel e complexo do que o seu mundo interior um retrato bastante preciso do que é a vida e a liberdade (ou falta de) num regime ditatorial. A censura, a violência, o inevitável secretismo marcam aqui uma presença vincada - e um contraponto à também presente (e inevitável) resistência. A história do doutor Pereira - e principalmente a forma como tudo termina - é todo um hino à resistência, nem sempre grandiosa, nem sempre bem-sucedida... mas necessária, sempre. E, se a história em si basta para o exprimir, a imagem - com tons que parecem também evocar o secretismo - torna tudo mais nítido e mais palpável.
Adaptação fiel, mas completa na sua solidez, eis, pois, um livro imperdível, tanto para quem já leu o romance de Antonio Tabucchi, como para os que não o descobriram ainda. Marcante, pertinente e, além disso, belíssimo, um livro que não posso deixar de recomendar. 

Título: Afirma Pereira
Autor: Pierre-Henry Gomont
Origem: Recebido para crítica

domingo, 17 de junho de 2018

Talento para Matar (Andrew Wilson)

Agatha Christie está a passar por uma fase difícil, ainda a sofrer com a morte da mãe e com o seu casamento em vias de desmoronar. Mas a vida está prestes a tornar-se ainda mais negra. No metro, um homem empurra-a para a linha, para depois a resgatar no último minuto, e esse homem tem as piores das intenções. Determinado a livrar-se da esposa, decidiu tirar proveito dos talentos únicos de Mrs. Christie e recrutá-la para matar a incómoda Flora Kurs. Ciente de que, se recusar, a sua família e reputação ficarão arruinadas e sem alternativas, Agatha Christie desaparece misteriosamente. Mas o seu talento para contar histórias de assassínios está longe de corresponder a uma acção impiedosa na vida real. E realizar o plano de Kurs - ou encontrar uma forma de o travar - terá sempre um preço terrível...
Um dos aspectos mais cativantes deste livro, e um que desde muito cedo se evidencia, é que, tendo como protagonista Agatha Christie, lê-se... bem, como um romance de Agatha Christie. Enigmático, cheio de reviravoltas, com personagens movidas pelo desespero ou pela ambição e com um vilão bastante arrepiante, é o tipo de policial que prende desde as primeiras páginas. E, com o seu crescendo de intensidade e a escolha impossível a que a protagonista se vê forçada, rapidamente se torna difícil largar o livro antes do fim.
É também o início de uma série, embora o mistério central tenha princípio, meio e fim. Fica, por isso, a agradável sensação de uma leitura completa e independente, com todos os seus elementos pesados nas medidas certas e a também agradável sensação de possibilidade - de muitas possibilidades a explorar no livro seguinte. Junta-se, pois, o melhor de dois mundos: a satisfação de um caso resolvido e o potencial do muito mais que poderá haver para descobrir.
Ainda um outro ponto forte nesta história é a alternância de pontos de vista - e de narrador. As partes de Mrs. Christie são narradas na primeira pessoa, permitindo um olhar mais claro e pessoal sobre os seus dilemas e sentimentos, o que é particularmente relevante tendo em conta as suas circunstâncias. E os restantes pontos de vista - Una, Davison, Kenward - mostram o mundo em volta, não só no que diz respeito à investigação do caso, mas também aos elementos pessoais que poderão servir de cobertura aos inevitáveis segredos.
Intenso, enigmático e cheio de surpresas, mas também com muita emoção e um toque de leveza resultante da naturalidade com que tudo é contado, trata-se, pois, de uma leitura cativante e surpreendente, não só pelo intrigante enredo, mas também - e principalmente - pela abordagem diferente a um elemento real da vida da protagonista. Muito bom. 

Autor: Andrew Wilson
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 15 de junho de 2018

Príncipe das Trevas (Mark Lawrence)

Jalan Kendeth pode ser um príncipe e o neto da Rainha Vermelha, mas isso não faz dele um homem particularmente corajoso. Dedicado apenas aos seus prazeres, não pensa em muito mais do que satisfazê-los e fugir aos cobradores que, inevitavelmente, o perseguem. Mas vêm rumores do norte, rumores de um Rei Morto que, auxiliado por necromantes, fez dos mortos o seu exército. E, embora Jalan não preste grande atenção a isso, a sua presença no lugar errado à hora errada liga-o a um homem que é tudo o que ele não é - nobre, corajoso, movido por grandes valores. E a única maneira de quebrar a maldição que os une é seguir para norte e combater o que os puxa para lá...
Situado no mesmo mundo e na mesma linha temporal da Trilogia dos Espinhos, este é um livro que, podendo ser lido sem qualquer conhecimento prévio da história do mundo, se torna ainda mais impressionante se olharmos para os paralelismos que existem. Sim, o mundo é o mesmo e, portanto, os grandes problemas também os são. Mas o mais marcante é que basta este primeiro volume para antecipar um percurso de crescimento tão notável para Jalan como o que Jorg sofreu. O Jalan do fim do livro não é o mesmo que nos foi apresentado no início da história. E se o Jalan inicial já tinha carisma para dar e vender... bem, o que se segue só pode ser fantástico. 
Outra das muitas qualidades deste livro é a sempre fascinante escrita do autor  e a forma como, ao longo de todo o enredo, surgem inúmeras frases memoráveis. Além disso, a voz de Jalan parece ajustar-se na perfeição à sua personalidade, o que, além de despertar uma surpreendente proximidade, pois realça as emoções (principalmente o medo) do protagonista, confere a tudo, desde os acontecimentos aos cenários por onde passam, uma perspectiva bastante mais invulgar.
Nem só de Jalan vive a história, ainda que, com as suas inúmeras peculiaridades, bastasse ele para fazer com que a leitura valesse a pena. E, além de umas quantas figuras mais ou menos secundárias, mas todas relevantes, que contribuem em muito para a aura de mistério e intensidade que rodeia toda a narrativa, há Snorri, em tudo o oposto e em tudo complementar a Jalan. Snorri, com a sua posição delicada, o seu papel de estrangeiro vulnerável, a sua força física e a sua nobreza interior, é o contraponto perfeito a um príncipe vindo de todos os prazeres e que parece começar a crescer na provação.
E a história em si é irresistível, desde os momentos iniciais de ócio e de pequena intriga de um príncipe que procura, acima de tudo, salvar a própria pele, à longa viagem para norte, com todas as descobertas e perigos, e que culmina no derradeiro confronto com o que seguiram e os perseguiu. Viagem que, cheia de episódios marcantes em si mesma, ganha ainda um toque adicional de fascínio ao cruzar-se com personagens já conhecidas de outras andanças e que, dada a sobreposição temporal entre as duas trilogias, é particularmente agradável reencontrar. 
Intenso, cativante e cheio de surpresas e revelações, tanto no desenrolar da história como, acima de tudo, no crescimento das personagens, eis, pois, um livro que está mais que à altura das elevadíssimas expectativas deixadas pela Trilogia dos Espinhos. Com um enredo brilhante, personagens fascinantes e uma escrita que nunca deixa de surpreender... mal posso esperar para saber o que acontece a seguir. 

Autor: Mark Lawrence
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 14 de junho de 2018

O Que Fica Somos Nós (Jill Santopolo)

Lucy e Gabe conheceram-se no dia 11 de Setembro de 2001 - o dia em que o mundo mudou e o mesmo aconteceu com as suas vidas. Talvez tenha sido a experiência de partilhar aquele dia ou talvez tenha sido uma manifestação do destino, mas entre ambos nasceu um amor firme e duradouro. Só que nem sempre o amor basta. Lucy e Gabe têm sonhos distintos e o de Gabe passa por correr o mundo em busca de fotografias capaz de mudar mentalidades, pôr fim a guerras e acabar com o sofrimento. Passa por deixar Lucy para trás e é isso que acaba por fazer. Mas nem os anos que passam nem a distância e a falta de contacto - nem sequer outros relacionamentos - podem apagar o elo que os unem. E quando, demasiados anos depois, ante a mais difícil de todas as decisões, é preciso dar enfim uma conclusão ao que os uniu, Lucy sabe que tem de lhe contar o seu último segredo...
Uma boa forma de definir a essência deste livro seria, talvez, um equilíbrio de imperfeições. Imperfeições premeditadas, entenda-se, pois uma das primeiras coisas a saltar à vista nesta leitura é que nenhuma das personagens é perfeita. O cerne da história pode ser uma relação romântica que se prolonga através do tempo e das dificuldades, mas Lucy e Gabe têm divergências e desacordos, como acontece a qualquer ser humano, e pontos que nunca podem ser comuns. E isto aplica-se também a Darren, o terceiro elemento central nesta história de relações. Darren, Lucy e Gabe - tão capazes de manifestações de puro amor como de gestos de condescendência e de desprezo para com o papel e as aspirações dos outros. 
Ora, isto desperta, por vezes, sentimentos contraditórios. É fácil admirar os grandes sonhos de Gabe, mas não a sua disponibilidade para deixar tudo o resto para trás. É fácil sorrir ante o humor e os grandes gestos de Darren, mas não ante a forma como desvaloriza os sonhos e o papel de Lucy na vida familiar. E quanto a Lucy, é fácil entender as suas dúvidas e inseguranças, ainda que nem sempre a forma como lida com os seus segredos. São personagens ambíguas e talvez por isso despertem um pouco menos de empatia. Mas é também isso que as torna mais reais.
Também a forma como a história está contada reflecte este equilíbrio delicado. É Lucy a contar a história a Gabe, o que desde logo promete grandes revelações para o final. Mas além disso, este registo pessoal de confidência à pessoa amada, torna as emoções mais abertas, mais intensas, o que reforça tanto o impacto dos pequenos momentos como o das últimas revelações.
É, pois, uma história de gente imperfeita - à procura da perfeição possível. A história de um amor frágil, mas duradouro, e das vidas complexas (e, sim, imperfeitas) que giram à volta desse amor. Envolvente, emotivo e com um tom intimista que torna tudo mais marcante, uma leitura que cativa desde o início e que, nas grandes e nas pequenas coisas, não deixa de surpreender até ao fim. 

Autora: Jill Santopolo
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 13 de junho de 2018

Wissper - Problemas de Suricatas

O Monty e a sua família de suricatas têm um problema: a toca é demasiado pequena para todos e, por isso, têm de dormir à vez. Felizmente, a Wissper tem um dom peculiar e pode ajudá-los. Com a sua flauta, transporta-se para a casa dos suricatas e, com a ajuda de um animado grupo de pinguins, encontra uma forma de resolver o problema. Afinal, a Wissper gosta de ajudar os amigos - estejam eles onde estiverem!
Cativante e colorido com a sua história simples e cheia de magia, este é um livro que, pensado para os mais pequenos, consegue igualmente despertar a nostalgia em quem já há muito deixou a infância para trás, o tempo em que era fácil acreditar em animais falantes e em magia e em que a inocência fazia ver o bem em toda a parte. E este é, aliás, um dos pontos fortes das histórias da Wissper: há sempre uma mensagem positiva associada às suas pequenas aventuras, ou não fosse o espírito de entreajuda a essência das viagens da pequena protagonista.
Mas há também uma história cativante e divertida e um curioso paralelismo entre a vida familiar da Wissper e a dos amigos que lhe pedem ajuda. Neste caso, a questão é o espaço em casa - e as possíveis formas de resolver o problema. E se, na casa da Wissper, a solução é evidente desde o início, já no caso de Monty e dos seus companheiros... bem, a resposta é bastante mais peculiar e engraçada.
Mais uma vez, importa realçar a cor e a beleza das imagens, tão importantes para captar a atenção dos mais novos e também para dar mais vida a esta aventura. E cor não falta neste livro, tanta que basta um breve folhear para despertar a curiosidade para as suas várias personagens.
Tudo somado, fica a imagem de mais uma história breve e simples, mas sempre cativante e com uma mensagem muito positiva. Uma boa história para ler aos mais pequenos... ou para ler, simplesmente.

Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 12 de junho de 2018

The Call - A Invasão (Peadar O'Guilin)

Nessa e Anto sobreviveram à Terra Cinzenta e julgavam ter cumprido a sua parte. Mas as coisas estão longe de ter terminado. Agora, quando pensavam ter pela frente uma vida juntos, vêem-se novamente separados. Nessa, acusada de traição, pois nunca poderia ter sobrevivido sozinha na sua condição, é levada para interrogatório antes de ser enviada de volta à Terra Cinzenta. E Anto é enviado para junto de um grupo de combatentes - quanto mais não seja, para o manter na ignorância do que está a acontecer a Nessa. Entretanto, os Sídhe não desistiram da sua ambição de reconquista. E uma promessa cumprida pode anular uma promessa desfeita, permitindo-lhes tomar finalmente posse da terra que julgam ter-lhes sido roubada...
Tal como aconteceu com o primeiro volume, um dos aspectos mais marcantes deste livro é o vincado contraste entre a relativa simplicidade da escrita, com o seu estilo directo a ajustar-se à juventude das personagens, e o intrincado lado sombrio da história. Aqui, os Sídhe são tudo menos fadas bondosas e o que são capazes de fazer está na base de várias descrições macabras e perturbadoras ao longo do livro. E, claro, em resposta à crueldade, também a Nação responde com crueldade, o que cria uma situação intensa, em que os fins justificam os meios e a justiça passa para um muito distante segundo plano.
Também a evolução do enredo tem muito de intrigante. Se já no primeiro livro a sobrevivência era o essencial, aqui passa a ser quase a única regra. E se ,por um lado, isso dilui alguma empatia - há personagens de que é pura e simplesmente impossível gostar - , por outro, confere à história um maior dramatismo. Tal como o Chamado, é também uma corrida contra o tempo a acção das personagens neste livro. Mas com consequências bastante mais vastas e, como tal, com muito menos limites morais. 
E, como se não bastassem as acções dos Sídhe para conferir à história um registo bastante negro, também a posição dos protagonistas se torna cada vez mais desesperada, o que, além de ser, por si só, uma surpresa, pois desde cedo se percebe que não haverá finais limpos e muito menos perdas mínimas, reforça o impacto dos grandes gestos, pois há uma estranha nobreza no sacrifício quando já tudo se perdeu. 
Intenso, surpreendente e inesperadamente (ainda mais) negro, trata-se, pois, de uma notável mistura de continuidade e evolução relativamente ao primeiro volume. E, ainda que deixando para trás algumas questões em aberto, de uma conclusão mais que adequada para um enredo que nunca poderia ter um fim fácil. Uma boa história, sem dúvida, de um autor para continuar a acompanhar.

Autor: Peadar O'Guilin
Origem: Recebido para crítica

Passatempo O Bom Ditador II - A Expansão

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com o autor Gonçalo JN Dias, tem para oferecer um exemplar do livro O Bom Ditador II - A Expansão. Para participar basta responder à seguinte questão:

1. Como se chama o primeiro volume desta trilogia?

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 30 de Junho. Respostas posteriores não serão consideradas;
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por e-mail e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

segunda-feira, 11 de junho de 2018

Palavras Cínicas (Albino Forjaz de Sampaio)

Amor, família, amizade, fé, caridade, nobreza. Seria de pensar que estes e outros valores semelhantes seriam algo de intemporal e de universalmente reconhecido. Bem, para o autor destas crónicas não são. Nelas, é questionado tudo quanto se julga ser bom, exaltando antes os contornos do egoísmo, do ódio e da indiferença. E poderá haver numa tal visão qualidades redentoras? Talvez, porque há entre tudo isto uma grande verdade: no fim, todos acabam da mesma forma. 
Não é propriamente fácil falar sobre este livro, pois cada uma das cartas que o compõem parece lançar nova luz sobre as perspectivas anteriores, principalmente no que às duas últimas diz respeito. E não é fácil também porque a exaltação do mal é, por vezes, de tal modo vincada que acaba por conseguir despertar esse mesmo ódio que tanto exalta - para as mesmas palavras que tanto lhe cantam os louvores. Importa, talvez, por isso ter em conta a época em que foi escrito e a necessidade de desafiar a sociedade da moral e dos bons costumes. Nesse aspecto, dificilmente poderia ser mais eficaz, pois questiona realmente tudo. 
Importa também considerar o livro como um todo, e como um todo que pretende desafiar convenções. Algumas das cartas, lidas isoladamente, despertam essencialmente indignações face a tão vincadas - e revoltantes - posições. Mas depois vêm as seguintes para expor uma visão mais sombria e as sombras interiores que ditam essas palavras. E, não redimindo completamente este quase maquiavélico louvor ao vício, acrescentam-lhe, ainda assim, uma nova camada de complexidade.
Mas há um aspecto particularmente marcante neste livro: é que, mesmo não nutrindo propriamente bons sentimentos pelas perspectivas apresentadas nas crónicas, há uma fluidez na forma como estão escritas que é difícil não admirar. Tudo parece surgir com a naturalidade da convicção e, ao mesmo tempo, ser posto em causa pelo pessimismo que lhes dá voz. E assim surge uma estranha percepção: a de uma visão difícil de admirar... admiravelmente escrita.
Ficam, pois, sentimentos contraditórios e uma visão do mundo com tanto de negro como de meticulosamente construído. E uma leitura que, não sendo leve nem fácil, consegue, ainda assim, ser estranhamente interessante.

Autor: Albino Forjaz de Sampaio
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Vogais

Adolf Hitler era um líder improvável — alimentado por ódio, incapaz de aceitar uma crítica, socialmente e emocionalmente inadequado — e, no entanto, atraiu multidões. Como foi possível que se tenha tornado uma figura tão atractiva para milhões de pessoas? Essa é a pergunta que norteia O Carisma de Hitler, a mais recente obra de Laurence Rees, que entre os vários prémios com que já foi galardoado contam-se um BAFTA e dois Emmys.
Laurence Rees investiga a forma como Hitler construiu o seu mito e fez uso do seu carisma até se transformar num quase «messias» com contornos semidivinos — da retórica pomposa dos primeiros discursos antissemitas às massivas demonstrações de adoração retratadas nos filmes de Leni Riefenstahl —, entretecendo a personagem e a figura pública, para as confrontar com os testemunhos das vítimas do seu encanto e os seus opositores mais ferozes.
Ao mesmo tempo uma visão histórico-psicológica surpreendente e um estudo esclarecedor dos mecanismos de manipulação e credulidade humanas, este livro analisa a natureza do apelo de Hitler e revela o papel que o seu suposto «carisma» desempenhou no seu sucesso.

Laurence Rees, licenciado pela Universidade de Oxford, ganhou o British Book Award para Livro de História do Ano em 2006, pelo seu bestseller Auschwitz: Os Nazis e a «Solução Final» [Ed. Dom Quixote, 2005]. Diretor criativo de programas de História da BBC TV durante muitos anos, escreveu seis livros sobre os nazis e a Segunda Guerra Mundial, incluindo The Nazis: A Warning From History, World War II: Behind Closed Doors e Holocausto: Uma Nova História (Ed. Vogais, 2017), bem como os documentários televisivos que acompanharam os livros. Entre os vários prémios com que já foi galardoado, contam-se um BAFTA e dois Emmys. 

domingo, 10 de junho de 2018

O Cavaleiro Misterioso (George R.R. Martin)

Sor Duncan, o Alto, e o seu jovem escudeiro, Egg, dirigem-se a Winterfell quando o inesperado convite para um casamento os desvia para Parede Branca. Aí, Dunk espera vencer algumas justas e melhorar um pouco as suas condições financeiras. Mas aquele casamento é muito mais do que parece e há um ninho de conspiradores a mover-se em torno de um misterioso cavaleiro chamado John, o Rabequista. Sem querer, Dunk dá por si no centro dos acontecimentos - e com um papel relevante a desempenhar.
Bastante distantes no tempo dos acontecimentos de A Guerra dos Tronos, mas igualmente cativante e com a mesma mistura de intriga, vulnerabilidade, conspiração e um leve toque de bizarria, este é um livro que, sendo necessariamente mais breve que qualquer dos volumes das Crónicas de Gelo e Fogo, contém, ainda assim, todos os elementos que os tornam tão memoráveis. Sendo uma novela gráfica, a história vive tanto das imagens como dos diálogos - e prova disso mesmo são as grandes lutas - e a complexidade do universo está tão presente nestas imagens como nas extensas descrições de qualquer dos outros livros. Além disso, fica-se com uma percepção diferente ao contactar com uma representação visual das personagens - já que, principalmente no que diz respeito aos Targaryen, há uma distância bastante vincada relativamente às restantes personagens.
Quanto à história em si tem o tom característico das aventuras de Dunk e Egg: perigo e intriga nas medidas certas, momentos de humor e de embaraço, situações de vulnerabilidade e um certo código de honra que, mantido em circunstâncias tão peculiares, se torna especialmente marcante. E claro, pode não ser difícil adivinhar a resolução final de certos acontecimentos - mas o caminho é tão empolgante e as personagens tão interessantes que adivinhar o que poderá acontecer não retira ao enredo qualquer impacto.
E, claro, importa sempre falar da imagem e de como é fácil, ao longo das páginas, entrar neste mundo, contemplar os locais onde tudo acontece e, de certa forma, assistir às justas e a outros confrontos mais sangrentos que aí se travam. Há vida nas imagens e uma vida que se ajusta na perfeição aos diálogos. E, por isso, tudo parece atingir o equilíbrio certo.
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura cativante, intensa e cheia de surpresas. Um belíssimo livro para matar saudades de Westeros enquanto não chega o tão aguardado Winds of Winter e para descobrir um período distinto da tão vasta história desse mundo. Muito bom. 

Autor: George R.R. Martin
Origem: Recebido para crítica

sábado, 9 de junho de 2018

O Projeto Acidente (Julie Buxbaum)

Kit é uma rapariga popular, mas a tragédia que lhe roubou o pai fez com que lhe fosse difícil regressar à normalidade. David é um rapaz peculiar, com dificuldades em interagir com os outros e bastante isolado no mundo. Nenhum dos dois espera, por isso, que o momento em que Kit se senta à mesa de David se torne o início de uma bela amizade. Afinal, têm mais em comum do que julgavam e a proximidade parece surgir naturalmente - até mesmo a David, para quem nada é natural. Mas Kit precisa da ajuda de David e do seu génio matemático para encontrar as explicações que procura para o acidente que vitimou o pai. E essas respostas, por mais inocentes que possam parecer, podem muito bem ser o fim do que estava apenas a começar...
Há algo de mágico na forma como a autora consegue pegar num cenário tão aparentemente simples como o da vida escolar e fazer dele a base de toda uma série de temas relevantes. Primeiro, a condição de David e o difícil luto de Kit. Depois, a privacidade na era das redes sociais. E ainda, em torno de tudo isto, a necessidade de aprender a aceitar, a perdoar e a evoluir com os obstáculos da vida. Há na história destas duas personagens todo um percurso de crescimento, e este só se torna ainda mais marcante pelo facto de ambos estarem a passar por uma fase difícil, mas também capaz de lhes abrir os olhos para novas realidades. À sua maneira, os obstáculos levam-nos a crescer e a forma como a autora desenvolve esta caminhada é algo de simplesmente brilhante. 
Também muito impressionante é a forma como as pequenas grandes revelações se conjugam com a relativa naturalidade do quotidiano das personagens. A vida não para - e a escola muito menos. E, apesar das grandes mudanças que Kit e David estão a viver, a vida normal continua a desenrolar-se à volta deles, o que cria um muito cativante equilíbrio entre mudança e normalidade. Equilíbrio esse que, ao sofrer a influência dos novos desenvolvimentos, acaba por ser também o que define os contornos da ligação entre os protagonistas.
E depois há emoção. Aliás, emoção é o que mais abunda nesta história. A ternura das relações familiares, a mistura de choque, angústia e compreensão provocada pelas grandes viragens, a descoberta de um amor frágil que começa a despontar e o tão difícil - mas tão necessário - sentimento de pertença a algum lugar. Nada disto é fácil, na verdade. E, porém, é fácil sentir com as personagens, nos bons e nos maus momentos. É fácil viver com eles esta história e é provavelmente por isso que o final tem um impacto emocional tão grande.
Crescimento, superação e descoberta. São estes os elementos definidores nesta história. Uma história tão cativante pelas personagens em si como pelo percurso de crescimento e pela mensagem de aceitação que dele resulta. E em que tudo parece surgir precisamente na medida certa, para construir uma leitura envolvente, surpreendente e muito, muito emotiva. Uma belíssima história, em suma, que recomendo incondicionalmente. 

Autora: Julie Buxbaum
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: O Bom Ditador II - A Expansão, de Gonçalo JN Dias

Matthias um rapaz que viveu isolado com a sua família, lutando pela sobrevivência, dá os primeiros passos fora da sua fazenda, numa sociedade que emerge das cinzas.
Sara uma jovem que, aparentemente, foge para leste, para poder escapar das garras de um Estado opressor.
Gustavo, após 15 anos de poder, decidiu que está na hora de encontrar um sucessor. No entanto, uma surpresa vinda do passado poderá mudar os seus planos.
O destino dos três irá cruzar-se.


O Bom Ditador - O Nascimento de um Império: https://www.amazon.com/dp/B01A5YYQ7I

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Divulgação: Novidades Presença

Laura é uma mulher realizada. Tem uma carreira bem-sucedida, um casamento estável com um homem rico e um filho, Daniel, que ela adora.
Quando Daniel, estudante de medicina de 23 anos, conhece Cherry, uma belíssima e inteligente rapariga oriunda de um meio mais modesto, Laura acolhe-a de braços abertos.
Mas Laura começa a desconfiar que a sua futura nora não é bem o que aparenta ser...
Laura tentará a todo o custo afastá-la da vida de Daniel. Mas Cherry não é fácil de afastar...
Um thriller psicológico de cortar a respiração.

Michelle Frances é uma autora britânica. Licenciou-se em Inglaterra na Bournemouth Film School, em 1996, e concluiu o mestrado no American Film Institute, Los Angeles, em 1998. Após o seu regresso a Londres, trabalha há cerca de quinze anos como produtora e editora de argumentos para canais de televisão, como a BBC. A Namorada é o seu romance de estreia, que se tornou de imediato um bestseller e cujos direitos de publicação foram vendidos para 15 países.

Cass vive momentos difíceis desde o dia em que viu aquela mulher dentro de um carro estacionado no bosque . Agora sabe que a mulher foi assassinada e que ela nada fez para ajudar. Tenta afastar o caso da sua mente , mas o que poderia ela ter feito? Se tivesse parado, teria provavelmente acabado também por ser uma vítima . Mas, desde então, Cass anda perturbada, esquece-se das coisas mais básicas: Onde deixou o carro? Tomou a medicação? Qual o código do alarme de casa? Consumida por um profundo sentimento de culpa, a única coisa que não consegue esquecer é a imagem daquela mulher dentro do carro. E há ainda as chamadas telefónicas anónimas e a sensação de que alguém anda a observá-la. Mas quem poderá estar por detrás disso?

B. A. Paris é a autora britânica do bestseller internacional Ao Fechar a Porta, publicado pela Editorial Presença que conta com mais de um milhão de exemplares vendidos apenas no Reino Unido e é um bestseller do New York Times. Os direitos das suas obras foram adquiridos por 37 países. Tendo vivido durante muitos anos em França, regressou recentemente ao seu país-natal, onde reside com o marido e as cinco filhas.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

The Trouble Boys (E.R. Fallon)


Quando era criança, Colin O’Brien mudou-se para Nova Iorque com a família porque a mãe precisava de mudar de ambiente. Mas a realidade que encontraram em nada corresponde às expectativas. A vida parece mover-se à base de favores e ligações locais e não tarda a que o preço de viver num sítio desses se torne evidente. Ao chegar, Colin fez apenas uma amizade, com Johnny Garcia, e essa amizade parece ser a única âncora na vida de Colin. Mas o tempo passa. Tragédias acontecem. E, à medida que os caminhos dos dois amigos se separam, também as suas vidas se embrenham mais profundamente nas das organizações criminosas que parecem governar o local. Para prosperar num tal cenário, é preciso abandonar todas as lealdades anteriores. E, ao fazê-lo, Colin descobre que a vida não vale assim tanto…
Acompanhando toda a vida e crescimento de Colin e, com ele, o das muitas pessoas que entram e saem do seu mundo, esta é uma história com tanto de esperança como de desencanto. No início, Colin é tão inocente como qualquer criança, mas isso não tarda a mudar com a descoberta do mundo real. E, à medida que a sua posição se altera, de vítima a protector e depois a executor dos desejos de outrem, também Colin muda. É esta mudança o cerne deste livro, e também a sua tragédia, pois, quando a inocência de Colin se perde, o seu destino torna-se inevitável. E esse conhecimento torna o caminho muito mais intenso.
Colin é uma personagem impressionante, mas é ver o seu caminho no contexto da época que torna tudo mais marcante. As relações e inimizades intrincadas entre os diferentes grupos – e até dentro do mesmo grupo – tornam tudo imprevisível e, ao mesmo tempo, inevitável. E, sabendo como tudo terá de terminar para uma tal personagem, é de certa forma avassalador acompanhar as esperanças, medos, paixões e escolhas de Colin – mesmo nos momentos em que é mais difícil entender os seus actos.
Embora o cenário seja algo complexo, é fácil entrar nesta história. A escrita é precisa, realçando os momentos mais importantes, mas explorando também os pontos de vista de Colin. E a narrativa flui com um equilíbrio quase perfeito de choque e naturalidade. Há ternura e amor, crescimento e amizade – e depois há morte, traição, desencanto. E tudo faz sentido no fim – até mesmo a tristeza que fica da conclusão.
Intenso, intrigante e, a espaços, surpreendentemente emotivo, no fim, tudo se resume a isto: uma história de grandes esperanças em tempos sombrios e de crescer como algo muito diferente do que se esperava nos sonhos de infância. Uma boa leitura, em suma.

Autora: E.R. Fallon
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

Todos os anos, Belly costuma contar os dias que faltam para o verão, e só pensa em regressar à casa de praia para estar novamente com Conrad e Jeremiah. Contudo, a amizade que sempre uniu os três jovens parece estar a desmoronar-se e tudo parece diferente.
Até ao dia em que Jeremiah conta a Belly que Conrad desapareceu, e lhe pede ajuda para o encontrar. Belly fará de tudo para descobrir onde está o amigo. Mas isso só será possível se regressarem à casa de praia.
Voltará tudo a ser como dantes ou estará esta amizade num ponto sem retorno?
Uma história intensa sobre o amor e a forma como ele nos ajuda a trilhar o nosso caminho.

Jenny Han nasceu e cresceu na costa leste dos Estados Unidos da América. Estudou na Universidade da Carolina do Norte e fez um mestrado em Escrita para Crianças em Nova Iorque, onde mora actualmente.
Se pudesse escolher um emprego, Jenny Han gostaria de ser ajudante do Pai Natal, provadora de gelados ou a melhor amiga da Oprah, entre outras coisas perfeitamente vulgares. Tem uma predilecção por meias até ao joelho e come qualquer sobremesa, desde que seja de maracujá.
Com seguidores em todo o mundo, Jenny Han é uma autora bestseller, e o seu livro A Todos os Rapazes que Amei (ed. Topseller, 2014) está a ser adaptado ao cinema, com estreia marcada nos EUA para Agosto.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Que Sombra te Acompanha (Tiago Gonçalves)

Alfredo trocou a aldeia pela cidade em busca de uma vida melhor, mas os anos passaram e ficou apenas o desencanto e a solidão. Agora, deambula pelas ruas, apenas com a sombra por companhia, e tenta entender o seu lugar no mundo. Sozinho, pondera sobre a sua vida e a do mundo que o rodeia - mas um reencontro inesperado leva-o a questionar o que nunca antes questionou...
Muito breve e centrado mais na vida interior do protagonista do que propriamente em movimentos e acções, este é um livro em que o elemento fundamental é o pensamento. O pensamento que leva a Alfredo a recordar e a questionar o que fez e não fez, a comparar o lugar onde vive com o que deixou e as marcas que o tempo traçou nessas diferentes recordações. E, sendo certo que algo se perde pela brevidade - seria interessante conhecer mais a fundo o percurso efectivo do protagonista, para lá da forma como ele se vê - , também o é que este mergulho no interior faz especial sentido se se tiver em conta que a história de Alfredo - de deixar tudo para trás em busca de algo melhor que acaba por não se encontrar - poderia ser a de muitas outras pessoas.
É interessante, por isso, que marquem mais os sentimentos que a acção - ainda que haja um elemento presente que, apesar da brevidade, consegue acrescentar à narrativa um intrigante elemento de mistério. E os sentimentos de Alfredo são tão vastos quanto sombrios, contendo o espaço de uma vida inteira nas memórias de um dia - e em poucas dezenas de páginas. Fica alguma curiosidade insatisfeita quanto ao resto, mas a verdade é que o essencial parece estar lá, no deambular de Alfredo e na forma como o autor dá voz aos pensamentos e desilusões do seu protagonista.
Não é uma história que dê todas as respostas, até porque o mais importante parecem ser precisamente as perguntas. Mas fica, da solidão do protagonista, uma imagem precisa da melancolia de quem deixa tudo para trás e vai à procura, para encontrar algo bem diferente do que esperava. E é essa impressão de melancolia, mais que as partes da jornada que ficam por contar, que se demora no pensamento depois de terminada a leitura.
Breve, mas cativante. Simples, mas pertinente. Assim é, pois, este Que Sombra te Acompanha. Uma leitura rápida, mas cheia de sentimento e de introspecção. Uma boa história, em suma. 

Título: Que Sombra te Acompanha
Autor: Tiago Gonçalves
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Topseller

Às vezes é preciso construir algo sem ter nada de sólido por onde começar.
Vanja é uma trabalhadora ao serviço do Estado. Como todas as outras pessoas. Porque o estado somos nós. A comuna somos nós. O comité somos nós. Todas as regras, todas as imposições, todas as ordens e toda a burocracia são necessárias para garantir que o mundo não se desfaça.
O mundo corre o risco de se desfazer. Se não marcarmos cuidadosamente os nossos pertences, se cada objecto não estiver etiquetado e for lembrado regularmente do que é e do que pode ser vai acabar por se desfazer numa espécie de lodo viscoso. E, portanto, o bom comportamento é fundamental. O método também. A desobediência pode significar o fim.
Mas Vanja precisa de mais. Precisa de conhecer, precisa de entender. Precisa de saber porque é que as suas palavras são capazes de tanto, e, no entanto, utilizadas para tão pouco.
Será que a obediência e a destruição são as únicas duas hipóteses?

Karin Tidbeck é originária de Estocolmo, na Suécia. Vive e trabalha em Malmö, como escritora, tradutora e professora de Escrita Criativa. Escreve ficção em inglês e sueco. A sua estreia em inglês, Jagganath, ganhou o Crawford Award e fez parte da shortlist do World Fantasy Award.
Amatka, o primeiro romance publicado em Portugal, é uma fábula política, na linha de 1984, sobre o controlo social, a rejeição da mudança e as revoluções mais inesperadas.

Quando Gavin decide pegar fogo a todos os objectos que lhe lembravam a morte do seu companheiro, Syd, não imaginava que uma câmara estivesse a filmar. Quando Joan Lennon viu na televisão que um ator famoso de Hollywood estava a fazer uma grande fogueira no quintal, não imaginava que se tratasse de um velho amigo do pai.
No entanto, ambas estas coisas eram verdade.
Joan tem «memória fotográfica». Recorda-se de praticamente toda a sua vida. É por isso que tem tanto medo de ser esquecida. E é também por isso que está a escrever uma canção. Tal como o seu ídolo, e inspiração para o seu nome, John Lennon, ela quer imortalizar-se através da música.
Gavin, por seu lado, precisa de esquecer. No entanto, escondido em casa dos pais de Joan, encontra a maior das tentações. Joan conhecia Syd, e lembra-se, ao pormenor, de todos os momentos em que esteve com ele.
Poderão estes dois ajudar-se? Ou estarão apenas a caminhar para a desilusão?

Val Emmich é um homem americano que ganha a vida a fazer muitas coisas. Começou a tocar e a escrever música com 15 anos. Depois de frequentar a Universidade de Rutgers, assinou um contrato com a Sony/Epic e já lançou mais de uma dúzia de álbuns.
Entretanto, também construiu uma sólida carreira como actor. Já entrou em Vinyl, 30 Rock e Ugly Betty. Estreia-se agora na escrita de ficção com Uma Canção Nunca se Esquece.
Quando não está na estrada, vive na cidade de Jérsia, no estado de Nova Jérsia.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

A Casa da Beleza (Melba Escobar)

Karen mudou-se para Bogotá para poder construir uma vida melhor para si e para o filho. Mas a realidade é bastante mais dura do que esperava. Mesmo a trabalhar num conceituado salão de beleza - apropriadamente chamado Casa da Beleza - o dinheiro está longe de chegar para os seus planos e as coisas só tendem a piorar. Ainda assim, o seu trabalho fá-la entrar em contacto com mulheres influentes, desde uma psicanalista à mulher de um congressista, e julga ter até criado algumas amizades. Mas uma das suas clientes morreu em circunstâncias misteriosas pouco depois de uma sessão com Karen. E os responsáveis têm todo o tipo de meios disponíveis para a calar.
Apesar de ter uma morte no centro de grande parte do enredo, um dos primeiros aspectos a surpreender neste livro é que o elemento criminal está muito longe de estar no cerne da narrativa. Sim, há um cadáver, há uma família à procura da verdade e chega até a haver uma espécie de investigação. Mas, à volta disto, há um mundo de influências nas mãos dos poderosos - e de resignação por parte daqueles que não o são. E é este retrato de uma sociedade de meandros obscuros o que realmente define esta história.
Ao contar a história pela voz de uma das clientes de Karen, acompanhando todavia de perto certos aspectos do percurso das restantes personagens, a autora consegue adensar o mistério, ao mesmo tempo que realça o tal lado negro da sociedade que tão presente está até mesmo nas pequenas coisas. Karen parece ser o centro para onde tudo o resto converge, mas também para as outras personagens há características vitais que, num plano mais ou menos secundário, contribuem ainda assim em muito para a nitidez do retrato global. E que retrato é esse? A de um cenário onde tudo é possível com dinheiro e influência e onde a impunidade se afirma em toda a sua expressividade.
Talvez seja em parte por isso que fica a sensação de um final demasiado apressado, pois a construção das relações e das influências foi tão intrincada que custa a aceitar uma conclusão tão súbita. Ainda assim, e apesar desta insatisfação que fica com o que é deixado por aprofundar, é difícil ignorar o impacto do mundo em que Karen e as suas clientes se movem. Um mundo onde a verdade pode ser negada, onde todas as conspirações parecem ser possíveis e onde virar costas é apenas demasiado fácil. Faz sentido, então, a dúvida com que certas coisas terminam, apesar da tal vontade que fica de descobrir um pouco mais.
Fica então a impressão de uma narrativa que, mais que a história de uma morte inexplicável, é um relato de vidas vulneráveis num mundo em que a influência tudo pode. Intrigante, com uma escrita envolvente e um enredo com vários momentos impressionantes, uma boa leitura.

Autora: Melba Escobar
Origem: Recebido para crítica