Lucy e Gabe conheceram-se no dia 11 de Setembro de 2001 - o dia em que o mundo mudou e o mesmo aconteceu com as suas vidas. Talvez tenha sido a experiência de partilhar aquele dia ou talvez tenha sido uma manifestação do destino, mas entre ambos nasceu um amor firme e duradouro. Só que nem sempre o amor basta. Lucy e Gabe têm sonhos distintos e o de Gabe passa por correr o mundo em busca de fotografias capaz de mudar mentalidades, pôr fim a guerras e acabar com o sofrimento. Passa por deixar Lucy para trás e é isso que acaba por fazer. Mas nem os anos que passam nem a distância e a falta de contacto - nem sequer outros relacionamentos - podem apagar o elo que os unem. E quando, demasiados anos depois, ante a mais difícil de todas as decisões, é preciso dar enfim uma conclusão ao que os uniu, Lucy sabe que tem de lhe contar o seu último segredo...
Uma boa forma de definir a essência deste livro seria, talvez, um equilíbrio de imperfeições. Imperfeições premeditadas, entenda-se, pois uma das primeiras coisas a saltar à vista nesta leitura é que nenhuma das personagens é perfeita. O cerne da história pode ser uma relação romântica que se prolonga através do tempo e das dificuldades, mas Lucy e Gabe têm divergências e desacordos, como acontece a qualquer ser humano, e pontos que nunca podem ser comuns. E isto aplica-se também a Darren, o terceiro elemento central nesta história de relações. Darren, Lucy e Gabe - tão capazes de manifestações de puro amor como de gestos de condescendência e de desprezo para com o papel e as aspirações dos outros.
Ora, isto desperta, por vezes, sentimentos contraditórios. É fácil admirar os grandes sonhos de Gabe, mas não a sua disponibilidade para deixar tudo o resto para trás. É fácil sorrir ante o humor e os grandes gestos de Darren, mas não ante a forma como desvaloriza os sonhos e o papel de Lucy na vida familiar. E quanto a Lucy, é fácil entender as suas dúvidas e inseguranças, ainda que nem sempre a forma como lida com os seus segredos. São personagens ambíguas e talvez por isso despertem um pouco menos de empatia. Mas é também isso que as torna mais reais.
Também a forma como a história está contada reflecte este equilíbrio delicado. É Lucy a contar a história a Gabe, o que desde logo promete grandes revelações para o final. Mas além disso, este registo pessoal de confidência à pessoa amada, torna as emoções mais abertas, mais intensas, o que reforça tanto o impacto dos pequenos momentos como o das últimas revelações.
É, pois, uma história de gente imperfeita - à procura da perfeição possível. A história de um amor frágil, mas duradouro, e das vidas complexas (e, sim, imperfeitas) que giram à volta desse amor. Envolvente, emotivo e com um tom intimista que torna tudo mais marcante, uma leitura que cativa desde o início e que, nas grandes e nas pequenas coisas, não deixa de surpreender até ao fim.
Título: O Que Fica Somos Nós
Autora: Jill Santopolo
Origem: Recebido para crítica
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