Agatha Christie está a passar por uma fase difícil, ainda a sofrer com a morte da mãe e com o seu casamento em vias de desmoronar. Mas a vida está prestes a tornar-se ainda mais negra. No metro, um homem empurra-a para a linha, para depois a resgatar no último minuto, e esse homem tem as piores das intenções. Determinado a livrar-se da esposa, decidiu tirar proveito dos talentos únicos de Mrs. Christie e recrutá-la para matar a incómoda Flora Kurs. Ciente de que, se recusar, a sua família e reputação ficarão arruinadas e sem alternativas, Agatha Christie desaparece misteriosamente. Mas o seu talento para contar histórias de assassínios está longe de corresponder a uma acção impiedosa na vida real. E realizar o plano de Kurs - ou encontrar uma forma de o travar - terá sempre um preço terrível...
Um dos aspectos mais cativantes deste livro, e um que desde muito cedo se evidencia, é que, tendo como protagonista Agatha Christie, lê-se... bem, como um romance de Agatha Christie. Enigmático, cheio de reviravoltas, com personagens movidas pelo desespero ou pela ambição e com um vilão bastante arrepiante, é o tipo de policial que prende desde as primeiras páginas. E, com o seu crescendo de intensidade e a escolha impossível a que a protagonista se vê forçada, rapidamente se torna difícil largar o livro antes do fim.
É também o início de uma série, embora o mistério central tenha princípio, meio e fim. Fica, por isso, a agradável sensação de uma leitura completa e independente, com todos os seus elementos pesados nas medidas certas e a também agradável sensação de possibilidade - de muitas possibilidades a explorar no livro seguinte. Junta-se, pois, o melhor de dois mundos: a satisfação de um caso resolvido e o potencial do muito mais que poderá haver para descobrir.
Ainda um outro ponto forte nesta história é a alternância de pontos de vista - e de narrador. As partes de Mrs. Christie são narradas na primeira pessoa, permitindo um olhar mais claro e pessoal sobre os seus dilemas e sentimentos, o que é particularmente relevante tendo em conta as suas circunstâncias. E os restantes pontos de vista - Una, Davison, Kenward - mostram o mundo em volta, não só no que diz respeito à investigação do caso, mas também aos elementos pessoais que poderão servir de cobertura aos inevitáveis segredos.
Intenso, enigmático e cheio de surpresas, mas também com muita emoção e um toque de leveza resultante da naturalidade com que tudo é contado, trata-se, pois, de uma leitura cativante e surpreendente, não só pelo intrigante enredo, mas também - e principalmente - pela abordagem diferente a um elemento real da vida da protagonista. Muito bom.
Título: Talento para Matar
Autor: Andrew Wilson
Origem: Recebido para crítica
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