Jalan Kendeth pode ser um príncipe e o neto da Rainha Vermelha, mas isso não faz dele um homem particularmente corajoso. Dedicado apenas aos seus prazeres, não pensa em muito mais do que satisfazê-los e fugir aos cobradores que, inevitavelmente, o perseguem. Mas vêm rumores do norte, rumores de um Rei Morto que, auxiliado por necromantes, fez dos mortos o seu exército. E, embora Jalan não preste grande atenção a isso, a sua presença no lugar errado à hora errada liga-o a um homem que é tudo o que ele não é - nobre, corajoso, movido por grandes valores. E a única maneira de quebrar a maldição que os une é seguir para norte e combater o que os puxa para lá...
Situado no mesmo mundo e na mesma linha temporal da Trilogia dos Espinhos, este é um livro que, podendo ser lido sem qualquer conhecimento prévio da história do mundo, se torna ainda mais impressionante se olharmos para os paralelismos que existem. Sim, o mundo é o mesmo e, portanto, os grandes problemas também os são. Mas o mais marcante é que basta este primeiro volume para antecipar um percurso de crescimento tão notável para Jalan como o que Jorg sofreu. O Jalan do fim do livro não é o mesmo que nos foi apresentado no início da história. E se o Jalan inicial já tinha carisma para dar e vender... bem, o que se segue só pode ser fantástico.
Outra das muitas qualidades deste livro é a sempre fascinante escrita do autor e a forma como, ao longo de todo o enredo, surgem inúmeras frases memoráveis. Além disso, a voz de Jalan parece ajustar-se na perfeição à sua personalidade, o que, além de despertar uma surpreendente proximidade, pois realça as emoções (principalmente o medo) do protagonista, confere a tudo, desde os acontecimentos aos cenários por onde passam, uma perspectiva bastante mais invulgar.
Nem só de Jalan vive a história, ainda que, com as suas inúmeras peculiaridades, bastasse ele para fazer com que a leitura valesse a pena. E, além de umas quantas figuras mais ou menos secundárias, mas todas relevantes, que contribuem em muito para a aura de mistério e intensidade que rodeia toda a narrativa, há Snorri, em tudo o oposto e em tudo complementar a Jalan. Snorri, com a sua posição delicada, o seu papel de estrangeiro vulnerável, a sua força física e a sua nobreza interior, é o contraponto perfeito a um príncipe vindo de todos os prazeres e que parece começar a crescer na provação.
E a história em si é irresistível, desde os momentos iniciais de ócio e de pequena intriga de um príncipe que procura, acima de tudo, salvar a própria pele, à longa viagem para norte, com todas as descobertas e perigos, e que culmina no derradeiro confronto com o que seguiram e os perseguiu. Viagem que, cheia de episódios marcantes em si mesma, ganha ainda um toque adicional de fascínio ao cruzar-se com personagens já conhecidas de outras andanças e que, dada a sobreposição temporal entre as duas trilogias, é particularmente agradável reencontrar.
Intenso, cativante e cheio de surpresas e revelações, tanto no desenrolar da história como, acima de tudo, no crescimento das personagens, eis, pois, um livro que está mais que à altura das elevadíssimas expectativas deixadas pela Trilogia dos Espinhos. Com um enredo brilhante, personagens fascinantes e uma escrita que nunca deixa de surpreender... mal posso esperar para saber o que acontece a seguir.
Título: Príncipe das Trevas
Autor: Mark Lawrence
Origem: Recebido para crítica
Também o adorei e sofro a mesma agonia da espera.
ResponderEliminarExcelente crítica, se não o tivesse já lido estaria a salivar por ele.
Gostei do final mas tudo o resto parecia já um tema batido.
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