Laura tem uma vida quase perfeita. Com uma carreira que a satisfaz, uma situação financeira e um casamento duradouro, ainda que distante, a verdade é que não lhe falta nada. Mas a sua tranquilidade é abalada quando o único filho, que está prestes a sair de casa, surge com a nova namorada. Cherry é uma rapariga ambiciosa, apesar de vir de um meio pobre, e está disposta a lutar até às últimas consequências pela vida que julga merecer. E é precisamente isso que desperta as suspeitas de Laura. Aos olhos dela, Cherry é uma interesseira a aproveitar-se do coração do filho. E, a partir do momento em que manifesta a sua opinião, torna-se também vulnerável... porque Cherry não está disposta a afastar-se.
História de perigos e de manipulações, mas também de sonhos e de ambições num mundo onde as diferenças de classe são ainda muito vincadas, esta é uma história que surpreende, em primeiro lugar, pela ambiguidade moral das suas personagens. É fácil, de início, imaginar Cherry como a vilã e Laura como a mãe protectora, mas nenhuma delas é simplesmente isso. Cherry quer uma vida boa, mas a verdade é que também tem sentimentos de culpa e afectos vincados. Laura, por sua vez, é movida principalmente pelo instinto protector, mas para proteger o filho e o manter consigo está disposta a cruzar várias barreiras morais. E, à medida que o enredo evolui, torna-se bastante evidente que nenhuma delas é boa ou má, mas um pouco de ambas. E que o único mais inocente em todo o cenário é Daniel, apanhado no meio da guerra entre as duas.
É uma história de ritmo relativamente pausado para o género, talvez devido à opção de explorar não só os acontecimentos, mas principalmente os pensamentos e o que faz mover as personagens. E, sendo certo que isto abranda um pouco o ritmo da leitura, também torna a história bastante mais complexa, não só porque as personagens têm uma maior profundidade, mas principalmente porque evocam também algumas questões relevantes, como as diferenças sociais e a forma como isso molda as relações familiares.
Claro que, não havendo personagens perfeitas, também não é propriamente de esperar um final perfeitamente limpo e muito menos um felizes para sempre. O que surge, sim, é um final inesperado, com a resolução possível e adequada para uma teia de erros e mentiras e que surpreende não só pelos acontecimentos, mas principalmente para intensidade com que estes são relatados.
Fica, então, a imagem de uma história intrigante, repleta de personalidades complexas e em que nada é tão simples ou linear como uma simples divisão entre heróis, vítimas e vilões. Cativante, intensa e surpreendente, uma bela história e uma boa leitura.
Título: A Namorada
Autora: Michelle Frances
Origem: Recebido para crítica
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