Começou por ser um jogo, atrair para si durante algum tempo as sempre oscilantes atenções do rei. Mas, sem saber muito bem como, Hollis parece ter conquistado um lugar duradouro junto do rei Jameson, ainda que essa posição não seja muito bem vista pelos nobres. Mas o que Hollis julgava sempre ter desejado - um compromisso com o rei, uma ascensão apoteótica, a posição de rainha - não é afinal o que ela imaginava e a entrada em cena do jovem Silas Eastoffe mostra-lhe que também não é realmente amor o que julgava sentir pelo rei. Tudo aquilo por que tanto se esforçou corre agora o risco de desabar. E, como se não bastasse, há intrigas de corte mais profundas do que a mera luta pelo coração de um rei. E Hollis está prestes a vê-las invadir o seu mundo...
Provavelmente o aspecto mais cativante desta história, embora assuma, por vezes, um papel relativamente secundário, é a construção dos reinos e das diferentes relações que os envolvem. Mais do que a história de amor, que é envolvente, e as intrigas de corte, que são... bem, intrigantes, são as diferenças entre reinos e os segredos de cada um deles que mais despertam a curiosidade. E é precisamente por isso que o ponto fraco que fica na memória vem sobretudo da brevidade da história. Tudo acontece muito depressa e, embora não falte nenhuma informação essencial, fica a sensação de que um maior desenvolvimento, sobretudo no que toca ao contexto global, mas também às relações, teria tornado a história mais empolgante.
São as relações de Hollis com o rei e com Silas o ponto fulcral do enredo e, neste aspecto, há dois pontos a destacar. Primeiro, a transição gradual do que parece uma relação apaixonada, ainda que meticulosamente construída, para um revelar também gradual das falhas e das divergências; depois, as óbvias diferenças entre Jameson e Silas, não só de personalidade, mas sobretudo no que esperam de Hollis. Também aqui a brevidade acaba por deixar alguma curiosidade insatisfeita, pois há explicações que ficam por dar e um dos grandes desenvolvimentos ocorre de forma um pouco apressada. Ainda assim, no que toca à emotividade, é relativamente fácil sentir uma certa empatia - ainda que, surpreendentemente, esta se dirija, por vezes, para outras personagens que não as principais.
Sendo uma história narrada na primeira pessoa, é apenas natural que seja Hollis a assumir o protagonismo, o que significa que certos mistérios e segredos (nomeadamente no que respeita a Isolte) são desvendados muito aos poucos. E sendo este apenas o primeiro volume, é também natural que muito fique sem resposta. Neste aspecto, porém, importa destacar outra perspectiva: é que a forma como tudo termina pode efectivamente deixar tudo em aberto, mas atinge aí um equilíbrio adequado. A partir desse ponto, o percurso de Hollis terá inevitavelmente de ser diferente. E a nova fase promete ser também bastante intrigante.
Poderia, talvez, ser um pouco mais extenso no desenvolvimento das relações e do contexto. Mas, cheio de emoções fortes, de reviravoltas inesperadas e de pequenas intrigas que assumem grandes dimensões, consegue, ainda assim, cativar desde a primeira página e deixar uma enorme curiosidade em saber o que acontece a seguir. E basta isso para fazer deste A Prometida um belo início de série.
Título: A Prometida
Autora: Kiera Cass
Origem: Recebido para crítica
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