A vida é muitas vezes feita de rotinas, de passos repetidos em resposta às expectativas. Expectativas essas que muitas vezes nem são as nossas. Há um plano a seguir, ambições a definir e uma certa sucessão de passos correspondentes às normas sociais. Mas é isso que queremos? Sentimo-nos bem com o que fazemos? O que este livro propõe é uma reflexão pessoal e intransmissível sobre o que realmente somos e de que forma nos realizamos. Através de um conjunto de textos relativamente breves - acompanhados por umas quantas frases particularmente certeiras - leva-nos a questionar a felicidade... e o que podemos realmente fazer para a alcançar.
Algo que, por vezes, tende a acontecer neste género de livros é a inclinação para um de dois extremos: ou tudo parece demasiado fácil ou tudo se cinge a um conjunto de regras muito rigorosas. Bem, este livro parece encontrar o ponto de equilíbrio entre as duas possibilidades. Por um lado, ao recorrer ao seu percurso pessoal, o autor individualiza e humaniza as perspectivas, abrindo caminho a uma percepção individual. Podemos não concordar com tudo, mas é muito fácil ler estes textos e extrair deles aquilo que faz sentido para nós. Por outro lado, regras universais rigorosas é coisa que não existe neste livro. Dizem que o caminho faz-se caminhando e é precisamente essa a impressão que fica desta leitura: uma reflexão pessoal, assente em experiências pessoais, da qual será possível retirar o que mais se harmoniza com cada leitor.
Este registo pessoal tem ainda a qualidade acrescida de criar uma sensação de aproximação. Aliada a uma escrita muito fluida, além de surpreendentemente directa, tendo em conta que são sobretudo reflexões, esta visão individual da vida - em ligação com o mundo, mas feita de passos pessoais e intransmissíveis - cria uma maior proximidade, como que de conversa entre amigos, de partilha de experiências. Mais uma vez, podemos não concordar com tudo ou não reconhecer algumas experiências, mas também isso faz parte do que torna a leitura interessante, pois é bem provável que deixe uma marca diferente em cada um dos seus leitores.
Não é propriamente um guia universal para a vida - até porque isso não existe - mas está repleto de ideias e conselhos interessantes. E, escrito de forma cativante, com uma visão muito pessoal e um percurso que, embora individual, fala ao que há de comum em todos nós, lê-se com a leveza de uma conversa entre amigos e fica na memória sobretudo pela proximidade que evoca. Envolvente e inspirador, uma boa leitura.
Autor: Manuel Clemente
Origem: Recebido para crítica
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