domingo, 12 de julho de 2020

A Rapariga do Lago (Charlie Donlea)

Summit Lake é um lugar idílico, cuja tranquilidade acaba de ser abalada pelo súbito homicídio, na casa onde se encontrava a estudar, da jovem filha de um advogado de prestígio, que se encontrava ali a estudar para um exame. Mas, mais estranho ainda do que o próprio crime, é a aparente insistência das autoridades em atirar com as culpas para um assaltante aleatório cujas acções acabaram por se descontrolar. Ninguém acredita verdadeiramente nessa teoria. E muito menos Kelsey Castle. Enviada para Summit Lake com a suposta missão de seguir uma história aparentemente inócua - mas, na verdade, para recuperar do seu próprio trauma - Kelsey cedo se apercebe de que a história não bate certo. E está decidida a descobrir a verdade. Por Becca Eckersley - e por si mesma.
Mais do que o mistério propriamente dito - embora tenha também muito de cativante - ou até do que a escrita também muito envolvente, é a capacidade do autor de manipular as impressões que transmite ao longo da história que torna esta leitura tão empolgante. Dividido entre a investigação de Kelsey e os últimos dias de Becca, traça com a iminência do crime um crescendo de intensidade, ao mesmo tempo que, através da sua investigação, vai seguindo os passos das múltiplas possibilidades. Além disso, há, ao longo do percurso, vários factos que parecem evidentes, mas que escondem, na verdade, algo absolutamente diferente. E assim, a história vai avançando de surpresa em surpresa, despertando e descartando suspeitas até ao que acaba por ser um final intenso, surpreendente e inesperadamente desolador.
Com este crescendo de intensidade, há um aspecto que acaba por passar para segundo plano. O porquê do encobrimento e as possíveis consequências associadas a essa acção acabam por assumir um papel secundário face às derradeiras e intensas revelações. Mas também aqui sobressai a intensidade. É que é tão inesperado o impacto dos últimos capítulos que a ligeira curiosidade insatisfeita que fica relativamente a estes aspectos acaba por ser também secundária, até porque não prejudica em nada a linha essencial do enredo.
Ainda um último aspecto particularmente marcante é o desenvolvimento das personagens, sobretudo nos contrastes que as várias revelações vão estabelecendo. As relações de Becca com os diferentes suspeitos, a amizade entre Kelsey e Rae, o desabrochar de uma possível relação com Peter e a recuperação de um trauma através da descoberta da verdade são apenas alguns dos passos que fazem das personagens que habitam este livro figuras tão capazes de cativar como de desconcertar, o que só aumenta a vontade de saber o que lhes acontecerá a seguir. Ninguém é perfeito nesta história, o que, além de expandir o leque de suspeitos, tem o condão de humanizar as personagens.
Pode não dar todas as respostas, mas as que dá são deveras impressionantes. E é também isto que, associado a um enredo cheio de surpresas, com um cenário fascinante e um núcleo de personagens memoráveis, torna esta leitura tão envolvente. Vale bem a pena fazer esta viagem a Summit Lake.

Autor: Charlie Donlea
Origem: Recebido para crítica

1 comentário:

  1. Olá Carla,
    Gostei muito da sua resenha, tenho muita vontade de ler esse livro e de conhecer a escrita do autor, sempre muito elogiado. Só acredito que me incomodaria um pouco o fato de não dar todas as respostas.

    Beijo!
    www.amorpelaspaginas.com

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