terça-feira, 21 de julho de 2020

Némesis (Mark Millar e Steve McNiven)

E se um multimilionário aborrecido decidisse pegar na sua fortuna e começar a espalhar o caos? Bem, as consequências podiam ser devastadoras. E foi exactamente isso que Némesis fez. Com meios e astúcia aparentemente ilimitados ao seu dispor, parece andar pelo mundo a matar polícias de forma maquiavélica e meticulosamente planeada. Mas é bem possível que tenha finalmente encontrado um adversário à altura. Blake Morrow já resolveu muitos casos difíceis na vida e está decidido a que este não seja a excepção. Mas, com um inimigo que parece saber tudo, a batalha parece estar perdida à partida. Ou será que não?
Basta a premissa desta história para despertar curiosidade. Afinal, todos conhecemos a história de um milionário que se transformou em super-herói apesar de os seus únicos poderes serem o dinheiro e a inteligência. Bem, de certa forma, Némesis funciona como uma inversão de Batman. Uma inversão violenta, implacável e muito, muito maquiavélica.
Não se trata, pois, de um livro que nos deixe a torcer pelo vilão. Não. Desde a sua alegada história de vingança à muito evidente falta de escrúpulos no que toca a planear mortes, Némesis não parece conter em si uma única partícula de bondade e, assim, é natural que a empatia vá maioritariamente para Blake Morrow. Mas isso não quer dizer que não haja espaço para a ambiguidade. Parte da vulnerabilidade do chefe da polícia vem dos segredos que o envolvem e a percepção de que é possível falhar sem más intenções é também uma força bem presente neste livro. Além disso, esta presença ambígua de rasgos emocionais cria um contraste poderoso com a base essencial da história onde dominam a violência, o conflito e a brutalidade.
E, por falar em brutalidade... Sendo, acima de tudo, a história de um super-vilão - ainda que o final deixe outro tipo de possibilidades em aberto - não é propriamente uma surpresa que, visualmente, faça lembrar as histórias de super-heróis, com as grandes cenas de acção e perseguições cheias de movimento. O que mais fica na memória são, ainda assim, dois aspectos: a surpreendente expressividade de um Némesis cuja parte superior do rosto quase nunca é visível e a forma quase tangível como os rasgos de caos - a começar pela situação do comboio logo no início - parecem irromper de cenários aparentemente tranquilos.
Com um protagonista absurdamente fácil de odiar no cerne de um enredo cheio de surpresas, trata-se, pois, de uma história que, embora parecendo ter muito em comum com as aventuras de super-heróis, constrói um percurso totalmente diferente. Intenso, implacável e inesperado em todos os aspectos, um livro que facilmente fica na retina... e na memória.

Título: Némesis
Autor: Mark Millar e Steve McNiven
Origem: Recebido para crítica

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