Primeiro, sonhou com um tesouro. Depois, um sismo fez com que ficasse preso nos destroços de uma torre em ruínas. Por fim, foi visitado por um estranho, que lhe disse que o seu tesouro existia e que partiria para o procurar. Bastariam estes acontecimentos para que Ismael, o pastor, tivesse uma boa história para contar. Mas foram apenas o princípio. É que, assustado e inseguro, Ismael cometeu o erro de falar dos seus sonhos e do estranho homem das ruínas, e os tempos não se compadecem dos que se julgam em contacto com o mundo espiritual. Agora, Ismael está em fuga e o seu caminho está repleto de fenómenos inexplicáveis. Um estranho oferece-lhe um amuleto, que afinal parece conter uma maldição. E o destino toma conta dos seus passos, à medida que novas situações o levam para mais longe da vida que conhecia... e para mais perto do tesouro.
Há dois aspectos essenciais a considerar neste livro: a história e a escrita. E é importante separar estes dois aspectos, porque o que um tem de forças o outro tem de fragilidades, o que faz com que a leitura, não sendo totalmente desagradável, deixe, ainda assim, sentimentos contraditórios. É que há momentos realmente bons, e bastante potencial, nalgumas situações, mas também as fraquezas são evidentes.
Mas comecemos pela história. Centrada principalmente num protagonista, Ismael, o enredo deste livro define-se basicamente pelas suas aventuras. E o que acontece é que estas aventuras têm de tudo, desde naufrágios a batalhas com indígenas, maldições e mouras encantadas, aparições inexplicáveis e viagens no tempo. Em tudo isto há potencial e a história torna-se mais interessante pelo facto de cada peripécia fazer com que Ismael cresça um pouco. O jovem pastor dos primeiros capítulos é muito diferente do Ismael que surge no final, e o seu crescimento, de aventura e de aventura, torna-se ainda mais claro pela forma como cativa os seus companheiros.
Também bastante interessante na construção da história é o conjunto de situações algo caricatas, e, num ou outro momento, enternecedoras, que vão surgindo por entre a acção principal. Algumas das conversas de Ismael com os companheiros de viagem são realmente deliciosas, acrescentando ao enredo um muito agradável toque de leveza.
O grande problema está na escrita. Erros ortográficos, frases com palavras em falta e falhas de pontuação são apenas alguns dos problemas que saltam à vista e que surgem com bastante frequência. Juntando a isto a sensação de que algumas descrições são feitas de modo algo errática - sendo, por vezes, difícil identificar a que personagem se refere - é inevitável que tudo isto prejudique a leitura. É pena, porque uma revisão atenta teria feito maravilhas na resolução da maioria destes problemas.
E é por isso que ficam desta leitura sentimentos contraditórios, porque a história é, de facto, muito interessante, com os seus personagens peculiares e as muitas aventuras que protagonizam. Faltou um pouco mais de atenção ao texto, de modo a corrigir os erros que quebram a envolvência do enredo.
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