quarta-feira, 24 de abril de 2013

A Caminhada (Nelson Teixeira)

Primeiro, sonhou com um tesouro. Depois, um sismo fez com que ficasse preso nos destroços de uma torre em ruínas. Por fim, foi visitado por um estranho, que lhe disse que o seu tesouro existia e que partiria para o procurar. Bastariam estes acontecimentos para que Ismael, o pastor, tivesse uma boa história para contar. Mas foram apenas o princípio. É que, assustado e inseguro, Ismael cometeu o erro de falar dos seus sonhos e do estranho homem das ruínas, e os tempos não se compadecem dos que se julgam em contacto com o mundo espiritual. Agora, Ismael está em fuga e o seu caminho está repleto de fenómenos inexplicáveis. Um estranho oferece-lhe um amuleto, que afinal parece conter uma maldição. E o destino toma conta dos seus passos, à medida que novas situações o levam para mais longe da vida que conhecia... e para mais perto do tesouro.
Há dois aspectos essenciais a considerar neste livro: a história e a escrita. E é importante separar estes dois aspectos, porque o que um tem de forças o outro tem de fragilidades, o que faz com que a leitura, não sendo totalmente desagradável, deixe, ainda assim, sentimentos contraditórios. É que há momentos realmente bons, e bastante potencial, nalgumas situações, mas também as fraquezas são evidentes.
Mas comecemos pela história. Centrada principalmente num protagonista, Ismael, o enredo deste livro define-se basicamente pelas suas aventuras. E o que acontece é que estas aventuras têm de tudo, desde naufrágios a batalhas com indígenas, maldições e mouras encantadas, aparições inexplicáveis e viagens no tempo. Em tudo isto há potencial e a história torna-se mais interessante pelo facto de cada peripécia fazer com que Ismael cresça um pouco. O jovem pastor dos primeiros capítulos é muito diferente do Ismael que surge no final, e o seu crescimento, de aventura e de aventura, torna-se ainda mais claro pela forma como cativa os seus companheiros.
Também bastante interessante na construção da história é o conjunto de situações algo caricatas, e, num ou outro momento, enternecedoras, que vão surgindo por entre a acção principal. Algumas das conversas de Ismael com os companheiros de viagem são realmente deliciosas, acrescentando ao enredo um muito agradável toque de leveza.
O grande problema está na escrita. Erros ortográficos, frases com palavras em falta e falhas de pontuação são apenas alguns dos problemas que saltam à vista e que surgem com bastante frequência. Juntando a isto a sensação de que algumas descrições são feitas de modo algo errática - sendo, por vezes, difícil identificar a que personagem se refere - é inevitável que tudo isto prejudique a leitura. É pena, porque uma revisão atenta teria feito maravilhas na resolução da maioria destes problemas.
E é por isso que ficam desta leitura sentimentos contraditórios, porque a história é, de facto, muito interessante, com os seus personagens peculiares e as muitas aventuras que protagonizam. Faltou um pouco mais de atenção ao texto, de modo a corrigir os erros que quebram a envolvência do enredo.

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