sexta-feira, 19 de abril de 2013

A Saga da Humanoinsurreição (Lúcia Vaz Gomes)

Aconteceu de repente. Ainda os humanos mal tinham tido tempo de olhar para o céu, e já os invasores tomavam posse do planeta, capturando escravos para trabalhos forçados e cobaias para as suas experiências. Lucy foi uma delas. Agora, levada para uma das naves, para servir os seus captores até chegar a sua vez de ser submetida à experiência, Lucy procura uma forma de sobreviver, mesmo enquanto muitos parecer aceitar com resignação as circunstâncias. E ela ainda não sabe, mas Lucy tem algo de especial. Com alguma ajuda inesperada, um toque de sorte e bastante persistência, Lucy poderá, talvez, descobrir uma forma de lutar pela vida e até pela sobrevivência da humanidade. Mas sair dali é apenas o início. Há muito por compreender e muitas mudanças a suceder em seu redor. A luta espera-a... mas também são precisas algumas respostas.
Apesar de a ideia de uma invasão do planeta por seres alienígenas não ser propriamente algo de inexplorado, há, neste livro, umas quantas boas ideias. Há, nos diferentes tipos de seres, um conjunto de traços peculiares que os tornam interessantes, com especial destaque para certos elementos de um tipo de árvore muito particular. Além disso, também na tecnologia (ou em alguma dela) há aspectos curiosos, ainda que nem todos sejam completamente explicados.
Talvez por a história ser narrada na primeira pessoa, fica, por vezes, a sensação de uma percepção algo limitada do sistema. Todas as descrições, sejam de acontecimentos, de mecanismos ou de criaturas, se resumem àquilo que Lucy conhece e entende. E se, por um lado, este tipo de narração torna a história mais pessoal, centrando-se nas acções e percepções da protagonista, fica, ainda assim, a impressão de que mais poderia ser dito - sobre a tecnologia, sobre os diferentes seres, sobre o que está a acontecer noutras zonas do planeta - se a narração fosse feita na terceira pessoa, abrangendo diferentes personagens. Por outro lado, e sendo Lucy humana (ou, pelo menos, maioritariamente humana), há ocasiões em que ela parece saber demais, adaptando-se com demasiada facilidade a novos elementos e sendo, por vezes, capaz de os explicar ao pormenor.
Mas as principais fragilidades são outras. A primeira é o ritmo algo apressado. Há muito a acontecer, com Lucy e com o mundo em volta, e, nesses acontecimentos, muito potencial para grandes momentos de acção. Ainda assim, estes episódios são narrados de forma muito breve, sem quaisquer pormenores. Por exemplo, o que acontece nas tais experiências realizadas pelos invasores, nunca é devidamente explicado. Esta exposição algo apressada dos acontecimentos retira intensidade ao que está a ser narrado e, ao mesmo tempo, cria distância, já que tudo sucede demasiado depressa para permitir empatia ou preocupação por parte de quem acompanha a história.
O outro ponto fraco é algum descuido na revisão. Além de algumas falhas de concordância, gralhas e  frases com palavras em falta, há erros ortográficos recorrentes, que, não sendo muito frequentes, são bastante óbvios, o que, inevitavelmente, quebra o ritmo da leitura.
A impressão que fica é, portanto, a de uma história com algum potencial, várias ideias interessantes e um sistema com alguns traços cativantes, apesar de explorado de forma algo confusa. Falta-lhe, ainda assim, um desenvolvimento mais equilibrado dos elementos que a constituem e que, explorados de uma forma mais clara e mais detalhada, podiam ter realçado os tais pontos positivos e feito deste livro uma história bastante mais interessante.

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