domingo, 7 de abril de 2013

Agarra o Agora (Gustavo Santos)

A situação é fácil de explicar. Passamos demasiado tempo a pensar no passado, a sofrer por antecipação com os possíveis fracassos do futuro e a pensar no objectivo sem apreciar a jornada até à sua concretização. Por isso, não sentimos como devíamos nem somos tão felizes como merecíamos. E é desta ideia aparentemente simples que parte este livro, recorrendo a exemplos específicos e a uma forma de expressão voltada directamente para o leitor de modo a reforçar a necessidade de viver na liberdade dos sentimentos de modo a encontrar realização e felicidade. 
Esta abordagem ao tempo e à influência das emoções, por oposição à mente, sobre a forma como se encara a vida, tem tanto de interessante como de controverso e levanta muitas questões interessantes. Sobre o passado e a perpetuação da raiva e da culpa, sobre o presente e a necessidade de apreciar cada experiência, e sobre o futuro e a tendência para sofrer por antecipação ante dificuldades por vir, mas também sobre os problemas da rotina, o impulso de seguir os sonhos e as paixões e o equilíbrio entre estes e as responsabilidades. Há, por isso, muito material a considerar e a mensagem é, além de relevante, exposta com clareza e num tom bastante assertivo. 
Deste conjunto de questões e considerações surgem muitas ideias interessantes e uma orientação que é, em muitos aspectos, útil nessa busca de uma vida mais feliz. E se, mesmo sem concordar com todos os pontos de vista, é possível reconhecer muitos pontos positivos na mensagem, há ainda um outro elemento que a reforça: a forma como é expressa. Todo o livro é dirigido ao leitor, quase como se de uma palestra se tratasse. É fácil imaginar o texto a ser proferido em voz alta para um público atento.  Além disso, o discurso bastante assertivo, intenso e seguro na expressão das ideias, e dirigido ao leitor de uma forma que quase imita, por vezes, um diálogo, cria uma certa sensação de proximidade, que, aliada a exemplos com que é fácil que o leitor se identifique, torna as ideias mais próximas, mais fáceis de seguir.
Este discurso intenso tem, ainda assim, uma contrapartida. Fica, nalguns momentos, a impressão de algum exagero. E se, nalguns casos, essa intensidade de expressão cumpre o seu objectivo de dar impulso a uma reacção (que é, afinal, o objectivo), expressões como o ocasional "então és parvo" ou "nesse caso, não mereces..." implicam uma certa medida de julgamento que parece um pouco excessiva. Por outro lado, a estes momentos de um certo "desconforto" opõem-se outros muitíssimo positivos, que transmitem em cada palavra a genuína paixão de alguém que aprecia o que faz. E estes, sendo muito mais que os anteriores, são parte do que torna a leitura tão interessante.
Cativante, apesar de alguns momentos de estranheza, e rico em questões relevantes e boas ideias para encarar a vida de forma mais eficaz, este é, pois, um livro com muito de importante a transmitir e uma forma muito própria de o expressar. Uma leitura interessante, portanto, e com uma mensagem muito positiva.

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