domingo, 14 de abril de 2013

A Lenda do Vento (Stephen King)

Durante a sua jornada seguindo o Caminho da Luz, Roland Deschain e os seus companheiros encontram-se na iminência de enfrentar uma terrível tempestade e vêem-se forçados a procurar abrigo numa cidade abandonada. A tormenta-mor durará longas horas e virá com ventos furiosos e um frio letal. Felizmente, uma das casas da cidade é sólida o suficiente para proporcionar o abrigo necessário, mas, mesmo assim, a noite será longa. E, quando os seus companheiros lhe pedem uma história para passar o tempo, Roland escolhe recordar os seus tempos de juventude, uma das suas primeiras intervenções enquanto pistoleiro. E relacionada com esse episódio, bem como com as suas mais queridas recordações de infância, uma história que a sua mãe lhe contava e que sempre foi uma das suas favoritas. Chamava-se essa história A Lenda do Vento.
Apesar de, cronologicamente, a acção deste livro se situar entre os volumes quatro e cinco da saga A Torre Negra, a verdade é que - tal como o próprio autor diz no prólogo - não há grandes dificuldades em ler este livro sem conhecer o restante da série. Parte da história diz respeito ao passado de Roland, noutra ele nem sequer está envolvido e o restante diz respeito a episódios relativamente breves da sua jornada. Não há, por isso, nada de essencial em falta e, excepto pela estranheza inicial face a alguns termos específicos do sistema, não há qualquer dificuldade em acompanhar a história, mesmo sem ter lido os restantes livros.
Fica, sim, muita curiosidade em conhecer o resto da série. Roland é uma personagem cativante e, do contraste criado entre o jovem do passado e o adulto que conta a história, surgem todos os traços de uma personalidade carismática e complexa, construída sobre um passado difícil e um papel a desempenhar. Personalidade que sobressai tanto das suas interacções com os companheiros como das suas acções enquanto jovem. Além disso, também as personagens em seu redor têm muito de cativante, o que, apesar da sua intervenção discreta, desperta a curiosidade em saber mais sobre as suas histórias.
Mas, para além das perguntas em aberto, esta é, apesar de tudo, uma história que pode ser lida de forma independente, e aqui entram outras características interessantes. Desde logo, destaca-se a forma como o enredo é construído: uma história dentro de uma história dentro de uma história (ou parte de). Cada história ocorre num momento diferentes, e uma delas com um protagonista diferente, mas as ligações entre elas são fascinantes. O sistema tem muito de interessante para desvendar, com a sua conjugação entre magia e elementos de um mundo tecnológico, criaturas inexplicáveis e acções simplesmente humanas. E também o cenário muda, com os efeitos da passagem do tempo através dos diferentes episódios, da história do jovem Tim ao Roland adulto. Tempo que, nesta história, acaba por ser tão relevante como qualquer das personagens.
De referir, por último, o ritmo a que a história evolui. Ao interromper uma história para abrir espaço a outra, retomando a anterior numa fase mais avançada, o autor prende a atenção do leitor. Atenção que se mantém através de uma sucessão de acontecimentos em que mistério e tensão se conjugam com momentos emotivos e umas quantas revelações surpreendentes. O resultado é uma história que cativa desde as primeiras páginas, crescendo em intensidade à medida que os acontecimentos tornam a leitura mais e mais viciante. E que culmina num final que dá todas as respostas necessárias, deixando, ainda assim, a curiosidade em saber mais (principalmente se não se conhecer o resto da série).
Envolvente e surpreendente, com personagens carismáticas e um sistema tão rico em peculiaridades como em evocações de temas universais, este é um livro que, apesar de ligado a uma série maior, funciona bem quer como história independente, quer como introdução ao mundo de A Torre Negra. Uma história cativante, portanto, num mundo fascinante, e que deixa muita curiosidade em descobrir mais. Muito bom.

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