terça-feira, 29 de março de 2022

Festas Galantes (Paul Verlaine)

De um amor que é simultaneamente frívolo, espiritual e erótico, que consome e se dispersa entre os deambulares das noites. De um amor que divaga entre festas, passeios, cortejos, contemplações à luz da Lua e em que os cenários são tão fundamentais como a raiz do coração. De um amor que é palavra e ritmo, mas também imagem e paisagem. É desse amor que são feitas estas Festas Galantes.
É inevitável, ao falar sobre este livro, começar por referir o aspeto mais óbvio: a beleza visual. É um livro que cativa ao primeiro contacto, com a sua estrutura cuidada e a abundância das ilustrações. E é também um livro em que o visual completa a palavra, dando-lhe como que um cenário onde imaginar o contexto dos poemas. No fundo, poesia e arte complementam-se. E é isso, acima de tudo, o que fica na memória.
Claro que importa também falar sobre os poemas propriamente ditos. Neste aspeto, sobressai a singularidade da voz, numa poesia de amor que não divaga muito pelo sentimento puramente expresso, preferindo manifestá-lo pela melancolia ou pela exuberância dos cenários, pelos episódios pitorescos e pelas presenças que se vão repetindo. É uma forma diferente de contemplar o amor, menos hino e mais observação. Mas também uma forma fascinante, à sua maneira.
E é uma poesia com uma estrutura muito vincada, onde nem sempre há rima, mas há sempre ritmo, e em que as vozes das personagens - porque personagens há - se confundem com a voz do poeta na sua contemplação do mundo e das suas festas galantes. Como um concerto de vozes, em suma, em que algumas criam mais proximidade do que outras, mas em que todas têm os seus pontos de interesse.
Breve, belo e fascinante - assim é este livro singular, de uma poesia que não se esgota nos versos e que contempla o mundo através de simplicidades surpreendente... intrincadas. Muito interessante, em suma.

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