terça-feira, 25 de maio de 2010

A Marca de Kushiel (Jacqueline Carey)

Longe ficou Terre d'Ange e é agora necessário que, escravizada pelo inimigo, Phèdre encontre uma forma de sobreviver e fugir. Mas a sua complicada situação nas terras skaldi, com a companhia apenas do fidelidade quase cega do seu guardião Cassiline, não passa de uma pequena parte da sua verdadeira missão. Porque para a eleita de Kushiel a estrada é longa e o Mais Amargo Inverno vai somente no seu início.
Depois de um primeiro volume soberbo e poderoso, em A Marca de Kushiel a autora surpreende pelo simples facto de fazer ainda melhor. Com um enredo complexo, mas envolvente, e personagens que, apesar da sua diversidade, são sempre muito bem caracterizadas, dando ao leitor uma facilidade incrível de criar ódios e afectos, este livro torna-se um verdadeiro vício. Apesar da vastidão e da complexidade do universo onde a acção decorre, repleto de diferente crenças e tradições, a leitura nunca se torna monótona e são os próprios acontecimentos que revelam, em cada nova revelação, todo o potencial do mito e da cultura deste imaginário.
Com um desenvolvimento muito mais extenso (comparativamente ao primeiro volume) do que é já o interveniente que mais me marcou ao longo desta leitura (Joscelin, evidentemente) os elos entre leitor e protagonista aprofundam-se. E a forma como a autora cria momentos de uma emotividade imensa, suavemente intercalados com pequenas situações de humor (e aqui o destaque vai para o hino dos Rapazes de Phèdre), todo este livro, página a página, é uma verdadeira delícia de se ler.
Fica apenas uma nota menos positiva e que já vem na sequência do volume anterior. Existem algumas opções de tradução que me fazem uma certa confusão: neste livro em concreto, para lá da utilização da palavra "cerca" em vez de perto, há também o termo "livraria" no que, segundo o contexto, parece ser biblioteca. E encontrei algumas pequenas expressões que, apesar de não prejudicarem assim tanto a leitura, não deixam de ser um ligeiro incómodo (sendo a mais flagrante "nós outros seguimo-los"). São pequenos aspectos que acabam por alterar um pouco a harmonia da leitura, mas que, apesar disso, a partir do momento em que se estabelece o hábito, não são assim tão prejudiciais.
Tal como o anterior O Dardo de Kushiel, este foi um livro que me envolveu por completo e que me fez sentir transportada para o imenso mundo que contém. Com uma escrita soberba, protagonistas marcantes e um enredo verdadeiramente cativante, esta saga está já, sem dúvida, entre as minhas preferidas.

2 comentários:

  1. olá,
    Realmente é um livro espectacular!
    Relativamente à tradução, eu gostava de discordar. Esses pequenos "incómodos", embora possam "travar" a velocidade de leitura, respeitam uma linguagem que a autora impunha no seu original inglês. Dão-lhe o toque exótico e provavelmente (no final) até contribuem para uma leitura mais "especial". Parece-me a mim que a escolha de palavras foi algo muito ponderado pela tradutora.
    De resto, subscrevo completamente!! É uma das melhores autoras de fantasia que se publicam em Portugal.

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  2. Não li o original, mas concordo que essas escolhas de palavras - ou pelo menos a maioria - tenham sido ponderadas e propositadas, daí ter falado em opções de tradução (não as entendo como erros, mas como escolhas premeditadas). Simplesmente a mim não me soam lá muito bem. Mas um dia ainda espero ler a versão original, já que a autora parece ter um estilo muito próprio. E porque é realmente uma obra fantástica.

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