Diana é a única na ilha das Amazonas que não foi testada em batalha. Criada pela rainha, é vista por muitos como um ponto fraco e a verdade é que, por mais que Diana se esforce por pertencer, não há muitas que achem que o seu lugar é ali. Só que um naufrágio ao largo da ilha está prestes a pôr à prova as condições de todos. Levada por não sabe bem que instinto, Diana resgata a única sobrevivente e leva-a para a ilha. Só que Alia não é apenas uma rapariga normal. Descendente da linhagem de Helena de Tróia, a sua existência basta para aproximar o mundo de uma nova era de guerra e sofrimento. E só há duas formas de o impedir: deixá-la morrer ou embarcar numa demanda perigosa e que levará Diana a deixar para trás tudo aquilo que conhece. A escolha pode parecer difícil, mas Diana sabe o que tem de fazer. E escolher partir é apenas o início de uma longa e perigosa demanda que irá exigir de ambas toda a coragem e determinação.
Primeiro de uma série de livros centrados na juventude de um grupo de heróis sobejamente conhecidos, a primeira das muitas qualidades deste livro é que não é necessário qualquer conhecimento prévio da história da Mulher-Maravilha para apreciar o enredo. Neste livro, Diana é ainda uma jovem em busca do seu lugar no mundo e, por isso, saber pouco ou nada sobre o que a espera no futuro pode até resultar num maior impacto das reviravoltas deste livro. Além disso, é fascinante a possibilidade de descobrir os primórdios de uma personagem tão conhecida - e estes são um poço de surpresas, quer se conheça já bem a personagem ou apenas o nome e a imagem.
Mas passando à história, um dos aspectos mais memoráveis deste livro é a forma como a autora consegue retratar na perfeição o contraste entre dois mundos e abordar valores e perspectivas relevantes sem nunca perder de vista o registo de acção constante que pauta o ritmo de todo o enredo. Há sempre algo a acontecer, inimigos a enfrentar, lugares que é preciso atingir, escolhas difíceis que exigem rapidez. E isso bastaria para tornar a história interessante. Mas juntemos-lhe um sentido de humor delicioso, momentos de uma emotividade poderosíssima e um conjunto de reviravoltas que conferem a tudo uma perspectiva diferente e tudo fica ainda mais intenso.
E, para uma boa história, boas personagens. Diana e Alia são particularmente marcantes, claro, com o seu equilíbrio de força e de vulnerabilidade, de determinação e de dúvida. Mas também os que as rodeiam deixam marcas. Theo e Nim tem a qualidade especial de, além de estarem na base de alguns dos momentos mais divertidos do livro, realçarem uma ideia bastante importante nesta longa jornada: a de que os super-poderes podem ser úteis (e, oh, se o são, neste caso), mas não são um pré-requisito para a coragem. E, numa história onde o contraste entre os dois mundos é tão vincado, não deixa de ser particularmente fascinante a forma como esses dois mundos se conjugam.
No fim, fica a sensação de se ter vivido uma grande aventura, cheia de perigos e de reviravoltas, mas também de afecto e de coragem e de dedicação. E é isto que torna tudo tão marcante: a ideia de um mundo diferente - ou de vários mundos em colisão - mas do qual há sempre algo de universal a retirar. Valeu, pois, a pena embarcar nesta viagem viciante. Mesmo, mesmo muito.
Título: Mulher-Maravilha: Dama da Guerra
Autora: Leigh Bardugo
Origem: Recebido para crítica
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