Maia faz parte de um grupo que, liderado pelo Mestre Ratapone, procura nas Montanhas Negras um eremita que lhes possa indicar o caminho seguido por um outro sábio e que os levará ao Ovo de Rá. Este, diz-se, contém os segredos da criação, mas o que é ao certo e onde está é um mistério. Na busca que os move, o caminho é árduo e as pistas muito poucas, mas nem o mestre nem os seus companheiros estão dispostos a desistir. Mas o que começa por ser um grupo de quatro não tardará a expandir-se, pois há muitos mistérios e perigos nas Montanhas Negras. E, a cada novo companheiro que se lhes junta, vem também mais conhecimento - e novos obstáculos.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro tem a ver com o contraste entre a vastidão de possibilidades e a leveza com que tudo nos é narrado. Capítulos curtos e um estilo de escrita bastante directo, em que a informação é fornecida à medida que é necessária, contrastam com uma demanda por um mundo onde quase tudo é novo e em que, ainda que de forma algo discreta, há espaço para grandes batalhas, intrigas de corte, lutas pelo poder e até criaturas fantásticas. E, sendo certo que isto deixa sentimentos ambíguos, pois fica a curiosidade em saber mais sobre tudo isto, também o é que o estilo directo consegue realçar o impacto do essencial: a demanda dos protagonistas e a aprendizagem pessoal associada a este percurso.
Porque é uma história de aventuras, essencialmente, mas há também um lado filosófico nesta jornada. Maia, principalmente, tem muito para aprender sobre o amor, a amizade, a lealdade e a coragem - e não é o único. E, entre os momentos de acção, há também espaço para episódios emotivos e conversas que, apesar de relativamente breves, contêm no seu âmago algumas grandes verdades. Também aqui o contraste se evidencia: entre a leveza dos momentos divertidos, a intensidade dos momentos de acção e a mensagem discreta, mas poderosa, que vai sendo transmitida ao longo deste caminho.
Muito é deixado sem resposta, até porque o final é todo ele uma grande questão, deixando em aberto a clara possibilidade de esta aventura vir a ter continuidade. A busca do Ovo de Rá ganha novos contornos ao longo da narrativa, mas não atinge um fim, passando, até, por vezes, para segundo plano face a outras necessidades e outra missão. Ainda assim, o ponto em que tudo termina parece ser bastante adequado: deixando ainda muito por percorrer, mas parando num ponto a partir do qual tudo terá inevitavelmente de mudar.
A imagem que fica é, pois, a de uma história cativante e do que deverá ser, talvez, um ponto de partida promissor para algo mais vasto. Intrigante, surpreendente e com uma mensagem bastante forte, uma boa leitura.
Título: O Ovo de Rá
Autor: Mitro Vorga
Origem: Recebido para crítica
uma boa apresentação! sugestiva!
ResponderEliminarConcordo com a sua crítica, é exactamente isso.
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