Sokal era um lugar pacífico, até ao dia em que as tropas nazis invadiram a Polónia, dando início a uma brutal perseguição aos judeus. A partir daí, tudo mudou. À confiança natural de uma vida modesta, mas tranquila, sucedem-se agora as desconfianças e as denúncias, e aqueles que antes eram vistos como pilares da comunidade vêem-se agora isolados, abandonados por todos. Ou quase. Franciszka e a filha, Helena, não têm medo das terríveis consequências de ajudar os judeus e, por isso, arriscando as próprias vidas, acolhem duas famílias, bem como um soldado desertor, na sua modesta casa. O perigo é imenso e todos sabem disso. Mas, entre fazer o que é seguro e fazer o que está certo, Franciszka nem sequer hesita.
Bastante breve e seguindo as perspectivas de quatro personagens distintas, este livro é a prova de que uma boa história nem sempre precisa de ser extensa, pois, mesmo retirando partes do contexto mais amplo e resumindo a informação ao essencial, aquilo que dá força à história continua lá. É claro que, quando se trata de um livro tão sucinto sobre um assunto tão complexo, fica sempre a sensação de que haveria mais por dizer. Aliás, qualquer das quatro personagens principais bastaria para dar forma a um romance completo.
Perde-se, então, talvez um pouco da complexidade possível devido à brevidade. Mas a verdade é que isso nada retira ao impacto da história. Tem, aliás, a espaços, o efeito contrário. A visão simples e às vezes inocente de um mundo que caminha para a própria destruição tem o dom de enfatizar o que é verdadeiramente importante. Há perigos, há perdas, há suspeitas e crueldades. Mas, na figura de Franciszka e das pessoas que ela decide ajudar, está o que há de melhor na alma humana. E isso basta - é mais do que suficiente - para fazer com que a leitura valha a pena.
Porque o essencial está lá e, ainda que a autora não desenvolva muito as várias facetas da narrativa - o contexto global, o que acontece antes e depois, o rumo do conflito para lá dos limites do esconderijo - não há nada que faça realmente falta na forma como esta história está construída. Coragem, sacrifício, o tipo de nobreza de carácter que é mais raro do que se julga - tudo isto está presente nesta história. E a simplicidade de tudo o resto acaba por ter também o dom de realçar estes traços.
Podia ser uma história mais vasta, é certo. Mas, se virmos bem, a verdade é que não lhe falta nada. Simples e breve, contém nos laivos da sua inocência as marcas das grandes crueldades da história - e contrapõe-lhe a esperança e a coragem necessárias. E é este equilíbrio delicado em que tudo se cinge ao essencial, mas o essencial é tudo o que é preciso, que faz deste pequeno romance uma tão boa leitura.
Título: O Segredo da Minha Mãe
Autora: J.L. Witterick
Origem: Recebido para crítica
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