Ninguém parece conhecer a causa exacta, mas uma doença misteriosa erradicou todos os seres do sexo masculino do planeta. Bem, todos não. Ficaram Yorick e o seu macaco, Ampersand. Mas o desaparecimento dos homens e a incerteza face ao futuro da humanidade trouxe consigo grandes problemas. A hierarquia do poder perdeu a maior parte dos seus membros. Há grupos extremistas que pretendem manter a todo o custo a nova era e não estão dispostas a permitir um possível regresso à normalidade. E isso faz com que Yorick, o último homem do planeta, seja um alvo apetecível para todas as facções, tanto as que querem dar origem às gerações seguintes como as que querem simplesmente corrigir o erro que deixou Yorick com vida. Já ele só quer encontrar a namorada... mas, com toda a humanidade em jogo, a sua vontade não é assim tão importante.
Talvez a mais intrigante de todas as qualidades deste início de série - e tem bastantes - é a aparente naturalidade com que tudo parece desenrolar-se. Num simples instante, tudo o que se sabia do mundo mudou com a morte misteriosa de (quase) todos os portadores do cromossoma Y e, no entanto, tudo parece fluir e adaptar-se a um ritmo bastante eficaz. Ora, isto é intrigante porque a própria situação é intrigante. Afinal, como se explica o que aconteceu? Mas é também parte do que torna tão fácil entrar no ritmo da história: é possível sentir e compreender a confusão das personagens, mas também a necessidade de adaptação com vista à sobrevivência.
Claro que basta a premissa para fazer desta série algo de promissor. Mas a concretização não desilude em nada. A componente visual, altamente expressiva e ajustando-se aos diferentes ambientes que percorre, transmite na perfeição a intensidade dos momentos de conflito. E a forma como, a cada episódio, imagem e diálogo se complementam precisamente nas medidas certas faz com que haja momentos em que se torna difícil tirar os olhos da página, tal é o impacto daquele pequeno fragmento.
Mas voltando à história e ao caminho das personagens. Este é apenas o primeiro de dez volumes da série, o que significa que não é propriamente uma surpresa que quase tudo fique em aberto. Ainda assim, também aqui sobressai o equilíbrio entre as perguntas que precisam de resposta (e que deixam uma vontade quase irresistível de continuar a ler) e a impressão de que tudo culmina num ponto de viragem que parece dizer que, dali em diante, tudo será diferente.
Trata-se, pois, de um belo início de aventura. Dramático, envolvente, mas com momentos de uma leveza cativante e aquele toque de emoção que torna tudo mais intenso, cativa desde as primeiras páginas e não deixa de surpreender até ao fim. A impressão que fica é, por isso, a melhor e a mais simples: dificilmente se poderia pedir um início mais promissor.
Título: Y - O Último Homem: Um Mundo sem Homens
Autores: Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.
Origem: Recebido para crítica
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