domingo, 25 de março de 2018

O Terceiro País (Joan London)

Frank Gold deixou a Hungria com a família para fugir à guerra e, após várias vicissitudes, chegou à Austrália, onde veio a ser apanhado por um surto de poliomielite. E foi a doença que, após múltiplas paragens, o fez chegar ao Golden Age, onde agora reside e tenta recuperar a capacidade de andar. Traz consigo uma estranha melancolia e a sensação de isolamento que a doença lhe deixou. Mas, ao conhecer Elsa, outra paciente do Golden Age, descobre que não está afinal assim tão sozinho e que há sentimentos dentro de si que nem ele mesmo sabe explicar. O tempo parece ser uma entidade ambígua que oscila entre fragmentos de um passado tão longo e um futuro que nunca poderá ser igual. Mas Frank e Elsa têm-se um ao outro. E, entre as memórias e as expectativas, há algo a crescer entre eles que só pode ser bom.
Apesar de ter como protagonistas Frank e Elsa, uma das primeiras coisas a sobressair nesta narrativa é que está muito longe de seguir um percurso linear. Nem a história diz respeito só a Frank e Elsa, nem a linha temporal segue um caminho constante, oscilando entre diferentes períodos e memórias e percorrendo assim o passado de várias personagens mais ou menos importantes. Frank é a base, naturalmente, e o seu percurso durante e após a doença, com as pessoas com quem se cruzou e a forma como cada experiência o alterou, é a alma que alimenta o resto da história. Mas os pais dele, a família de Elsa, a história dos alguns outros pacientes e de algum do pessoal do Golden Age... todas as personagens, principais ou secundárias, têm algo de relevante a acrescentar à história. E, sendo certo que isto torna o enredo um pouco mais disperso e ambíguo, também o é que o torna mais complexo e interessante.
Ambiguidade é aliás algo bastante presente nesta história: ambiguidade moral, nas escolhas de alguns intervenientes, mas também ambiguidade na forma como cada personagem percepciona as experiências dos outros. A visão que Frank tem de Sullivan - e a relação que mantém com ele - dificilmente poderia ser mais clara. Mas, daí em diante, tudo se torna mais intrincado. Meyer e o seu interesse pela enfermeira Penny. Ida e a sombra deixada pelas marcas da guerra. Albert e a sua necessidade de sair. Frank e Elsa - na juventude e depois. E tantos, tantos mais. Há um vasto mundo contido entre as paredes do Golden Age e a forma como todos os seus elementos se interligam é algo de bastante impressionante.
No fim, ficam também sentimentos ambíguos, face a um futuro apenas entrevisto e do qual fica a sensação de que talvez houvesse mais a revelar. Ainda assim, e apesar do que fica sem resposta, fica também a ideia de que a forma como tudo termina faz algum sentido. O Golden Age representa um marco na vida das personagens, um marco que, como todas as fases da vida, termina. E, assim sendo, tem a sua lógica que o que veio depois seja deixado para segundo plano, ficando, de certa forma, na sombra do que é de facto contado. Daria muito provavelmente outra história. Mas faz sentido que esta termine aqui.
Pausado, mas estranhamente cativante na forma como conjuga num equilíbrio delicado as histórias de várias vidas dispersas, trata-se, portanto, de um livro que não dá todas as respostas - mas que contém, nos seus momentos mais belos, uma profundidade marcante e uma estranha sensação de proximidade. Vale, pois, a pena conhecer a história do Golden Age - e descobrir a vida no seu interior.

Autora: Joan London
Origem: Recebido para crítica

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