O pequeno Theo Edevane desapareceu sem deixar rasto da casa do lago e, apesar de uma cuidada investigação, nunca ninguém conseguiu explicar o que aconteceu. Esse mistério viria a assombrar a família durante décadas, mas a criança nunca foi encontrada. Agora, setenta anos depois, a detective Sadie Sparrow dá por si escondida na Cornualha para lidar com um problema profissional e, durante uma corrida, depara-se com a casa abandonada. Segue-se a curiosidade e com ela os primeiros sinais de um enigma a desvendar. Não sabe porquê - ou talvez tenha algumas suspeitas - mas sente uma estranha atracção por aquele mistério. E, nunca tendo sido de desistir, mesmo perante as piores consequências, Sadie decide começar a investigar por sua conta. As respostas, essas, estão onde menos se espera. E o instinto de Sadie nunca a enganou...
Há algo de particularmente mágico em abrir um novo livro de uma autora favorita. É como se, apesar de a história e as personagens serem novas, houvesse uma sensação de proximidade, uma familiaridade estranhamente reconfortante. E bastam algumas páginas desse livro para essa deliciosa sensação se fazer sentir. A harmonia da escrita, a intensidade do mistério, o equilíbrio delicadamente traçado entre as sombras do passado e as esperanças do presente... tudo isto faz parte do que torna únicos os livros de Kate Morton. E este O Último Adeus não é excepção.
Um dos aspectos mais fascinantes deste livro - como, aliás, de todos os desta autora - é a forma como percorre diversos momentos do tempo para espalhar as suas revelações, despertando ao mesmo tempo novas questões e novos mistérios. O desaparecimento de Theo é, claro, o enigma central deste romance, mas o que marca é, mais que a derradeira resposta, a forma como a autora percorre possibilidades, construindo através delas, um retrato complexo e fascinante das relações entre as várias personagens. A história dos Edevane é vasta e complexa - e cheia de momentos de vulnerabilidade. Anthony, em particular, com a ambiguidade da sua situação delicada, parece acrescentar um fio de tensão particularmente intenso ao enredo, já que as suas possibilidades de culpa, em contraponto à inevitável fragilidade, despertam, desde logo, uma fascinante empatia. E, a cada nova resposta, a cada novo episódio, tudo ganha uma nova perspectiva, tornando toda a narrativa numa sucessão de momentos e descobertas memoráveis.
A escrita é também ela maravilhosa, não só pela harmonia das palavras, mas principalmente pela forma como reflecte com absoluta precisão os sentimentos e vulnerabilidades das personagens. Tudo é mistério, mas também tudo faz sentido, e é da forma como a história está contada que vem esta fascinante sensação de equilíbrio. Além disso, todo o romance é uma construção delicada, percorrendo diferentes épocas e diferentes dificuldades. A guerra de Anthony e a de Clemmie, os segredos de Alice, o presente de Sadie, que contém também os seus próprios desafios. Tudo converge num equilíbrio perfeito, rumo às necessárias respostas, sim, mas também ao retrato de vidas que são muito mais do que apenas o mistério.
E assim nasce a magia de uma história que prende desde as primeiras páginas e que, com todos os seus maravilhosos pormenores, não deixa de fascinar e surpreender até ao fim. Enigmática, cheia de mistérios, mas também com um núcleo de personagens fascinantes e uma emotividade simplesmente memorável, fica no coração muito depois de terminada a leitura, e dificilmente de lá sairá. Bastam, por isso, duas palavras simples para descrever este livro: mágico e maravilhoso.
Título: O Último Adeus
Autora: Kate Morton
Origem: Recebido para crítica
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