terça-feira, 10 de novembro de 2015

Rosalía de Castro (J. Perre Viana)

Três mulheres, várias viagens e o que pode muito bem ser a procura do sentido da vida. São estas as bases da história de José Costa Terra, um homem que, aos trinta e três anos, se vê diante de tudo o que foi e perdido na busca do que poderá ser. Consigo, leva a memória de um amor inacabado - e um sem fim de dúvidas sobre o que deve fazer. E, de paragem em paragem, vai encontrando algo de novo... até ao dia em que se encontra face às consequências das escolhas que fez. 
Complexo na forma como percorre a história individual das suas quatro personagens mais relevantes, e apesar disso centrado, em grande medida, na figura de José, este é um livro que nem sempre é fácil de acompanhar. Talvez seja por isso que, em certos aspectos, deixa sentimentos ambíguos, como que de uma história com um potencial vastíssimo - e que nunca deixa de cativar - mas em que, por vezes, se sentem quebras de ritmo.
E, começando precisamente pelo ritmo, há, desde logo, uma dualidade interessante. Os capítulos curtos, acompanhando momentos - e personagens diferentes - despertam a curiosidade em saber mais sobre as vidas e as personalidades das várias personagens. Além disso, ao percorrer diferentes locais, cria-se também uma impressão de viagem constante, como que em paralelismo com a vida do protagonista, também ela sempre em mudança. Por outro lado, a abundância de notas de rodapé, escritas em diferentes idiomas e, nalguns casos, transmitindo informação que é do conhecimento geral, quebra um pouco esse ritmo, já que afasta a atenção do leitor da história. Neste aspecto, fica, portanto, a impressão de que estas quebras nem sempre se justificam, ainda que a envolvência do enredo propriamente dito consiga, em grande parte, compensá-las.
Um outro aspecto interessante é a vastidão de referências que povoa a narrativa. Claro que nem todas são facilmente reconhecíveis, o que acaba também, de certa forma, por abrandar o ritmo. Mas, neste caso, há um outro aspecto que sobressai e tem a ver com a forma como estas referências - principalmente musicais, mas não só - se ajustam ao percurso do protagonista. O que leva, aliás, a um outro conjunto de paralelismos. A viagem exterior ante a do crescimento pessoal, a introspecção ao encontro da descoberta de novos lugares e de novas emoções, as aventuras amorosas face ao amor nunca esquecido. Tudo isto contribui para aumentar a complexidade do enredo. E se é certo que também isso lhe confere um ritmo mais pausado, contribui também para tornar o todo bem mais interessante.
Ficam algumas questões em aberto, uma vez que, com a evolução do percurso de José, o futuro de algumas das outras personagens não fica completamente definido. Mas, tendo em conta a forma como tudo termina para o próprio José, essa relativa ambiguidade acaba por ser a conclusão mais adequada, mesmo ficando alguma curiosidade insatisfeita com o que ficou por dizer.
O que fica de tudo isto é, no fundo, a impressão de uma longa viagem - através do mundo e através de um ser em constante evolução. Nem sempre fácil, mas sempre interessante, a história de José - e daqueles que cruzaram o seu caminho - pode não dar todas as respostas, mas cativa e surpreende em todos os momentos certos. E isso basta para fazer com que a leitura valha a pena. 

Título: Rosalía de Castro
Autor: J. Perre Viana
Origem: Recebido para crítica

Sem comentários:

Enviar um comentário