sábado, 2 de janeiro de 2016

À Morte Ninguém Escapa (M.J. Arlidge)

Passou mais de um ano desde o confronto de Helen com a irmã e, de alguma forma, ela conseguiu sobreviver à pressão mediática e retomar o seu trabalho. Mas tudo está a mudar e o ambiente é agora de tensão crescente. E, quando o corpo de um homem é encontrado numa casa vazia, com o coração arrancado do peito, e este é enviado à família da vítima, Helen sabe que está, mais uma vez, perante um caso tão complexo quanto macabro. Há na origem dos crimes um motivo muito vincado - mas não há respostas e todas as pistas parecem levar a becos sem saída. E, quando as mortes continuam a acontecer, há uma coisa que se torna clara: o responsável não vai parar sozinho. 
Um dos primeiros aspectos a chamar a atenção neste livro é o facto de, apesar de o caso propriamente dito ser uma história com princípio, meio e fim, há grandes ligações ao primeiro livro da série. A história de Marianne, que tão intensamente se resolveu em Um, Dó, Li, Tá deixou várias questões em aberto. E algumas delas encontram resposta neste livro, desde as consequências do sucedido para a protagonista às alterações na cadeia do poder, e sem esquecer alguns aspectos do passado que continuam na sombra. Há, por isso, desde logo um delicado equilíbrio a ganhar forma: os elementos do caso que serve de base ao livro, e o passado que tanto define o percurso de Helen Grace (e não só).
Claro que outro ponto forte é a própria Helen Grace, na forma como é caracterizada. Helen é uma personalidade complexa no centro de uma situação difícil, tanto a nível pessoal como profissional. E é também humana e, por isso, complexa e falível. Nem sempre é fácil concordar com as suas opções, mas, mesmo nesses momentos, o que as motiva é claríssimo. E isso, a assimilação da uma personagem que não é, em tudo, o que gostaríamos que fosse, mas que, apesar disso, facilmente se compreende, cria uma empatia estranhamente cativante.
Quanto ao caso em si, há todo um equilíbrio de acção e de mistério a tornar a leitura viciante. Os capítulos curtos e a escrita directa, mas entrando a fundo na mente das personagens, tornam mais intenso um enredo onde há sempre uma surpresa à espera, e isso basta para manter bem viva a vontade de saber mais. Mas há, além disso, dois aspectos que sobressaem. O primeiro é o leve - mas nítido - paralelismo entre este caso e alguns aspectos da situação de Marianne. O segundo é a forma como o mistério propriamente dito é complementado pelo que quase se poderia chamar intriga de corte na cadeia de comando e por um conjunto de questões pessoais relativas à vida dos investigadores. Tudo isto se entrelaça numa intriga de ritmo intenso, em que as perguntas se tornam cada vez mais prementes e as respostas cada vez mais surpreendentes, culminando num final de grande impacto. 
Claro que ficam, mais uma vez, questões em aberto. Mas isso acaba por ser parte do que torna estes livros tão interessantes. Há um final satisfatório para o caso em mãos. Mas quanto a alguns dos protagonistas... Para esses, a história continua.
É muito fácil entrar no ritmo deste livro. Bastam algumas páginas para despertar a curiosidade e o facto de, para cada novo desenvolvimento, haver uma nova revelação ou uma nova surpresa à espera, faz com que essa curiosidade nunca se perca. Junte-se a isto o ritmo viciante, a força das personagens e o brilhante equilíbrio entre as várias facetas do enredo, e o resultado é uma leitura compulsiva. E, claro, um livro muito bom.

Título: À Morte Ninguém Escapa
Autor: M.J. Arlidge
Origem: Recebido para crítica

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