Criado por corvos, Crau não guarda dos seus primeiros anos de vida senão uma vaga memória do dia em que os pais o expulsaram de casa. Habituou-se, por isso, a confiar apenas nos seus companheiros corvos. Talvez por isso sempre tenha achado normal ser capaz de os entender. Mas a tranquilidade da sua vida solitária está prestes a ser abalada. Tudo começa com a fuga de três presos da prisão de Blackstone, momento que leva Crau a conhecer a filha do director da prisão. E com um sonho recorrente, que à sua única memória do passado acrescenta uma figura sombria. É então que Crau começa a perceber que pouco sabe de quem verdadeiramente é. E que há uma ameaça à solta na cidade, à qual não pode deixar de fazer frente.
Tendo como alvo principal um público jovem, este é um livro em que uma das primeiras características a sobressair é a simplicidade. Simplicidade na escrita que, num registo bastante directo, resume a contextualização ao estritamente necessário, acrescentando informações à medida que o enredo as exige, e também na própria construção do mundo e das personagens. É a acção o centro da narrativa e, por isso, há sempre alguma coisa a acontecer. Quanto ao contexto, vai sendo desvendando aos poucos, o que, por um lado, cria uma agradável aura de mistério, mas, por outro, deixa a sensação de que algumas coisas se desenvolvem demasiado depressa.
Há, apesar disso, muito de interessante para descobrir neste livro. Primeiro, as circunstâncias de Crau facilmente despertam alguma empatia, apesar de alguns aspectos seus - principalmente, em termos de personalidade - ficarem por desenvolver. Além disso, toda a situação dos Ferals, com a questão do que aconteceu no Verão Negro, as afinidades com diferentes animais e o tipo de capacidades que os seus poderes implicam, cria um ambiente mágico que, mesmo não sendo explorado a fundo, consegue ser muito cativante.
Importa ainda referir um outro ponto interessante, que é a forma como Crau e os seus aliados se enquadram no ritmo de acção constante que define o enredo. Crau não é propriamente uma personagem forte (no sentido de ser, à partida, dotado de grandes capacidades) e, por isso, parte da descoberta dos seus dons parece acontecer de forma demasiado rápida. Mas, apesar disso, a forma como o seu papel se conjuga com o das outras personagens cria um equilíbrio interessante, numa série de acontecimentos em que - ainda que o protagonista descubra poderes inesperados - há outros a assumirem papéis igualmente relevantes. E tudo isto culmina num final que, não sendo propriamente inesperado, consegue, ainda assim, marcar pela intensidade dos acontecimentos.
Da soma de tudo isto, fica a impressão de uma leitura leve e rápida, em que, apesar de alguns elementos deixados por desenvolver, as personagens e o contexto conseguem cativar e surpreender nos momentos certos. Agradável e envolvente, uma boa leitura.
Título: Ferals - O Rapaz que Falava com os Corvos
Autor: Jacob Grey
Origem: Recebido para crítica
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