Benjamin Benjamin é um homem a quem pouco resta. Algures no passado, perdeu tudo o que tinha importância e agora vive uma vida pouco menos que miserável, com um emprego mal pago e meia dúzia de rotinas pouco interessantes. Mas, ao conhecer o seu primeiro cliente, Trevor, um rapaz de dezanove anos com distrofia muscular, as suas percepções da vida começam a mudar de forma quase imperceptível. A doença de Trevor não tem cura, mas isso não significa que ele esteja pronto para morrer. E, enquanto ocupam o tempo a escolher lugares bizarros que gostariam de visitar, a vida começa a ganhar formas que nunca poderiam ter imaginado. E uma viagem que pertencia apenas à imaginação começa a tornar-se bem real.
Contado pela voz de Ben e com um conjunto de circunstâncias que, desvendadas aos poucos, acabam por se revelar muitíssimo importantes para o percurso das personagens, este é um livro em que as melhores qualidades se revelam gradualmente. E isto aplica-se tanto às personagens como ao próprio enredo. Na fase inicial, são os comportamentos bizarros e as situações mais estranhas o elemento dominante e a verdade é que as primeiras características a destacar-se na caracterização das personagens - de Ben, mas também de Trevor, bem como de outras figuras que vão sendo apresentadas - não são propriamente as virtudes. Mas, com o evoluir dos acontecimentos e a revelação de certos factos do passado das personagens, o lado bom começa a vir ao de cima. E, assim, o que começa por parecer uma simples história caricata, com personagens cativantes, mas um tanto parvas, acaba por revelar o seu verdadeiro impacto na forma de uma viagem - pelo país, mas, acima de tudo, pela vida - em que cada um tenta fazer simplesmente o melhor que pode. Até porque, por vezes, é a única opção.
Toda a história é, em si mesma, uma viagem e o ritmo da narrativa contribui também para reforçar essa impressão. Mais que a viagem de Trev e Ben - mais os companheiros que vão surgindo - através do país, é a viagem interior que fazem aos assuntos inacabados do passado que os revela em toda a sua verdadeira força. E isto numa história que passa dos episódios bizarros aos simplesmente estranhos e, depois, a um percurso final em que o impacto emocional das coisas é completamente surpreendente e tudo culmina numa conclusão que, apesar das perguntas sem resposta, acaba por pôr fim à história precisamente no momento certo.
E a soma de tudo isto é um livro que, passada a estranheza inicial, facilmente se entranha na memória. Porquê? Porque, apesar de todas as suas peculiaridades, há na história - e nos sentimentos - destas personagens uma boa lembrança daquilo que nos torna humanos. Tentar. Falhar. E voltar a tentar. É essa, no fundo, a imagem que fica depois dessa leitura. E isso é mais do que suficiente para que valha a pena embarcar nesta aventura.
Título: Amizades Improváveis
Autor: Jonathan Evison
Origem: Recebido para crítica
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