quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Rainha Vermelha (Victoria Aveyard)

Mare Barrow sabe bem o que a espera, quando chegar aos dezoito anos. Tal como os outros Vermelhos sem emprego, será recrutada e partirá para a guerra, para uma guerra que parece perpetuar-se, sem fim à vista. Assim são as determinações dos Prateados, a elite que, com as suas aptidões e a superioridade da sua natureza, domina o reino. Para Mare, como para todos os Vermelhos, a única escolha é uma vida de trabalho e miséria - ou a morte. Mas tudo muda quando um desconhecido lhe arranja um trabalho na mansão real e - diante dos olhos de todas as grandes famílias de Prateados - Mare revela capacidades que não devia ter. Agora, o jogo é outro, mas a escolha é a mesma. Desempenhar o papel que a rainha lhe atribuiu - ou morrer. 
Um dos primeiros aspectos a cativar para esta leitura é o sistema que a autora constrói para a sua história, um mundo em que uma casta domina sobre a outra, e em que a resignação e a luta pela injustiça funcionam quase como que duas faces da mesma moeda. E, ao contar a história pela voz de Mare, Vermelha entre Prateados (ou algo mais), a autora retrata com precisão os dois lados da história, pondo em evidência todos os contrastes e realçando as injustiças mais flagrantes.
Esta é uma base muito boa para assentar o enredo. E também o enredo tem muito de interessante. Desde logo, a situação precária de Mare, com tudo o que tem de assimilar e as escolhas difíceis que a esperam, mas também a forma como o seu papel se vai definindo, tanto nas intrigas dos Prateados, como no cada vez mais relevante papel da Guarda Escarlate. Tudo isto num crescendo de intensidade que, de revelação em revelação, se vai tornando cada vez mais viciante, para culminar num final que, impressionante em todos os aspectos, deixa muita curiosidade em saber o que se seguirá.
Ainda um outro aspecto interessante é a construção dos dois lados do conflito, construção essa que em nada se assemelha a uma divisão entre bons e maus ou sequer entre a ordem estabelecida e os rebeldes. Há escolhas e acções, de ambos os lados, que põem em causa a justeza da causa, levando à questão de se os fins justificam os meios. E há figuras ambíguas, de lealdades divididas, que ora parecem ter o coração no sítio certo, ora parecem capazes de uma crueldade sem precedentes. Isto aplica-se, aliás, até aos protagonistas, fazendo com que nunca seja fácil prever o que se seguirá. 
E, depois, claro, há a questão emocional, com um elemento de romance a surgir, mas sem se sobrepor em demasia às restantes facetas do enredo, e todas as questões de confiança e traição que envolvem a relação entre as personagens. São estas, na verdade, as bases dos momentos mais intensos, e a razão por que, mesmo quando as personagens não são propriamente capazes de despertar empatia, é possível reconhecer nelas as suas melhores qualidades.
Somados todos estes aspectos, a impressão que fica é a de uma grande estreia, em que um sistema muitíssimo interessante serve de base a um enredo repleto de momentos intensos e em que as personagens, longe como estão das divisões claras entre o bem e o mal, se revelam, em toda a sua complexidade, tanto no pior como nas suas melhores características. Intenso, surpreendente e repleto de momentos marcantes, um livro muito bom.

Título: Rainha Vermelha
Autora: Victoria Aveyard
Origem: Recebido para crítica

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