Harry Jordan está dividido. Por um lado, o seu trabalho de detective é algo que o realiza por completo. Por outro, a namorada fartou-se de ver o trabalho aparecer em primeiro lugar nas prioridades dele e foi-se embora para Paris. E é por isso que Harry se vê na necessidade de ponderar sobre a sua vida. Para o fazer, retira-se por algum tempo para Evening Lake, onde espera pensar e tomar uma decisão rodeado de toda a calma de que precisa. Mas a calma não dura muito. Uma das casas mais próximas irrompe em chamas a meio da noite e tudo indica que não foi acidental. Agora, cabe a Harry investigar e descobrir o responsável. Mesmo que as pistas mais difíceis de ver sejam aquelas que estão mesmo à sua frente.
Centrado, em grande medida, num mistério, ainda que com laivos de romance a surgir ao longo do enredo, este é um livro que vive, em grande medida, da resposta que dá à mais óbvia das perguntas neste tipo de livro: quem é o assassino? E é, talvez, pela forma como este mistério é construído, que ficam sentimentos ambíguos sobre esta leitura, feita tanto de fragilidades óbvias como de momentos muito bons.
Comecemos pelas fragilidades. A história define-se essencialmente pelo mistério da explosão - e das outras mortes que lhe estão associadas - e pela forma como Harry Jordan lida com o caso. Ora, sendo o caso o cerne de toda a história, a impressão que fica é a de que as personagens apenas vão sendo desenvolvidas na medida em que a informação vai sendo necessária, o que faz com que nunca gerem verdadeira empatia. Além disso, ao tentar tornar o mistério o mais denso possível, criam-se umas quantas contradições evidentes, não só numa ou noutra situação incongruente, mas principalmente nos pontos de vista das personagens que, apesar de terem uma resposta bastante óbvia à frente, demoram bastante até lá chegar.
Ora, estes são os pontos fracos. Os fortes são o facto de, apesar destas fragilidades, continuar a sentir-se uma certa curiosidade em saber de que forma irá a autora resolver o mistério e também o facto de, apesar de a suposta grande revelação ser previsível, haver muitas pequenas coisas que não o são. E, se é verdade que os protagonistas não são do tipo que gera empatia, já algumas personagens secundárias - especialmente Diz - conseguem compensar muita dessa distância.
No fundo, o que acontece é que tudo se equilibra e que o que falta nalguns aspectos acaba por ser compensado por outros. E, assim, por cada coisa que não bate muito certo, há outra a surpreender e a cativar. Daí os sentimentos ambíguos, numa história que, longe de ser perfeita, acaba, ainda assim, por ser bastante interessante.
A impressão que fica é, portanto, ambígua. Mas, com uma intrigante aura de suspense, alguns momentos particularmente intensos e um final que, apesar da revelação previsível, consegue, ainda assim, surpreender noutros aspectos, acaba por ser, apesar de tudo, uma leitura envolvente e agradável. E interessante também.
Título: A Última a Saber
Autora: Elizabeth Adler
Origem: Recebido para crítica
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