Para realizar o sonho de Eo, Darrow tornou-se Dourado. Ultrapassou as grandes barreiras da sua natureza e conquistou um lugar de honra entre os poderosos. Pelo caminho, ficou parte daquilo que o definia, mas descobriu também novas forças e novas ligações. Agora, é tempo de dar o próximo passo no combate aos males da Sociedade. E a única forma de estilhaçar o equilíbrio dos Dourados é lançá-los da guerra civil. Darrow tem um plano e sabe que, para o concretizar, vai ter de pôr de lado muitos dos seus escrúpulos. Mas, se for bem sucedido, não será em vão. E, cercado por adversários temíveis, mas rodeado também de amigos em quem crê poder confiar, Darrow não está disposto a desistir até conseguir aquilo que o levou ao lugar que agora ocupa.
Se há algo de especialmente fascinante neste livro - em que tudo é fascinante - , é a forma como o autor conduz a história de surpresa em surpresa, numa teia incrivelmente complexa de intrigas e de traições, sem numa perder nem a intensidade emocional dos grandes momentos nem a linha que define a identidade das suas personagens. A intensidade, porque nunca nada é o que parece e a cada nova reviravolta, o autor consegue surpreender, impressionar e, nalguns casos, até partir o coração de quem está a seguir a história. E a identidade, porque, apesar de todas as escolhas difíceis, as personagens mais relevantes mantêm-se, em tudo o que verdadeiramente importa, fiéis à sua verdadeira natureza.
E é em Darrow que tudo isto é mais evidente. Darrow tornou-se Dourado e, para o fazer, teve de deixar para trás tudo o que conhecia e também alguns dos seus valores. Para conquistar a glória, ficou com as mãos manchadas de sangue por várias vezes. Mas é na forma como o autor constrói estes contrastes - entre o que se quer e o que é preciso fazer - que a verdadeira identidade de Darrow se manifesta. Nos dilemas, nas dúvidas, nas escolhas menos seguras, mas que são as correctas. Na forma como vive o sucesso, mas também os fracassos. Na própria voz que conta a história, mostrando tanto em palavras como em acções as emoções e pensamentos que movem o protagonista.
Mas, se Darrow é, de facto, a alma desta história, há ainda muito mais de fascinante para descobrir. O mundo, com a sua estranha e intrincada construção, assente, até certo ponto, nalgumas semelhanças com o império romano, mas em que a identidade própria é cada vez mais evidente. A intriga, cada vez mais complexa e, ainda assim, tecida a uma intensidade inacreditável, em que todos os pormenores importam, mas, mesmo assim, não custa nada assimilá-los. E a escrita, que dá ao seu protagonista uma voz praticamente perfeita, em que é possível reconhecê-lo em toda a sua complexidade, com tudo o que tem de bom e também com todas as suas fragilidades.
E tudo pode mudar a qualquer momento. Por várias vezes, o rumo da história parece definido. E então algo acontece, e a perspectiva muda por completo. Tudo é inesperado e, por isso, tudo é mais intenso. E a forma como tudo termina, essa, deixa a maior das expectativas para saber o que se segue e de que forma - tendo em conta os acontecimentos finais - poderá o sonho (ou o fracasso desse sonho) resolver-se.
Não há muito que se possa dizer, sem contar demasiado, capaz de fazer justiça a este livro. Por isso, ficam as características essenciais: uma história intensa, com uma intriga incrivelmente complexa, mas, mesmo assim, absolutamente viciante, e um protagonista que é, em todos os aspectos, tão fascinante como a história da qual é o centro. Perfeito, em suma. Simplesmente perfeito.
Título: O Filho Dourado
Autor: Pierce Brown
Origem: Recebido para crítica
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