quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Livros de sempre... para sempre

Ainda que este meu pequeno espaço seja relativamente jovem - completam-se em Janeiro dois anos de Leituras do Corvo - o facto é que já sou leitora compulsiva há mais tempo que aquele de que me lembro. E, à medida que os anos se sucedem, novos livros vão conquistando o seu lugar na memória. Alguns há, contudo, que, pela história, pelas personagens ou por aquilo que, na totalidade, representam, permanecem na memória, inabaláveis pela passagem do tempo. Estes são alguns dos meus, daqueles que, apesar dos muitos anos que passaram desde que os descobri, continuam a ocupar aquele lugar especial na memória... e no coração.

TRILOGIA A ÁRVORE DO CÉU (EDITH PARGETER)

Sinopse (do primeiro volume): Inglaterra, século XIII. Fugir à injustiça é o motivo que leva, Harry, filho segundo de um cavaleiro de Shropshire, e Adam, seu irmão de leite e filho de um servo, a refugiarem-se em Paris, onde estava a
ser construída Notre-Dame. Os dotes de escultor de Harry chamam a atenção de lorde Isambard que o contrata para construir uma igreja junto ao seu castelo em Parfois, na fronteira de Gales. O juramento então pronunciado liga irremediavelmente os dois homens e determina o destino de Harry. Após o regresso de Harry a Shropshire, magnífica a árvore de pedra vai subindo em direcção ao céu como uma flecha de luz, mas, a par dela, vão brotando as sombras que anunciam o ciúme, vinganças impiedosas… e a morte.
Bela e sórdida, esta história é também um hino ao amor e à amizade.

Porque ficou: Uma história intensa, cheia de acção e emoção, com um vilão fascinante, um protagonista admirável em todos os sentidos e uma poderosa mensagem de fidelidade perante as mais duras circunstâncias.

A ÚLTIMA CONFISSÃO (MORRIS WEST)

Sinopse:
Giordano Bruno, monge Dominicano e filósofo racionalista, foi queimado no Campo dei Fiori, em Roma, a 17 de Fevereiro de 1600. As convicções e os escritos de Bruno foram considerados heréticos pela Igreja Católica. Investigado e torturado pelo Santo Ofício da Inquisição, e encarcerado durante sete anos na pior prisão de Roma, Bruno teve oportunidade de se retractar, mas preferiu morrer por aquilo em que acreditava.
Agora, quatrocentos anos depois, Morris West traz-nos a história de Bruno. Não é uma crónica da sua vida nem uma defesa das opiniões que o levaram àquele fim, mas um mosaico de episódios, alusões e fragmentos de memória, reconstituídos sob a forma de um diário e de uma Última Confissão escritos no último mês da sua vida. É a recriação do verdadeiro homem sob a pele do académico. O homem polémico, libertino, brilhante. E a sua luta pela liberdade de pensamento e de expressão numa época onde a Igreja é a única detentora da verdade.
Este foi o último romance de Morris West. Ele morreu durante a fase final da sua escrita.

Porque ficou: Tendo por base uma figura fascinante, este é um livro que dá ao seu protagonista uma voz única, intensa e poderosa, que o representa no seu melhor e no seu mais humano e que apresenta uma visão claríssima e sem rodeios do que terão sido, para os que ousavam pensar de forma diferente, os tempos da Inquisição.

O CONHECIMENTO DOS ANJOS (JILL PATON WALSH)

Sinopse: Por alturas do século XV, a ordeira tranquilidade de uma ilha mediterrânica está prestes a ser estilhaçada pela chegada de dois estranhos: um, um náufrago, salvo do par por pescadores, e cujas crenças representam um desafio para a ordem estabelecida; o outro, uma criança, abandonada pela mãe e criada por lobos, que nada conhece da precária relação entre igreja e estado, mas cuja inocência se tornará na base de uma perigosa experiência.
Mas é a chegada da Inquisição à ilha que cria uma força obscura, ameaçadora, capaz de transformar o que parecia um jogo de xadrez filosófico numa questão de vida ou morte.

Porque ficou: Imaginativo, marcante em simultâneo pelos elementos de mistério e pela força da inocência ameaçada, com um protagonista cativante não só pela sua personalidade, mas pelo efeito que exerce sobre o seu antagonista.

Mais haveria seguramente a referir e muito mais haveria a dizer sobre cada um destes livros. Mas, por entre um mundo de surpresas e revelações intermináveis, o que mais marcou destas leituras já distantes foi a ligação emocional que ficou - que ainda permanece. E, às vezes, também é isso que importa.

1 comentário:

  1. Por acaso ainda não li "A Árvore do Céu", mas a Edith Pargeter também conta entre as minhas autoras favoritas. Poucos/as escritores/as conseguiram (e conseguem) dar uma visão tão exacta da Idade Média. Edith Pargeter alcançou fama mundial sobretudo com o pseudónimo Ellis Peters, a criadora do Irmão Cadfael, um monge do século XII, em Shrewsbury, especialista em solucionar crimes (e a maneira como o faz, baseando-se nos conhecimentos da época, é espectacular). Há uma série televisiva sobre ele, não sei se conhece (não sei se já passou em Portugal). Na Inglaterra, o "Brother Cadfael" é quase tão famoso como o Sherlock Holmes, o Poirot ou a Miss Marple. Visitando a abadia de Shrewsbury (onde o monge ficcional terá vivido) sente-se bem essa atmosfera.

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