segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Físico (Noah Gordon)

Esta é a história de Robert Jeremy Cole. Ante a morte dos pais, descobriu que tinha o dom de sentir a força vital das pessoas. Ao ser aceite como aprendiz de barbeiro-cirurgião, aprendeu a lidar com a doença e a morte. Descobriu também a sua vocação e, por isso, após longos anos de aprendizado e depois da morte do seu mestre, Rob decide dar início a uma longa viagem. O destino é a Pérsia. O objectivo: aprender com os melhores o conhecimento da medicina e, talvez, conhecer o Príncipe dos Físicos. Mas a aventura é longa e as dificuldades são muitas e a cada objectivo cumprido novas situações acabam por surgir no percurso do jovem aprendiz. Porque esta não é apenas a história de uma viagem. É a história de uma vocação e de uma vida.
Li este livro como participação em mais uma leitura conjunta do fórum Estante de Livros, e sem dúvida que foi uma obra muito bem escolhida. Preciso e detalhado na contextualização dos cenários e na apresentação da forma de vida da época histórica em que decorre a acção este é um livro onde há muito mais para apreciar que simplesmente a história do protagonista. E, se a história se inicia de uma forma bastante mais pessoal e apelativa à simpatia do leitor, apresentando Rob numa situação de perda e profunda dificuldade, à medida que a história se desenrola e que diferentes cenários e inúmeras personagens de maior ou menor relevância são apresentadas, a história já não é tanto a de Rob, mas a do mundo que ele percorre e daqueles com quem se cruza.
Num livro onde tudo é detalhadamente caracterizado e nada fica por explicar, impõe-se ainda assim o destaque a alguns aspectos. Primeiro, a questão das divergências religiosas, de importância crucial ao longo de todo o livro, não só nas diferentes leis de judeus, cristãos e muçulmanos, mas na própria atitude de desprezo que se manifesta entre diferentes fieis. Também os jogos de poder marcam uma importante presença em todo o enredo, desde as consequências por vezes fatais de uma amizade com os poderosos ao julgamento inevitável por parte das autoridades religiosas. Mas o mais intrigante, e também o mais explorado numa boa parte deste livro, é o conhecimento médico, não só nas divergências entre oriente e ocidente, mas no próprio interesse desenvolvido por diferentes físicos, na caracterização de um conhecimento muito mais vasto do que seria de imaginar para a época, e (como não podia deixar de ser) na interferência da religião na aprendizagem.
No meio de tudo isto, o protagonista acaba, por vezes, por representar um elemento onde se focam aspectos maiores, o que, aliado a uma atitude geral que não é a mais cativante quando comparada com personalidades profundamente admiráveis como a de Ibn Sina, resulta em que não seja com Rob que, a maior parte das vezes, o leitor estabelece laços de empatia. Esses laços, aliás, acabam por ser, de certa forma variáveis, uma vez que atitudes de várias personagens (Karim, por exemplo) acabam por afastar ou modificar o interesse que cada um pode representar.
Complexo e envolvente na vastidão de cenários e circunstâncias que caracterizam a época histórica em que decorre, O Físico reflecte, em toda a sua extensão, um forte conhecimento da época, aplicado a uma história intensa e pautada por vários momentos surpreendentes. Uma leitura agradável e muito, muito interessante, que me deixou com vontade de conhecer mais da obra deste autor.

1 comentário:

  1. Quando terminei este excelente livro de Noah Gordon fiquei com imensa vontade de ler os outros dois da trilogia! Mas ainda não os encontrei nas livrarias...

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