sexta-feira, 23 de julho de 2010

As Filhas do Assassino (Randy Susan Meyers)

Tudo mudou naquele dia em que o pai lhes bateu à porta, completamente descontrolado, e Lulu lhe abriu a porta. Como resultado, a mãe morreu e Merry, a mais nova das duas crianças, esteve algum tempo hospitalizada, ficando com cicatrizes que nunca desapareceriam. Mas, mais que as marcas físicas, a dor da perda e um longo percurso de dificuldades acabariam por deixar nas duas irmãs, tão diferentes apesar de marcadas pelo mesmo acontecimento, as marcas de uma história longa e difícil.
Cativante desde as primeiras linhas, este é um livro onde a essência está na dor e nas marcas do passado. Desde o momento em que o crime é cometido até à construção da vida independente de ambas as crianças, esta história é a de um percurso doloroso, de dúvidas e de incompreensão, de crueldade e de abandono inesperados e de como cada palavra e cada gesto podem marcar toda uma vida. A emoção é, portanto, uma presença constante, e é muito fácil sentir com Lulu e Merry, principalmente porque a história é contada pelas vozes de ambas.
Cenários dolorosos e situações de conflito servem de base para caracterizar a personalidade de cada uma das irmãs. Lulu, a mais velha, vive com a sombra de um certo sentimento de culpa e a necessidade de desde sempre compensar as fragilidades da irmã, aliada à vontade de construir uma vida estável longe do passado transformam-na na mulher bem sucedida, mas por vezes incapaz de compreender a posição dos outros, firme na opinião que criou do pai e, por isso, determinada a esquecer a sua existência. Merry, por outro lado, vive com as suas fragilidades e, de alguma forma, a ligação que manteve com o pai fez com que nunca crescesse por completo, vivendo uma existência instável. E a diferença entre ambas resulta numa relação por vezes conflituosa e até contraditória, na afirmação de que são tudo o que têm, enquanto se provocam e atacam mutuamente.
E é provavelmente esta oscilação de relações, nunca seguras, nunca inabaláveis, que torna esta história tão envolvente. É possível ver traços de realidade ao longo dos acontecimentos, já que ninguém nesta história é perfeito. Lulu é, por vezes, demasiado insensível. Merry tem laivos de irresponsabilidade. A própria mãe não é apresentada como uma vítima inocente e perfeita, reflectindo antes os seus pequenos defeitos e futilidades. O pai, por sua vez, não é o monstro assassino que Lulu idealiza, e mantém um interesse quase obsessivo em preservar o que resta da família. E os familiares mais afastados, com a sua repulsa e a sua falta de interesse, acabam por reflectir também situações demasiado reais.
Uma leitura envolvente, por vezes perturbadora, comovente nalguns momentos. Com uma escrita clara e competente na transmissão das situações e emoções, Randy Susan Meyers cria neste livro uma história intensa, feita de mágoa e de dor, mas também de vida e de resistência. Muito bom.

1 comentário:

  1. Olá
    vou ter de ler este, fiquei curiosa...
    passa pelo meu blog e dá uma espreitadela:
    http://otempoentreosmeuslivros.blogspot.com
    Boas leituras!

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