domingo, 4 de julho de 2010

O Castelo de Gormenghast (Mervyn Peake)

Agora com sete anos de idade, voltamos a encontrar o jovem Titus, septuagésimo sétimo conde de Gormenghast. Muitos morreram e outros ocuparam os lugares que ficaram vagos. Mas, neste mundo obscuro e decadente, preso a uma rotina exaustivamente ritualizada, o jovem lorde sente despertar a rebeldia que o transformará em mais que a figura central das cerimónias ancestrais.
De um livro tão complexo e descritivo como este, impõe-se que se diga em primeiro lugar que dificilmente será uma leitura fácil. A escrita é elaborada e utiliza um vocabulário vastíssimo. As descrições são longas e detalhadas, dando atenção até aos mais pequenos pormenores para criar uma imagem clara e abrangente do mundo que recebe a história. E o ritmo a que o enredo avança é lento, não só devido à vastidão das descrições mas também às peculiaridades das personagens, todas elas com os seus laivos de estranho e de surreal. Esta conjunção de elementos resulta num livro exigente, que requer ao leitor uma concentração constante e que, por isso, dificilmente será livro para ler num ambiente agitado ou para agradar a quem procura uma leitura compulsiva.
Não deixa por isso de ser um livro magnífico. Se a acção era reduzida no volume anterior, aqui há uma maior presença de momentos intensos e marcantes. Apesar de toda a sua estranheza, o ambiente soturno e decadente de Gormenghast é descrito de uma forma tão completa que deixa na mente do leitor uma clara imagem mental. E, para além da força dos vários momentos marcantes da história, há também uma força cativante no desenvolvimento e nas alterações sofridas pelas personagens.
Mudanças de atitude impressionantes foram as da condessa Gertrud, subitamente saída de uma apatia quase total e as do próprio Titus que, ainda que já fossem antecipadas por pequenos acontecimentos no livro anterior, apenas aqui atingem o seu total potencial de rebelião. Outros, contudo, permanecem iguais a si próprios, sem que por isso percam o interesse. Steerpike, em particular, mantém a sua faceta ambiciosa, manipuladora e sumamente detestável até ao ponto em que algum acontecimento imprevisto o obrigue a mudar o seu plano.
Um livro denso e exigente, que requer do leitor um certo esforço de concentração para que possa ser devidamente apreciado. Mas também uma obra complexa e com um cenário magnífico, que compensa amplamente o esforço necessário para entrar no seu mundo. Muito bom.

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