terça-feira, 6 de julho de 2010

O Pacto da Meia-Noite (David Whitley)

Tudo pode ser vendido em Agora. Objectos, serviços, emoções, vidas. E é assim que começa a história de Mark que, depois de ter sido vendido pelo pai, recupera da Peste Cinzenta na torre do conde Stelli. Será aí que conhecerá Lily, a aprendiz do médico, e um simples contrato de troca de lugares entre ambos alterará por completo os rumos das suas vidas. Porque eles ainda não o sabem, mas tanto Mark como Lily são especiais e estão destinados a alterar o rumo de Agora.
Com um ritmo envolvente e uma escrita simples e fluída, este livro apresenta um mundo onde é muito fácil entrar. Não há descrições excessivas e os cenários e objectos são apresentados à medida que vão sendo relevantes. Aqui, o importante são as personagens e a forma como a sua história se molda para transmitir uma mensagem.
Existe nesta história uma abordagem bastante interessante aos valores. Desde a amizade, forte e duradoura entre Lily e Mark, mesmo quando os actos deste parecem ser, quase na totalidade, censuráveis, à compaixão, demonstrada em pequenos momentos como os partilhados por Mark e Cherubina, dando uma importante relevância à caridade, manifesta na forma como o asilo de Lily abre as suas portas aos devedores, sem exigir nada em troca.
O que me leva ao sistema desenvolvido por este livro. Agora é, para os seus habitantes, tudo o que existe. Não há mundo exterior. E é uma cidade onde tudo assenta na venda de produtos e serviços, num mercantilismo extremo onde até vidas podem ser vendidas e a mentalidade de troca é levada ao ponto de um simples acto de benevolência ser visto como estranho e capaz de comprometer todo o funcionamento da cidade. Além disso, até as emoções podem ser removidas, colocadas em pequenos frasquinhos e vendidas, representando inclusive um vício para muitos dos habitantes de Agora.
É esta conjugação de elementos tão curiosos, com uma história viciante, onde o mistério se alia à emoção e à acção para criar um resultado extremamente envolvente, que torna este livro tão agradável, deixando no final a vontade irresistível de saber mais e de encontrar respostas aos enigmas que foram deixados no ar. Agradável, leve e descontraído, mas com uma história intrigante e uma grande mensagem, O Pacto da Meia-Noite foi um livro que me conquistou desde a primeira página. Muito bom.

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