quinta-feira, 28 de julho de 2011

Aquele Verão na Toscana (Domenica De Rosa)

Um castello na Toscana como cenário para um curso de escrita criativa: é esta a ideia que, todos os anos, Patricia O'Hara põe em prática, recebendo no ambiente idílico do seu castello uma série de hóspedes decidido a escrever o livro das suas vidas. Mas todos são diferentes e, mais que uma aprendizagem literária, os dias do curso serão para os vários escritores uma viagem de descoberta sobre as suas próprias vidas.
É curioso notar como, ainda antes de revelar por completo quem são as suas personagens, a escrita directa e algo emotiva da autora torna este romance numa leitura envolvente. Na verdade, nem são as personagens o que mais cativa, mas a forma como as diferentes histórias se cruzam, num enredo cativante e cheio de surpresas.
Das personagens, o que se destaca são os traços de carácter muitíssimo vincados, quase caricaturais, criando constrastes pela forma como diferentes temperamentos e formas de vida se cruzam e chocam quando reunidos num mesmo espaço. Jeremy Bullen, o tutor, mostra-se essencialmente detestável, com a sua atitude arrogante e a obsessão em seduzir uma das alunas. Por outro lado, Aldo, o cozinheiro, marca pela sua personalidade expansiva e extrovertida. Cat vive centrada em si própria e tudo o que faz é em função da sua alegada perfeição. Já Anna é tímida e insegura, mas encontra satisfação no seu mundo pessoal. Dorothy conta memórias de uma infância de abusos como se fosse o enredo de uma obra de ficção, enquanto Patricia esconde até de si mesma o peso das suas memórias. E este contraste é também evidente nas restantes personagens. O resultado é que, se nenhum deles é assim tão impressionante por si só, as relações e cruzamentos entre as suas histórias fazem da leitura algo de cativante e agradável.
Não é difícil prever a conclusão de algumas das relações que nascem ou ressurgem ao longo da narrativa. Afinal, o ambiente perfeito propicia ao romance e uma certa medida de felicidade é algo de expectável neste género de livro. Ainda assim, há diversas surpresas a surgir ao longo do percurso e o final positivo não deixa de ser, de certa forma, reconfortante.
Feito de personagens algo complicadas (ainda que não particularmente propícias à empatia), este é um livro que cativa principalmente pelo enredo envolvente e pelas relações de contraste. Não é uma história completamente inesperada, mas não deixa de ser uma leitura agradável.

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