quarta-feira, 6 de julho de 2011

O Mercador Português (David Liss)

Alguns instantes podem marcar a diferença entre o lucro e a ruína. E Miguel sabe isso muito bem. Tendo partido de Lisboa para fugir à Inquisição, encontrou em Amesterdão tanto a prosperidade como a ruína e agora vive da caridade de um irmão com quem tem uma relação conturbada. Mas tudo pode mudar e a proposta de uma mulher que lhe apresenta uma possibilidade inovadora de negócio levam Miguel a sonhar com a recuperação do lucro e da reputação que perdeu. O problema é que o presente também conta para alcançar o futuro e Miguel tem inimigos poderosos dispostos a causar a sua ruína definitiva.
Lendo as primeiras páginas deste livro, o primeiro impacto é uma mistura de curiosidade e de estranheza. Estranheza por encontrar um cenário de certa forma similar aos mercados financeiros em pleno século XVII, bem como pelo primeiro contacto com os múltiplos factores que influenciam este tipo de negócio. Curiosidade porque, apesar de um ritmo que é, ao longo da narrativa, bastante pausado, os seus protagonistas criam mistério e empatia. Esta empatia é particularmente evidente em Miguel, tanto pela sua situação financeira complicada, como pela sua posição perante a sua família e o seu povo.
O elemento fundamental deste livro é a intriga. Para concretizar os seus planos, Miguel tem de interagir com diferentes figuras, e a verdade é que nenhuma delas parece ser particularmente fiável. Geertruid, a sua parceira de negócio, tem demasiados mistérios e métodos pouco ortodoxos. Parido é o inimigo de longa data que subitamente se torna amigável. Quanto a Daniel, o irmão, a sua postura é, resumidamente, detestável. E, entre tudo isto, são as figuras mais hostis que se revelam amigáveis e as mais prestáveis que se transformam no adversário.
É, por vezes, confuso acompanhar todos os elementos da rede de conspirações que, neste livro, se cria em volta de todo o negócio do café. Ainda assim, estes são elementos necessários para a compreensão total de uma história que culmina de forma completamente surpreendente, não pela possibilidade da vitória (por muitas vezes insinuada e desejada), mas pela revelação de quem verdadeiramente causou as grandes dificuldades e de que consequências tiveram esses actos.
Uma leitura cativante, com uma caracterização cuidada de época, cenário e personagens e que, a um ritmo lento, mas agradável, apresenta uma história de intrigas e fidelidades, onde até a maior vitória se pode revelar amarga, ante as suas inevitáveis consequências. Muito bom.

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